domingo, 11 de setembro de 2022

O saudoso Miguel Urbano Rodrigues caraterizou com muita clareza a campanha de destruição dos principais partidos comunistas europeus por parte dos ideólogos da burguesia

Os movimentos sociais não são solução

«Ganharam também alguma notoriedade revisionistas (oportunistas de esquerda) que, pretendendo exibir uma suposta

pureza marxista, recorreram a textos de Gramsci e de Che Guevara para lhes deturparem o pensamento em obras de cariz anti-soviético, aplaudidas pelo imperialismo.
Uma modalidade de anticomunismo, mais subtil, é a praticada por intelectuais que, criticando o capitalismo, identificam nos movimentos sociais a força revolucionaria vocacionada para salvar a humanidade (John Holloway, Bernard Cassen, Ignacio Ramonet, Boaventura Sousa Santos, Hans Dietrich,etc) negando aos partidos protagonismo na luta contra o sistema.

Aceitar em Marx o economista e rejeitar o ideólogo é atitude frequente em cenáculos de intelectuais que satanizam Lenin.

O PERIGO OPORTUNISTA

A palavra oportunista tornou-se incómoda para muitos dirigentes de partidos comunistas europeus e latino americanos. Essa atitude traduz a consciência de estratégias e tacticas que afetaram a unidade do movimento comunista internacional. As suas últimas reuniões confirmaram a existência de discordâncias profundas que o debilitaram.

O panorama atual é muito complexo. Na Europa, a maioria dos partidos estão hoje integrados no Partido da Esquerda Europeia, ombro a ombro com partidos burgueses como o Die Linke alemão, o Syriza da Grécia e o Bloco de Esquerda de Portugal.

A função inconfessada desse partido é neutralizar os trabalhadores, dificultando a sua participação nas grandes lutas contra o imperialismo e as políticas neoliberais impostas na União Europeia. Não surpreende que o PEE conte com a simpatia dos media controlados pelo capital e a benevolência dos Governos que o representam.

Muitos partidos comunistas foram contaminados nas últimas décadas. Alguns participaram na orquestra do antisovietismo. Robert Hue, quando secretário-geral do PCF, teve o descaramento de afirmar que "tudo foi negativo na União Soviética".

O Partido Comunista Italiano desapareceu depois de mudar de nome. O Partido Comunista Francês, em rápida metamorfose, renegou o passado e transformou-se numa caricatura de partido operário. O Partido Comunista de Espanha, hoje antileninista, diluiu-se numa Esquerda Unida inofensiva. Uma epidemia de oportunismo instalou-se no movimento comunista internacional.

Uma das suas manifestações é a crítica – ostensiva ou indireta – a Partidos que, na fidelidade aos princípios continuam a assumir-se como marxistas-leninistas. São visados entre outros o Partido Comunista da Grecia-KKE, o Partido Comunista do México-PCM, e o Partido Comunista Brasileiro-PCB.

Não cabe neste artigo comentar a estratégia desses partidos revolucionários. Não me identifico com todas as posições que assumem. Mas eles me fazem recordar que o Partido Comunista Português, pela fidelidade aos princípios e à sua história, resistiu vitoriosamente com firmeza à vaga de anticomunismo que, sobretudo no início dos anos 90, descaracterizou ou destruiu outros.

Hoje, é precisamente essa fidelidade aos princípios do KKE, do PCM e do PCB, é a sua firmeza no combate ao revisionismo e na denúncia do oportunismo que me inspiram respeito e admiração.

Eles e outros fundadores da Revista Comunista Internacional são hoje uma minoria no Movimento Comunista Internacional. Mas a coerência demonstrada na fidelidade ao pensamento e obra de Marx e a coragem com que assumem a herança de Lenin contam com a minha solidariedade fraterna.

Serpa e Vila Nova de Gaia, Agosto de 2014


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