domingo, 18 de janeiro de 2015

O jornalista da revista VISÃO Miguel de Carvalho escreve sobre o extinto Jornal "Garajau" vítima da perseguição dos juízes fascistas que a República tem mandado para a Madeira

Je suis Garajau
Durante cinco anos, foi o Charlie Hebdo
 da Madeira. Ninguém disparou sobre os seus autores, mas andaram lá perto.
Por Miguel Carvalho
Numa das primeiras páginas mais polémicas, o Garajau mostrou Jardim com as vestes de Hitler. O líder regional sentiu-se ofendido, mas o jornal foi absolvido em tribunal

Houve carros incendiados

Agressões e insultos na rua. Ameaças anónimas. Mais de 40 processos em tribunal. Durante cinco anos, este foi o quotidiano do Garajau na Região Autónoma da Madeira. Obra e graça de «um grupo de amigos de várias matrizes ideológicas, de falangistas a trotskistas», o jornal «satírico e cruel» nasceu em 2004 para denunciar a corrupção e os vícios da «Mamadeira», nome pelo qual os seus autores se referiam ao «regime jardinista» da ilha. «O nosso guia espiritual foi o Vicente Jorge Silva, que também assinou uma coluna chamada Cartas de Cuba. Fechamos o Garajau em 2009 porque Alberto João Jardim deu ordens a todos os amigos do Governo e fora dele para processarem o jornal» refere Gil Canha, um dos fundadores e directores da Publicação. Por vezes comprado a medo nos quiosques e alvo de várias tentativas de intimidação, o jornal começara como ato de resistência. Mas num ápice se tornou referência.

Os tribunais também «matam»

O Primeiro quinzenário e depois mensário, o Garajau denunciou casos de corrupção que tiveram repercussão nacional. Artigos deram início a investigações policiais e foram esgrimidos em combate político no parlamento regional. As visitas ao tribunal, no âmbito de processos movidos pelo presidente do Governo Alberto João Jardim e outras figuras gradas do Governo e da Região, tornaram-se mensais. O «aparelho judicial ajudou à festa. Está montado para safar corruptos e condenar jornalistas» assinala Gil Canha, recordando o facto de, ainda hoje, o título ter queixas pendentes, com pedidos de indemnização a rondar um milhão de euros. «Conseguimos uma grande vitória no Tribunal Europeu dos Direitos do Homem, na sequência de uma perseguição do vice-presidente do Governo João Cunha e Silva» recorda o antigo director.Do lado de lá dessa contenda estava o advogado Garcia Pereira.O Garajau, esse, chegou a gastar 10 mil euros por mês em custas judiciais e recorre actualmente a três causidícos, entre os quais Francisco Teixeira da Mota advogado do Público.


O advogado Francisco Teixeira da Mota

Os ácidos cartoons publicados pelo jornal, da autoria de Eduardo Welsh, um dos seus financiadores e directores, desencadearam um rol de queixas nos tribunais por parte dos «ofendidos». Herdeiro de uma família de negociantes de vinho Madeira para os EUA, Welsh tinha por hábito lamentar-se dos seus maus investimentos. «Mas o Garajau é certamente um dos melhores», dizia . Numa das suas primeiras páginas mais polémicas, o Garajau mostrou Jardim com as vestes de Hitler. O líder regional sentiu-se insultado, mas o jornal acabou absolvido, tendo o magistrado considerado que a caricatura era «um exercício legítimo de crítica».Apesar das ameaças, agressões e intimidações, o desaparecimento do jornal não foi obra de fanáticos. «Morreu às mãos dos tribunais, uma arma letal para a liberdade de imprensa na Madeira, apesar da jurisprudência europeia ir no sentido contrário» resume Gil Canha. Já na fase final da sua existência, os mentores do jornal levaram ainda a cabo, com sucesso para levar à Assembleia Legislativa o seu «cavalo de Tróia». Várias das figuras ligadas ao Garajau desde a sua fundação tomaram de assalto a estrutura regional do Partido da Nova Democracia (PND), tendo conseguido eleger deputado regional o antigo ardina do jornal. José Manuel Coelho, posteriormente candidato presidencial. As suas pantominas e acções de protesto-uma delas recorrendo à bandeira nazi-incendiaram então o parlamento madeirense. Extinto em 2009, o Garajau não voltou a dar bicadas. O seu espaço, porém, foi ocupado pelo mensário Quebra Costas. A sátira e os autores repetem-se. «Mas os tempos são outros e a Madeira também», assinala Gil Canha. «O espírito do Garajau é irrepetível e inesquecível».

 nota da redação:
A perseguição judicial ao ex-ardina do jornal Garajau mantém-se. O agora deputado José Manuel Coelho quase todos os meses tem metade do seu ordenado penhorado para pagar chorudas indemnizações a altos figurões do regime jardinista. Uma das últimas indemnizações foi paga ao monopolista da Porto Santo Line Luís Miguel de Sousa cerca de 8 mil euros. Aqui reproduzimos mais uma penhora por custas judiciais deste processo.  Nos últimos meses da existência do Jornal Garajau José Manuel Coelho passou a director do mesmo. A perseguição feita pelos magistrados fiéis ao regime tem sido impiedosa.

3 comentários:

  1. Não dispararam para o Garajau, porque ninguém gasta balas para o estrume.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Oi! olha um PSD ressabiado e louco para defender o seu tacho!

      Eliminar
  2. Muito Bom! Parabéns pela coragem :)

    ResponderEliminar