No passado dia 26 de Setembro, após uma manifestação contra o modelo de contratação de professores, 57 estudantes de ensino da Escola Rural de Ayotzinapa, em Iguala, no México, foram atacados pelas forças policiais em parceria com um grupo narcotraficante local, os Guerreros Unidos. O ataque ceifou a vida de seis estudantes. Outros catorze conseguiram escapar. Aos restantes 43 esperava um destino mais sombrio que está a indignar a pátria de Emiliano Zapata e a pôr em causa o sistema político vigente. Um mês volvido sobre o desaparecimento desses 43 estudantes no Estado de Guerrero, o drama não parece ter fim à vista.Com a simples exigência popular «Vivos os levaram, vivos os queremos», milhares de pessoas têm inundado as ruas mexicanas do Iucatão à Sonora, enquanto que do Estado chega apenas a mentira e o silêncio, alternados pelo insulto e pela repressão. À medida que se sucedem as descobertas de valas comuns, preenchidas com corpos mutilados e carbonizados, vai caindo a cortina que ocultava a profunda simbiose entre o Estado, o poder económico e o narcotráfico: primeiro com a fuga do presidente da Câmara Municipal de Iguala, depois com a demissão do governador do Estado de Guerrero no passado dia 24, vai-se tornando claro que os criminosos agiam comandados por poderosos interesses políticos e económicos. E no entanto as manifestações de massas não esvaziaram as ruas, nem mesmo depois da captura do chefe dos Guerreros Unidos, da promessa de reformas políticas pelos partidos guardiões da ordem estabelecida nem de o presidente do México Enrique Peña Nieto ter jurado que não dormirá enquanto não se fizer justiça. Mais do que justamente desconfiados do governo, os manifestantes vêm demonstrando que a violência estrutural que já matou mais de 100 000 pessoas desde 2007 carece de uma solução não menos estrutural: exige mudanças profundas no poder político e na economia.
Liberdade económica
Vinte anos depois da assinatura do Tratado de Livre Comércio com os EUA e o Canadá, metade da população mexicana vive na miséria. Com a transferência da indústria automóvel de Detroit para os baixos salários de Hermosillo, veio também a dependência dos EUA, que quintuplicaram as exportações para o vizinho do Sul e ganharam livre acesso aos seus mercados e recursos naturais. Com o livre comércio, os EUA passaram a ditar o que o México produz, o que compra e a quanto o compra, causando premeditadamente um ciclo vertiginoso de produção de droga, inflação e desemprego que se arrasta até aos nossos dias.
Na sequência da presente crise estrutural do capitalismo, o México tem atravessado um processo de reajustamento económico destinado a compensar os prejuízos do capital e a redução das suas taxas de lucro sacrificando direitos básicos dos trabalhadores e reduzindo os seus salários. Porque esse processo não pode ser concluído por meios exclusivamente pacíficos, o grande capital mexicano tem-se servido de tácticas mafiosas, do para-militarismo e do narcotráfico para aplacar a resistência e silenciar os trabalhadores.
Sobre o que se está a passar no México, a comunicação social da classe dominante só nos traz silêncio. Exactamente por ser pouco provável que venhamos a ver Michelle Obama ou qualquer dirigente do PS a segurar um cartaz com o slogan Bring back our students, a nossa solidariedade é indispensável. Dela dependerá também o futuro daquele país norte-americano, que um dia terá de escolher entre socialismo e barbárie. Vivos os levaram, vivos os queremos! (fonte)
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