quinta-feira, 17 de março de 2022

“10 princípios” da propaganda de guerra


 Uma oportuna revisitação dos “10 princípios” da propaganda de guerra enunciados há mais de um século por Arthur Ponsonby. Permanecem todos em vigor, como diariamente podemos constatar em qualquer media “alinhado” (os não alinhados foram silenciados nas grandes redes embora, para raivosa indignação dos censores, já não seja hoje possível obliterar inteiramente tudo).
 Arthur Ponsonby (1871-1946) foi um aristocrata inglês com um percurso peculiar. Nascido no próprio castelo de Windsor, estudou em Eton e Oxford e seguiu a carreira diplomática. Até aqui tudo normal, não fosse ter-se oposto firmemente à entrada da Grã-Bretanha na Primeira Guerra Mundial e juntado ao Partido Trabalhista (que, é bom ter presente, pouco ou nada tem em comum com o actual).Da sua intensa e diversificada militância pela paz, Lord Ponsonby é sobretudo lembrado por ter decifrado dez princípios elementares da propaganda de guerra, que observou durante a carnificina imperialista de 1914-1918: 
1) Nós não queremos a guerra;

2) O campo adversário é o único responsável pela guerra;
 
3) O inimigo tem o rosto do Diabo; 

4) Defendemos uma causa nobre e não interesses; 

5) O inimigo provoca conscientemente atrocidades; se nós cometemos erros, é involuntariamente; 

6) O inimigo usa armas não autorizadas;
 
7) Sofremos muito poucas perdas, as perdas do inimigo são enormes; 

8) Os artistas e intelectuais apoiam a nossa causa;

9) A nossa causa tem um carácter sagrado;
 
10) Os que põem em dúvida a propaganda são traidores.

 Mais de um século passado, é difícil não lhes reconhecer actualidade e não identificar, nos vários conflitos travados nas últimas décadas, a sua profusa utilização.
Mas fixemo-nos nesse conturbado início do século XX – pois conhecemos o seu trágico desfecho – e olhemos com especial atenção para o décimo e último destes princípios.
Nesse tempo, marcado pela histeria belicista, havia em todos os países quem se opusesse à guerra, denunciando os interesses que servia, mobilizando para a defesa da paz, apontando caminhos de negociação, desanuviamento e desarmamento: foram, na sua maioria, acusados de traição e colaboração com o inimigo. A imprensa oficial, já então travestida de «independente» e «rigorosa», lançou sobre eles toda a espécie de anátemas. As autoridades perseguiram activistas, censuraram publicações, vigiaram (e proibiram) organizações. Em França, no auge da histeria militarista, o dirigente operário Jean Jaurés foi assassinado por um militante nacionalista pela sua oposição à guerra.
Conhecemos o resto da história, que, é sabido, não se repete. Nos campos de batalha acabaram mais de 10 milhões de vidas, jovens na sua maioria, que se massacraram em nome de interesses que não eram os seus. Caladas as armas, o saque beneficiou os poderosos do campo vencedor, que não dispararam um único tiro. Já os sobreviventes da carnificina, de ambos os lados, tiveram na sua maioria de lutar – e muito – para tentarem sair da sua miserável condição.
A lição, essa, foi então aprendida da forma mais difícil e Jaurés dá hoje o nome a ruas, avenidas e praças um pouco por toda a França. (diário info)
Margarida Menezes

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