quarta-feira, 6 de agosto de 2014

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A responsabilidade de Mário Soares na contra revolução do capital


Miguel Urbano Rodrigues

A viragem à direita do PS alterou profundamente o quadro revolucionário. Esboçada no final de 1974 na sua oposição à unicidade sindical e em manobras conspirativas com Spínola para impedir a independência de Angola, ganhou transparência apos o 11 de Março e concretizou-se em 17 de Julho de 1975 quando os ministros socialistas abandonaram o IV Governo Provisório de Vasco Gonçalves. Dias antes, Mário Soares protestara com veemência contra a aprovação do Documento Guia da Aliança Povo-MFA.

A ocultação da História profunda tem sido na maioria das nossas universidades e escolas secundárias um objetivo de sucessivos governos de direita.

…A ausência de liberdades em amplas regiões do país permitiu que o P S obtivesse nas eleições para a Constituinte uma grande votação que encorajou os seus dirigentes a engavetar o programa do partido, envolver-se em conspirações, e finalmente, sair do IV Governo Provisório para, em aliança com o PPD e outas forças reacionárias, criarem condições para o início da contra-revolução.

A VIRAGEM À DIREITA DO PS

A viragem à direita do PS alterou profundamente o quadro revolucionário. Esboçada no final de 1974 na sua oposição à unicidade sindical e em manobras conspirativas com Spínola para impedir a independência de Angola, ganhou transparência apos o 11 de Março e concretizou-se em 17 de Julho de 1975 quando os ministros socialistas abandonaram o IV Governo Provisório de Vasco Gonçalves. Dias antes, Mário Soares protestara com veemência contra a aprovação do Documento Guia da Aliança Povo-MFA.

A relação de forças, que até então fora favorável ao avanço do processo revolucionário, alterou-se profundamente.

A vaga de assaltos a centros de trabalho do PCP, iniciada com a destruição do centro de Rio Maior, a 16 de Julho, estimulada por quadros do PPD, coincidiu com a campanha do PS que exigia a demissão de Vasco Gonçalves e com a crise do MFA, inocultável a partir da divulgação do chamado «Documento dos Nove».

A 19 de Julho num comício na Alameda Afonso Henriques, Mário Soares exigiu com arrogância, contando com o apoio entusiástico do PPD, o afastamento do general Vasco Gonçalves.



Para as gerações que nasceram após o 25 de Abril, o conteúdo deste V Tomo das Obras Escolhidas de Álvaro Cunhal não é apenas uma lição de História. Permite ao leitor movimentar-se no cenário de um período dramático, acompanhar quase dia a dia a evolução da ofensiva conjunta do PS e do PPD, acompanhar a marcha da conspiração liderada por Mário Soares.



PERGUNTAS SEM RESPOSTA E UMA CONCLUSÃO


Transcorridas quase quatro décadas da jornada sombria do 25 de Novembro, que assinalou o fecho da saga revolucionária de Abril, já é possível refletir sem paixão sobre a rutura da Aliança Povo-MFA, a viragem à direita do PS e as situações que precederam a vitória eleitoral que levou ao governo Sá Carneiro, então o líder das forças reacionárias, empenhadas na restauração plena do capitalismo, seriamente golpeado durante os governos de Vasco Gonçalves.


O general Vasco Gonçalves na entrevista-livro de Maria Manuela Cruzeiro afirma que na sua opinião o MFA nunca foi um movimento revolucionário. Essa ilusão teve vida brevíssima após o 11 de Março.

O general viu no MFA desde o início uma amálgama de tendências unidas pela decisão de pôr termo à guerra colonial, das quais apenas uma minoria tinha uma perspectiva revolucionária.


… O longo e nefasto Consulado de Cavaco Silva era inevitável ou poderia não ter ocorrido se Ramalho Eanes não tivesse dissolvido um parlamento no qual a direita era minoritária?
Essas perguntas são repetidamente formuladas nos debates sobre a mudança da relação de forças que deteve o avanço da Revolução Portuguesa. E conduzem a outra cujas respostas não suscitam consenso: era inevitável a contrarrevolução do ano 75?
Toda a revolução gera desde o início sementes de uma contra-revolução. A portuguesa não foi excepção.

Se a aliança Povo-MFA tivesse sobrevivido, garantindo o avanço da revolução democrática e nacional, poderia Portugal atingir a meta fixada pela Constituição: um regime socialista?

Não creio. É minha convicção que o rumo que a História tomou na Europa após a derrocada da União Soviética tornaria romântica essa esperança. A desagregação da URSS rompeu o equilíbrio de poderes pré-existente. O que aconteceu na Ásia – invasões do Iraque e do Afeganistão – demonstra que, no novo contexto mundial, os EUA e os seus aliados da NATO não permitiriam a existência em Portugal de um estado socialista. Desaparecida a URSS, a intervenção militar estrangeira seria inevitável.

Mas as interrogações sem resposta sobre o eventual rumo de Portugal se a contra-revolução tivesse fracassado não diminuem a responsabilidade perante a História daqueles que contribuíram decisivamente para lhe abrir o caminho.

Para Álvaro Cunhal e Vasco Gonçalves, o principal arquiteto da contra-revolução portuguesa foi Mário Soares. Identifico-me com essa conclusão.


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