A grande Farsa
Lembro-me de ir pela mão do meu pai numa grande galhofa na Rua da Carreira e de ele, farto da minha traquinice, ter apontado para um senhor de fato e me ter dito que se eu não me portasse bem aquele senhor ia-me levar preso. Fiquei aterrorizado e o senhor riu-se e disse-me para portar bem e obedecer sempre ao meu pai. O que eu não sabia é que aquele senhor bem vestido era um agente da Polícia Internacional e de Defesa do Estado.
O incidente ficou sempre na minha memória e cinco anos mais tarde quando já andava no Liceu Nacional do Funchal veio a Revolução e com ela os extremismos de uma geração privada da liberdade de expressão, com traumas de uma guerra mal explicada. Sejamos gratos, a Revolução trouxe-nos a dignidade humana e com ela, a ambicionada Autonomia a uma ilha esquecida pelo regime.
Mas tudo isto teve um preço.
Enquanto no tempo do Estado Novo as decisões eram tomadas pela Capital do Império, através da Junta Geral, a Autonomia e a descentralização criou uma cadeia desmedida de decisores e consequentemente gerou condições para o fomento da corrupção descontrolada.
Os defensores da Autonomia alegam que ela criou riqueza, trouxe o desenvolvimento, as estradas, os viadutos, a educação, e um sistema de saúde mais eficaz a todos, mas esquecem-se que o mundo inteiro evoluiu e que por isso agora temos a tecnologia e as redes sociais para exprimirmos o nosso descontentamento.Não é por acaso que já se fala que, em nome do interesse publico e da segurança nacional, que se deve limitar os acessos e restringir os limites da liberdade de expressão. É evidente que cada vez mais existem mais insurgentes que perturbam o bom funcionamento das instituições que nos governam e que estes devem ser manietados e controlados.
O medo de manifestar o que lhes vai na alma levou muitos dos que pensam pela sua própria cabeça, a se esconder por detrás do anonimato e a criar personagens fictícias na clandestinidade. O delito de opinião para os Tribunais toma contornos de crime hediondo muito pior que o crime de peculato ou mesmo de homicídio.
Se a ditadura do Estado Novo durou 46 anos, a nossa alegada liberdade já vai noutros tantos com o mesmo partido e com os mesmos interlocutores que se julgam impunes ao Estado de Direito.
Com todos estes cenários Salazar deve estar no Inferno a se rir do 25 de abril.
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