A essência humana
A guerra da Ucrânia tem-me feito pensar, com mais acuidade, na essência humana.
Todos sabemos que, em guerra, os seres humanos libertam os seus demónios, cometendo, perante situações extremas, atrocidades antes inimagináveis.
Mas a guerra também desperta o melhor dos seres humanos, como constatamos em diversas ações, muitas vezes voluntaristas, de apoio a refugiados. Só pode comover ver gente a partir de Portugal, em carros ou carrinhas, até às fronteiras da Ucrânia com o objetivo de recolher refugiados e os trazer para o país. Ou a recolherem bens essenciais e a organizarem a logística para a sua entrega.
E dou comigo a pensar nas razões para se ter desenvolvido esta onda solidária relativamente às vítimas da guerra da Ucrânia e nos mantermos tão alheados das vítimas, sem dúvidas mais numerosas, de outros conflitos. Ou mesmo a encararmos essas vítimas com alguma desconfiança e, não raras vezes, indisfarçada agressividade. Como podemos aceitar que forças europeias tenham intercetado, em 2021, mais de 30 mil refugiados no Mediterrâneo e os tenham devolvido à Líbia, onde são vítimas de atrocidades? Ou que aceitemos ter, há anos, milhares de refugiados a viverem em contentores e tendas na ilha grega de Lesbos, dado que os rejeitamos na Europa? Ou que paguemos à Turquia para que esta retenha refugiados impedindo-os de virem para a Europa? Ou, mesmo na Ucrânia, que as autoridades mandem para o fim da fila os não ucranianos que querem passar a fronteira?
Será pela cor da pele? Pelo credo? Pela condição social? Por os ligarmos aos “maus”? Por serem notoriamente esquecidos pela comunicação social? Talvez um mix disto tudo, o que mostra, também, o reverso da nossa essência humana…
O meu texto no JN de 14 de março
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