A expectacular fuga dos criminosos "Cavaco" em 1986 da prisão de Pinheiro da Cruz

Faustino e Vítor ( à esquerda) não eram familiares. Partilhavam apenas o apelido Cavaco. Foram condenados pela morte de três guardas

A maior fuga de sempre envolveu 124 presos e um túnel de 35 metros

A última evasão prisional, de dois reclusos de Leiria, parece uma brincadeira quando comparada com a maior fuga coletiva, de 124 presos, de Vale de Judeus, em 1978, ou a dos Cavacos de Pinheiro da Cruz, em 1986

O que tem escavar um buraco na parede? Pega- se numa pá e escava- se, qualquer um pode fazê- lo. O cenário complica- se se nos virmos confinados a uma cela minúscula, sem saber a distância que há para a liberdade para lá das paredes e sem acesso fácil a uma simples pá. Dois jovens reclusos da prisão escola de Leiria ressuscitaram há uma semana o clássico método do buraco escavado na parede da cela. Conseguiram sair da prisão, mas falharam o objetivo final, pois foram recapturados.Mas esta última fuga, protagonizada por rapazes imitadores dos velhos escapistas, envolveu pouco engenho, quando comparada com aquela que continua a ser a maior fuga coletiva de sempre, em Portugal, quando 124 reclusos da cadeia de Vale de Judeus, em Alcoentre, no dia 17 de julho de 1978, escaparam à prisão através de um túnel de 35 metros e de 80 centímetros de diâmetro.

Ao longo de 26 dias, 14 presos escavaram o impressionante túnel em Vale de Judeus com recurso a pás e enxadas roubadas das obras na prisão. O longo corredor para a liberdade foi iluminado com fios elétricos extraídos do altifalante da cadeia e com lâmpadas retiradas das celas.

Oito anos depois de Vale de Judeus, aconteceu a evasão de presos mais violenta até à atualidade: a fuga dos Cavacos da penitenciária de Pinheiro da Cruz, no Alentejo, a 28 de julho de 1986. O rasto deixado pelos criminosos Faustino e Vítor Cavaco no caminho para o exterior foi de três guardas prisionais assassinados, dois guardas feridos e quatro sequestrados.

A evasão de Pinheiro da Cruz criou também um mito. Faustino e Vítor Cavaco “passaram a ser conhecidos na imprensa como os irmãos Cavaco sem serem sequer familiares”, como explicou ao DN Marques Pinto, que foi o primeiro diretor nomeado da cadeia de Pinheiro da Cruz nove meses depois da fuga. “Eram algarvios e partilhavam apenas o apelido Cavaco, que é muito comum no Algarve.” Eram, aliás, “dois homens fisicamente muito diferentes” mas ambos de temperamento violento: à data da fuga, Faustino cumpria uma pena de 19 anos e meio pelo homicídio de dois soldados da Guarda Fiscal; Vítor cumpria pena de 16 anos por assaltos e homicídios. A eles juntaram- se na evasão outros quatro presos condenados por assaltos à mão armada e homicídios. Uma consequência da fuga dos Cavaco é que Marques Pinto foi obrigado a “mudar por completo o sistema de segurança da prisão”. “Mandei colocar uma rede metálica a 50 metros dos muros da prisão e com arame farpado em cima e debaixo de cada torre colocou- se um canil de pastores alemães que ser viam de alarme para os guardas.”

Cunhal e o forte de Peniche

A fuga de Álvaro Cunhal, ex- líder do Partido Comunista Português e preso político do Estado Novo, do Forte de Peniche também está na história das grandes evasões em Portugal. Na noite de 3 de janeiro de 1960, dez presos políticos, dirigentes do PCP, entre os quais Álvaro Cunhal, fogem do Forte de Peniche, a prisão mais vigiada do regime de Salazar. O carcereiro foi anestesiado e, com a ajuda do guarda prisional Jorge Alves, os presos chegaram ao piso superior, de onde desceram por uma árvore. Daí correram para a muralha e desceram por uma corda feita de lençóis para o exterior.

1427 evadidos em 23 anos

Desde 1991 até ao dia 4 de novembro deste ano, ou seja, em 23 anos, a Direção- Geral de Reinserção e Serviços Prisionais registou um total de 1427 evadidos das prisões. Nos últimos dez anos, houve 250 presos que fugiram, quase todos recapturados, à exceção de 16 que continuam evadidos, dois deles de nacionalidade estrangeira. 1998 e 1999 foram os anos com maior número de evadidos: cada ano com 131 presos que escaparam. Em 1998, a população prisional era de 14354 presos, o que deu uma média de 9,1 evadidos por mil reclusos; em 1999, a população prisional era de 13 351 presos, o que elevou a média para 9,8 evadidos por cada mil reclusos.

As evasões têm vindo a descer significativamente na última década: de 58 presos foragidos em 2004 para apenas nove em 2013. Neste ano e até ao dia 4 de novembro, estão registados oito evadidos, todos recapturados. Os reclusos que ousam passar os muros das cadeias cometem uma infração disciplinar grave, a que normalmente acresce a pena de prisão pela evasão que vai até dois anos. O tempo de fuga não conta para o cumprimento da pena (Fonte DN/Lisboa)

 Dois serial killers mexicanos

Nada indica, até agora, que José Luis Abarca Vélazquez, o autarca da localidade mexicana de Iguala onde 43 estudantes desapareceram sem deixar rasto há mais de um mês, e a sua mulher María de los Ángeles Pineda Villa, que foi detida com ele no início da semana, tenham dado com a língua nos dentes e confessado o que sabem sobre o caso que mantém o México em choque e em suspenso – apesar da esperança manifestada pelo próprio Presidente do país, Enrique Peña Nieto, de que com a sua prisão fosse finalmente deslindado o mistério sobre o destino dos jovens.  (Público)