O Estado Português
voltou a ser condenado
por violar a liberdade
expressão pelo Tribunal
Europeu dos Direitos do
Homem (TEDH).
As instâncias europeias asseguram
uma vez mais a sobrevivência de dois
direitos fundamentais que nós portugueses falhamos redondamente em
garantir, a liberdade de imprensa e de
expressão.
Desta vez, o Estado Português terá
de indemnizar em mais de 18 mil euros dois ex-jornalistas do extinto jornal
satírico "Garajau", injustamente condenados e que finalmente após tantos
anos de espera, vêm agora revertidas
as sentenças por difamação e abuso
da liberdade de expressão. Em causa,
estão sanções aplicadas aos jornalistas Gil Canha e Eduardo Welsh que em
2006 perderam no Tribunal do Funchal e depois no Tribunal da Relação
um processo interposto por Luís Miguel Sousa, o empresário mais poderoso da ilha da Madeira e detentor da
exploração portuária no Arquipélago.
O jornal não sei se alguma vez irá
ressurgir, fechou portas ao fim de sete
anos de funcionamento, devido aos
processos judiciais e às avultadas indemnizações que teve de enfrentar por
parte do poder político e económico
da Madeira. Foi vítima do silenciamento com ajuda do poder judicial. Mas
fica o registo dos incontornáveis cartoons, da escrita satírica e do humor
mordaz que incomodou os mais altos
figurantes do nosso Arquipélago.
Um bem-haja aos colaboradores do
Jornal Garajau. Que apesar de todas
as adversidades nunca desistiram de
lutar por uma imprensa livre e por uma
Madeira melhor. Corajosamente, precipitaram a queda do regime e foram
responsáveis pelos momentos mais
caricatos da política regional. Sem o
mesmo, a minha breve passagem pela
política regional, certamente, não teria
acontecido. Aqui fica a minha declaração de interesses. E curiosamente, deixo a minha homenagem, numa crónica
do JM, tantas visado no Garajau e vice-
-versa, numa autêntica guerra aberta,
quando ainda era Jornal da Madeira. As
voltas que a vida dá, não é verdade?!
Em 2013, O Tribunal Europeu dos
Direitos do Homem já havia condenado o Estado Português a pagar 5.000
euros a ex-diretores do extinto jornal
madeirense "Garajau", condenados pela Relação de Lisboa por difamação ao
vice-presidente do Governo Regional
da altura, Cunha e Silva. Desde 2005,
são já mais de 20 as condenações do
Estado português no TEDH por violação da liberdade de expressão.
Talvez esteja na altura de rever o
regime de inimputabilidade da magistratura portuguesa que aplica indiscriminadamente condenações deste teor,
fazendo tábua rasa, da Convenção
Europeia dos Direitos do Homem sem
que advenha qualquer sanção para
quem abusivamente as usa. Tendo o
Estado Português, neste caso, os contribuintes de pagar a factura.
Há casos em que os tribunais portugueses têm limitado a liberdade de expressão de forma chocante, mas também há casos em que a têm permitido.
Existe uma dualidade de critérios na
justiça portuguesa gritante, que varia
consoante os intervenientes.
Se não fosse pelo TEDH a liberdade de expressão e de liberdade de imprensa em Portugal era quase inexistente. A maior parte dos jornais já teria
encerrado e as prisões estavam cheias
de jornalistas e activistas políticos.
Um bem-haja à União Europeia e à
Convenção Europeia dos Direitos do
Homem e um agradecimento especial
ao incansável defensor da liberdade
de expressão em Portugal, o advogado
Teixeira da Mota.
Ainda há justiça. Nem que seja em
Estrasburgo.
Raquel Coelho escreve no JM à terça-feira, de 4 em 4 semanas
https://www.dnoticias.pt/2022/9/13/327790-ptp-madeira-usa-exemplo-dos-acores-para-criticar-albuquerque/
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