Francisco André Álvares de Nóbrega que também foi conhecido pelo Camões Pequeno, segundo alguns autores teria nascido no sítio da Torre, em Machico; tendo passado a infância na casa dos progenitores localizada naquele concelho, na Banda D’Além, mais precisamente na Rua dos Moinhos, onde também consta que teria nascido, a 30 de Novembro de 1773, aliás como vem claramente expresso no seu Registo de Baptismo.
Era filho do 2º casamento de Domingos de Nóbrega Barreto, O Furão, que nascera no Funchal, na freguesia de Santa Maria Maior do Calhau, e de Dª Ana Rita de Sampaio, natural de Machico; onde casaram em 15 de Fevereiro de 1773.
Segundo informa a distinta investigadora Ivone Correia Alves no ensaio Para Uma Biografia de Francisco André Álvares de Nóbrega, o padrinho do nosso poeta «foi o Dr. João José Espinosa Martel (1746-1812), bacharel em Cânones, formado pela Universidade de Coimbra, professor de Gramática Latina no Funchal, mas natural e com residência principal em Machico»; casado com Dª Ana Martins Perestrelo da Câmara, herdeira do vínculo do Caramanchão de Machico e de outros bens; facto que nos leva a presumir, com segurança, que os pais do escritor seriam pessoas consideradas e estavam bem relacionados.
Na verdade, o progenitor do nosso poeta era sapateiro e exercia a função de Contestável da Fortaleza de São João Baptista, cargo meramente representativo, mas de muita importância, pois competia-lhe vigiar e dar aviso com fachos ou búzios, sempre que assomassem à costa armadas de corsários; acontecimento que naquela época era frequente e muito perigoso para as populações e os seus haveres.
Podemos assim dizer que embora não fosse filho da classe dominante, o escritor pertencia à camada média machiquense, e por consequência, viveu uma juventude normal e sem grandes privações materiais, na vila de Machico, onde circundado por uma deslumbrante paisagem, teria sido feliz, em pobre, sim, mas paternal morada, bem abrigado por gente simples, respeitada e trabalhadora, e espairecendo junto ao mar azul da mais bela baía da ilha, como, aliás, deixou bem assinalado num precioso soneto:
Que levantam aos Céus fronte orgulhosa,
Existe de Machim a Vila idosa,
Povoada de escassos arvoredos.
Pelo meio, alisando alvos penedos,
Desce extensa Ribeira preguiçosa:
Porém tão crespa na estação chuvosa,
Que aos Íncolas infunde respeito e medos.
Às margens dela em hora atenuada,
Vi a primeira luz do sol sereno.
Em pobre, sim, mas paternal morada.
Aos trabalhos me afiz desde pequeno,
O abrigo deixei da Pátria amada,
E vim ser infeliz noutro terreno.
Depois de aprender as primeiras letras em Machico, seu pai permitiu que viesse para o Funchal, com apenas com nove anos de idade, para se empregar na loja de fazendas do abastado comerciante Marco João de Ornelas, que foi descobrindo que o seu jovem protegido, além de desfrutar de muita sensibilidade e criatividade, possuía grande talento para escrever e poetar, e talvez por isso, em Janeiro de 1793, quando Francisco Álvares de Nóbrega teria cerca de 20 anos de idade, propiciou-lhe a possibilidade de matricular-se no Real Seminário de São João Evangelista, que então era dirigido pelos jesuítas.
De facto, apesar do nosso poeta ter escrito que o seu patrão lhe tinha ministrado ensinamentos e instrução, tudo nos indica que antes de encetar estudos mais avançados, aprendera a ler, a escrever e a contar em Machico; e só depois, o seu protector proporcionou-lhe outros conhecimentos e saberes, atenção que Francisco Álvares de Nóbrega sempre enalteceu com gratidão.
Crimes de que era acusado pelo tribunal do Santo Ofício o vate machiquense Francisco Álvares de Nóbrega:
Todavia, essa distinta historiadora (Ivone Correia Alves) acrescenta que encontrou nos Arquivos da Torre do Tombo, datado de 1798, um Sumário contra Francisco Alvares, por apelido Camoens, morador na cidade do Funchal ilha da Madeira. Porém, as razões dessa sindicância, de 9 de Outubro de 1798, não são as mesmas que o registo do Seminário invocou. Referem-se sim, a uma denúncia à Mesa do Santo Ofício, no Funchal, apresentada por Tomás Ferreira Saldanha, proferindo que ouviu dizer a José de Menezes, Sargento do Terço dos Auxiliares, que Francisco Álvares, Colegial que fora no Colégio de S. João Evangelista (…) proferira preposições ímpias, heréticas, tais como que não havia Eternidade (negando a imortalidade da alma); Nª Sª não fora Virgem porque era impossível que hua molher parice e ficasse virgem; negando ainda a Existencia do S.mo Corpo de Christo na Ostia Consagrada.
O bispo D. José da Costa Torres, foi o causador da prisão do poeta de Machico . Foi acusado pelo bispo de escrever sonetos heréticos e de pertencer à maçonaria.O Intendente Diogo Inácio Pina Manique, perseguidor do poeta madeirense.
Naquele tempo Machico era só poetas.
ResponderEliminarAgora é só engenheiros. Gilinho/Coelho está na hora de irem viver para Machico porque precisam de poetas.