Por Gil Canha
Para a semana, a Assembleia Legislativa da RAM irá discutir o orçamento para o próximo ano, sendo a nossa monstruosa dívida o tema central da discussão parlamentar, já que condiciona todo o resto. Para explicar melhor este drama com rasgos de hecatombe, só os custos com o serviço da dívida levam 607 milhões de euros anuais, para uma previsão de receitas no valor de 850 milhões de euros. Para ser mais explicito, quase 80% daquilo que os madeirenses pagam dos seus impostos é para alimentar este tenebroso “bicho papão”, criado e medrado pela tresloucada governação jardinista.
E como é que os madeirenses reagem perante isto?! Com resignação? Com revolta? Com desespero? Com alheamento? Sigmund Freud, na sua obra “A psicologia das Massas e Análise do Eu” defende que “as massas por vezes têm uma psicologia e um comportamento muito semelhante ao indivíduo isolado”. (Atenção cafofianos! Isto não tem nada a ver com massas nem esparguetes). Sendo assim, podemos adaptar ao povo madeirense o “Modelo de Sofrimento” arquitetado pela célebre psiquiatra Elisabeth Kubler-Ross, no seu livro On Death and Dying, onde defende que a maioria das pessoas passam por uma reação psíquica face à tragédia, ao luto e à perspetiva da morte, em cinco fases: 1. Negação, 2. Raiva,3. Negociação, 4. Depressão, 5. Aceitação.
Ora, perante esta tragédia de proporções apocalípticas e seguindo o modelo Kubler-Ross, em que fase estamos presentemente? A Negação e a Raiva contra a dívida de Alberto João Jardim já passaram, provavelmente a fase da Negociação também, se calhar neste momento o povo ainda está Deprimido, mas já vão aparecendo alguns sinais indicando que alguns indivíduos já entraram na Aceitação, que é como quem diz: “Vai tudo bem… não consigo lutar contra isto, o melhor é ajudar-me a este fadário; toca a pagar e bico calado; isto até foi para o bem de nós… perdemos a nossa qualidade de vida e levamos uma machadada nos nossos salários… mas tempos melhores virão! Vendo bem o nosso Albertinho não foi assim tão mau!” Resumindo, mesmo com o “pepino bem enfiado” fingimos que está tudo bem!”
Conforme já foi descrito por Kubler-Ross, alguns pacientes na fase de Aceitação e para ultrapassarem os episódios mais traumáticos ou o sentimento de perda chegam a exageros e a absurdos completamente apalhaçados: “Ah! O meu marido, ele era tão bom! É verdade que ele me dava porrada de caixão-à-cova, mas tenho tantas saudades dele!; Apesar dos avisos do médico para deixar de fumar, vou morrer de cancro nos pulmões, mas a minha família vai ficar feliz porque o seguro vai pagar o apartamento”, etc…
E se abrimos os jornais, vimos todos os dias elogios e louvores ridículos a Jardim, escritos por certos nostálgicos que, mesmo com o “rabo a arder”, acham que o Alberto João foi o maior, apesar de terem a família à míngua e os filhos dispersos pelo Mundo.
Segundo alguns psicólogos do comportamento social, nós temos a tendência quase desesperada para que o nosso sofrimento e os nossos sacrifícios TENHAM ALGUM SENTIDO. Por exemplo, na guerra colonial, os políticos incentivaram os jovens a combater pela pátria e pela glória de Portugal. E se algum desses jovens morria nas nossas ex províncias ultramarinas, não se poderia dizer aos pais que os filhos tinham morrido em vão… então, inventava-se frases eloquentes e cheias de valores patrióticos para justificar essas mortes inúteis e assim apaziguar o sofrimento dos familiares.
Na sua recente obra “Homo Deus”, Yuval Harari diz o seguinte: “Um soldado estropiado que tenha ficado sem as duas pernas prefere dizer a si mesmo: – sacrifiquei-me para a glória eterna da nação! Do que dizer: - fiquei sem as pernas porque fui estupido ao acreditar em políticos que só querem saber dos seus interesses.” E depois conclui: “Viver com a fantasia é muito mais fácil porque esta dá sentido ao sofrimento!”
Esta mesma lógica aplica-se à nossa periclitante situação atual, onde temos uma horrível dívida de cinco mil milhões de euros que nos sufoca e nos causa grande sofrimento. Então, fazemos como o soldado que perdeu as duas pernas e tentamos dar algum significado, algum sentido, a esta loucura atroz que nos levou ao abismo.
Então, preferimos dizer que a nossa DÍVIDA não foi em vão… que fizemos magníficas obras monumentais; que nos transformamos numa espécie de Singapura do Atlântico; que quando alguém chega à Madeira fica maravilhada com o nosso desenvolvimento; que temos grandiosos centros cívicos, magníficos campos de futebol, belíssimos campos de golfe, moderníssimas piscinas, enormes e eficientes parques industriais, fenomenais passeios marítimos, e que até exportamos inteligência para o Mundo graças ao nosso Brava Valley e ao nosso M-ITI-Madeira (como bons provincianos/vilões inventamos nomes ingleses para alindar o embrulho). Isto é, mascaramos a realidade com as nossas maravilhosas e pretensiosas fantasias, porque é infinitamente menos doloroso e menos humilhante para a nossa psicose coletiva isto tudo, que assumirmos que na realidade fomos “sodomizados”, aldrabados e tramados pelos excessos amalucados do dr. Jardim e respetiva camarilha. (fénix do Atlântico)
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