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«Sozinho numa cela, sem visibilidade para o exterior, sem nada para fazer,sem ninguém para conversar, sem nada para ler, sem nada para escrever,sem horas, sem dias, atravessando as intermináveis horas dos dias e dasnoites, o preso no “isolamento” é verdadeiramente um homem só. Semtempo e sem espaço, retirado da vida. Como se tivesse sido metido numburaco, e o mundo continuasse a rodar, passando-lhe por cima ou ao lado.Antes entre inimigos.» (veja AQUI o que vários portugueses sofreram para que Portugal recuperasse a sua liberdade)
Primeiros anos
Nascido em Beja a 13 de Janeiro de 1915, Pedro Soares era oriundo de uma família de fortes sentimentos democráticos e antifascistas, o que foi determinante para cimentar as suas convicções. Com apenas 16 anos, era já colaborador de vários jornais publicados em Beja, escrevendo ainda no República, à data um dos principais jornais legais de orientação democrática.
À mudança para Lisboa, em 1932, para aí prosseguir os estudos liceais, seguiu-se o início da actividade revolucionária: nesse mesmo ano, adere aos Grupos de Defesa Académica, criados por iniciativa da Federação das Juventudes Comunistas Portuguesas (FJCP) e pelo Partido, que reuniam estudantes antifascistas. A adesão à FJCP dá-se no ano seguinte.
Nesses anos de chumbo, resistir ao fascismo significava, com grande probabilidade, cair nas garras da polícia política; foi o que sucedeu a Pedro Soares em Março de 1934, quando participava numa manifestação de estudantes contra a Acção Escolar Vanguarda, predecessora da Mocidade Portuguesa. Esta primeira prisão durou apenas cinco dias, os primeiros de milhares.
No final desse mesmo ano, pela actividade revolucionária que então desenvolvia junto dos trabalhadores da região de Beja, é novamente preso. É na sequência desta segunda prisão que é enviado para o Tarrafal, de onde sai em Julho de 1940, abrangido por uma amnistia. Regressado a Lisboa, decide retomar e concluir o curso na Faculdade de Letras. Mas faz mais do que isso…
...Reorganização e prisões
Pedro Soares não foi o único comunista libertado no período de 1940/41. Do Tarrafal e de outras cadeias saem militantes como Álvaro Cunhal, Militão Ribeiro, Sérgio Vilarigues, Pires Jorge, José Gregório, Manuel Guedes, Júlio Fogaça e Américo de Sousa, que constituíram o núcleo central da reorganização do PCP levada a cabo nos primeiros anos da década de 40. Anos em que, é bom não esquecer, o fascismo parecia triunfante, em Portugal como em grande parte do continente europeu, e o Partido se encontrava praticamente desmantelado, fruto de golpes policiais sucessivos e da não aplicação de regras conspirativas fundamentais pelos dirigentes de então.
Pouco tempo se passou até que o PCP se reerguesse mais forte do que nunca, em resultado de uma justa orientação política e da adopção de medidas orgânicas e conspirativas adaptadas às condições da luta clandestina: a organização partidária estende-se a praticamente todo o território nacional; retoma-se a publicação do Avante! E de O Militante; alarga-se a influência junto da classe operária; o Partido ganha autoridade junto das outras tendências antifascistas.
Depois de, em finais de 1941, ser um dos dirigentes da luta dos estudantes universitários de Lisboa contra o brutal aumento de propinas, Pedro Soares é novamente preso, em Agosto do ano seguinte, acusado de participar na reorganização do Partido em Beja. Na sequência de uma tentativa de fuga da prisão de Caxias, é enviado pela segunda vez para o Tarrafal, em Junho de 1943, e libertado em Fevereiro de 1946.
Clandestinidade, prisões e fugas
Em 1947, acompanhado pela mulher, Maria Luísa Costa Dias, é destacado pelo Partido para Moçambique, onde fica durante três anos. Aí impulsiona a organização do Partido, estabelece relações com patriotas moçambicanos, organiza reuniões com democratas e elabora panfletos sobre a independência de Moçambique.
Quando regressa a Portugal, em 1950, passa à clandestinidade. Três anos depois, é chamado ao Comité Central, onde permanece até à sua morte. Entre as tarefas que assume, contam-se as responsabilidades pelo trabalho do Partido nos distritos de Aveiro, Coimbra e Viseu e, por um determinado período, pela redacção do Avante!.
Em Abril de 1954, é uma vez mais preso. Depois de passar por Aljube e Caxias, é transferido em Agosto para as celas da PIDE no Porto. É daqui que se evade em Outubro do mesmo ano, juntamente com Joaquim Gomes: depois de abrirem um buraco no tecto da cela, chegam ao telhado (através de uma claraboia), de onde saltam para um quintal e daí escapam.
Em 1958, no Porto, Pedro Soares é novamente capturado pela PIDE. Enviado para Peniche, está entre os dez dirigentes e militantes comunistas que protagonizam a heróica fuga de 3 de Janeiro de 1960. Foi ele que, ao descer pelo muro, sofreu uma contusão no joelho, que o atormentou pela vida fora.
Depois da fuga, desenvolveu inúmeras tarefas partidárias: assume um papel destacado na criação e funcionamento da Rádio Portugal Livre, da qual foi o primeiro director, entre 1962 e meados do ano seguinte; participa na preparação e nos trabalhos do VI Congresso do Partido, realizado em 1965; representa o PCP na Frente Patriótica de Libertação Nacional, lutando incansavelmente pela unidade do movimento antifascista e pela sua ligação ao movimento popular de massas. O 25 de Abril apanha-o em Itália, no desempenho de importantes tarefas partidárias.
Curta mas intensa participação na revolução
Regressado a Portugal pouco depois da Revolução de Abril, Pedro Soares vive intensamente, ao longo de pouco mais de um ano, o período revolucionário, participando em momentos cruciais da vida do PCP e do País: desempenha funções na redacção do Avante! legal e colabora com a Seara Nova; participa em comícios e sessões de esclarecimento e desenvolve uma intensa actividade em prol da unidade dos democratas; está na mesa do VII Congresso (Extraordinário) do PCP, realizado em Outubro de 1974; integra a delegação do PCP que entrega em tribunal o processo de legalização do Partido; encabeça a lista do PCP à Assembleia Constituinte pelo distrito de Santarém, tendo sido eleito deputado.
No dia 10 de Maio de 1975, quando regressava de uma reunião partidária em Benavente, morre num grave acidente de viação, que vitima também a sua companheira de sempre, Maria Luísa Costa Dias. No funeral dos dois camaradas, realizado no dia 13, Álvaro Cunhal afirma: «feliz o Partido que ao fazer o balanço da vida dos seus militantes mortos pode dizer de um, de Pedro, que em 60 anos de vida consagrou mais de 40 à luta revolucionária, que foi preso e torturado numerosas vezes e sempre superou estoicamente a prova, que passou 12 anos nas prisões, que duas vezes se evadiu para voltar à luta, que passou longos anos de vida clandestina e que sempre esteve pronto a executar as tarefas que lhe foram confiadas e a executá-las com dedicação, com a coragem, com a alegria daqueles que na luta nada pretendem para si próprios, pois apenas querem servir o povo e o País.»
Rectângulo de arame farpado
«O campo de concentração do Tarrafal é um rectângulo de arame farpado, exteriormente contornado com uma vala de quatro metros de largura e três de profundidade (…). A falta de vegetação, os montes escarpados, o mar e o isolamento a que os presos estão submetidos, dão à vida, aí, uma monotonia que torna mais insuportável o cativeiro. Como únicos vestígios do mundo há o ar carrancudo dos guardas e das sentinelas negras que vigiam, as cartas das famílias que demoram meses a chegar, e dias a serem distribuídas, os castigos e os enxovalhos, os trabalhos forçados, as doenças e a morte de alguns companheiros.»
Tarrafal: Campo da Morte Lenta
Resistir sempre
«A 29 de Outubro de 1936, na pequena baía do Tarrafal, desembarcámos 150 presos antifascistas, os primeiros que o fascismo português atirou para o Campo de Concentração de Cabo Verde (…) «A bordo foi-nos imposto um severíssimo comportamento. As metralhadoras estiveram assestadas durante toda a viagem, para abrirem fogo à primeira voz. Praças da GNR vigiavam-nos (…). Quando chegámos ao campo de concentração, fomos alojados em doze barracas de lona, com sete metros de comprimento por quatro de largo. Aí deviam viver doze homens. Durante quase dois anos, essas barracas, que o sol e a chuva depressa apodreceram, serviram para nos arruinar a saúde.»
Camarada Fernando Rosas (historiador) Ver documentos AQUI
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