- «Vários secretários regionais explicaram-me: "Desde que toquem na Secretaria, temos ordens para levar a tribunal."
- A ideia era travar a informação por via do processo judicial. Uma estratégia como qualquer outra. Sabe-se o que é política. O que custava entender era o papel dos tribunais, a darem andamento, com as descomunais perdas de tempo e dinheiro, a processos políticos de mero interesse partidário.» (ver Fénix do Atlântico)Coelho começa a pagar200 euros/mês a LM Sousa
Este número do 'Garajau' de 2010 rende
ainda hoje uma bonita pensão. Deus sabe
quem precisa.No cumprimento de uma decisão judicial, José Manuel Coelho começa a pagar neste Maio uma indemnização a Luís Miguel de Sousa, verba que, contando com despesas inerentes, ascende aos 209,99 € por mês.O montante é deduzido da pensão paga pela Segurança Social ao dirigente do PTP, a rondar os 800 €. O donativo forçado continuará até atingir o valor total de 6.506,58 €. São 5.000 € para Luís Miguel e o resto para despesas. Com uma particularidade: nos meses em que há subsídio, a verba segue toda para abatimento da pena determinada pela condenação. O que não dá grande jeito ao benfeitor forçado, especialmente na época de Natal.José Manuel Coelho está a pagar a indemnização que o Tribunal achou ser devida ao conhecido empresário de portos e transportes marítimos pelos danos não patrimoniais alegadamente causados por dois artigos do 'Garajau' em 2010, altura em que Coelho era director do jornal satírico em causa.Um desses artigos, noticiando que o 'Onassis da Mamadeira" fora muito bem recebido nos Açores, avisava Carlos César: cuidado com "esta gente". A outra peça, intitulada "Os dentes da Moreira", com alusões à empresa Açorline, também alertava o então presidente açoriano: "Olho neles!"Em suma, o 'Garajau' dava conselhos a César perante as estratégias do grupo económico que era "monopólio" na Madeira. Tudo numa linguagem acutilante, porém claramente marcada pelo "humor" - o "humor cruel" que a equipa do mensário escolheu para marca do seu projecto editorial.As acções judiciais deram entrada nos tribunais. De resto, isso era uma prática rotineira na Madeira dessa época, posta em moda pelo governo regional. Todos os dias, era uma caterva de comunicados a "desmentir" as notícias do DN-Madeira e dos correspondentes do Público e do DN-Lisboa. Muitos dos comunicados avisando já que 'incluso' havia já processo a dar entrada na comarca.Processos porque sim.Vários secretários regionais explicaram-me: "Desde que toquem na Secretaria, temos ordens para levar a tribunal."A ideia era travar a informação por via do processo judicial. Uma estratégia como qualquer outra. Sabe-se o que é política. O que custava entender era o papel dos tribunais, a darem andamento, com as descomunais perdas de tempo e dinheiro, a processos políticos de mero interesse partidário.No DN, o consultor jurídico, Dr. Custódio Tavares, não tinha mãos a medir.Alguns jornalistas e os directores que por lá passaram nas mais de duas décadas de Madeira Nova ficaram a conhecer corredores de tribunal e salas de audiências como os seus dedos.E as coisas engraçadas à boleia da moda criada! Um membro de uma junta de freguesia no Funchal ameaçou avançar com um processo caso não fosse publicado na íntegra um discurso qualquer que o indivíduo fez lá na terreola. O presidente de um clube desportivo sem a menor expressão avisou que só por amizade não metia o DN em tribunal por causa do reduzido destaque a um jogo da sua equipa contra o Trinca-na-Pera F.C. Até o meu amigo e antigo colega Castro me ameaçou publicamente processar por causa de um escrito humorístico sobre qualquer coisa do Posto Avançado da Democracia, nos tempos do areal. E aquela do arquitecto que obrou aquele prédio tipo penitenciária em S. Martinho: também ameaçou meter advogados quando de um concurso bem humorado nas páginas do Diário para eleger o melhor mamarracho do Funchal. Ele ganhou e ainda reclamou!Não admirou portanto que Luís Miguel de Sousa recorresse mais uma vez à Justiça contra Coelho. O chefe do Grupo Sousa tinha adoptado a estratégia de travar os artigos incómodos chateando os jornalistas com processos em cima de processos. Contra o DN foram às dezenas e dezenas.No processo que condenou Coelho a este "donativo" de 200 euros mensais, apresenta-se Luís Miguel como personalidade conhecida pela maioria dos cidadãos da Madeira, quer pela sua actividade económica, nomeadamente ao nível da área portuária, quer pela sua participação em diversas instituições culturais e desportivas da ilha - prestígio que ninguém lhe nega sem esquecermos, desculpem a vaidade clubista, que ele é o Presidente da Assembleia Geral do Glorioso Marítimo. Reconhece-se esse destaque a Luís Miguel. Mas depois alega-se que o réu José Manuel Coelho pretendeu visar, com a publicação das notícias, a reputação do autor da queixa, junto das pessoas das suas relações sociais e entre profissionais do meio... e conseguiu!Conseguiu?! Como é que alguém, com humor ou a sério, conseguiria influenciar negativamente pessoas das relações pessoais e profissionais de uma pessoa prestigiada, como é o caso?Oh diabo! (espero não ir bater a tribunal por causa desta interjeição)Não me parece que os dois artigos, mesmo que a puxar à 'sacanagem', provocassem tantos males nos projectos de Luís Miguel, apesar de haver um banco que por causa do Garajau ainda fez perguntas ao nosso empresário do mar - logo um banco, imaginem. A verdade é que o teor dos escritos não impediu que o Grupo Sousa continuasse a crescer por aí acima, influenciando as linhas marítimas e as operações portuárias e saindo por aí além de espada em riste à conquista do Porto de Lisboa, não me admirando nada que um dia chegue a mostrar o que vale no impressionante porto de Roterdão. Ou no gigante Xangai. O primo já anda por aqueles lados a ensinar como é que se negoceia no ramo cervejeiro.Uma das razões aceites pelo tribunal para punir Coelho: Luís Miguel ficou "agastado e revoltado" com os artigos. Olha lá se o empresário também tivesse ido aos "arames", ficado "lixado da cabeça" e "para o diabo o levar", "pior que estragado", "passado" e "possesso"! Não haveria dinheiro para a indemnização.Então, 200 euros por mês. Para aprender. Uma dentada vingadora numa mísera pensão de 800 euros. Mas nem é esse dinheiro nem outro qualquer que garante o "bom nome" a quem quer que seja. O estratagema marcou a época louca da Madeira Nova, por razões políticas, mas caiu em desuso. Logo agora, que Luís Miguel de Sousa não precisa de dar trabalho aos seus advogados para calar a imprensa. Muito pelo contrário. A Luís Miguel até deve aborrecer tanta lambuzadela na imprensa e na televisão.200 euros por mês! Tenham vergonha. Depois do que já se apagou na poeira do tempo, deixem a história avançar. Pelo menos não começassem a fazer cobrar a pensão-extra logo no mês em que se comemora o Dia Internacional da Liberdade de Imprensa. Ah, peço desculpa. A Tabanca ainda não atingiu o estatuto de "internacional", continuamos na imprensa do chumbo.Nota - Não percam o sentido de humor. O País não pára de nos fornecer diariamente material para andarmos bem dispostos, como se pode ver em várias publicações distribuídas hoje. Comparem 2010 com os dias de hoje. E riam à vontade, até porque já é fim-de-semana.
terça-feira, 21 de dezembro de 2021
Luís Calisto no seu blog denunciou em 2019: «A ideia era travar a informação por via do processo judicial» referia-se ao governo do PSD e o DDT O «Onassis» de Sousa
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Um bom exemplo de um texto que não ofende, desmascara e foge às confusões da justiça. Tudo isto de uma forma clara e descontraída. Não é fácil mas o Luís Calisto fazía-o com mestria.
ResponderEliminarÉ uma perda enorme para o jornalismo descomprometido!