quinta-feira, 1 de abril de 2021

PS igual ao PSD na prática do nepotismo e concessão da tachos a familiares e amigos

 Vejamos a tacharia socialista na Santa Casa da Misericórdia de Lisboa (SCML)

 Na Santa Casa da Misericórdia de Lisboa (SCML) cruzam-se, como em poucos outros sítios, nomeações que misturam relacionamentos familiares (com dirigentes do PS ou até mesmo apenas com dirigentes da própria Santa Casa) e políticos. A SÁBADO tinha já noticiado, em novembro último, a contratação de Paulo Pedroso como consultor externo, por 3.700 euros/mês, por deliberação de 25 de setembro, mas com efeitos retroativos a abril. O ex-ministro do Trabalho e Segurança Social era já consultor da Associação Mutualista Montepio (de que a SCML é acionista) também desde abril. Irá colaborar num projeto de políticas de longevidade. Ora, se Pedroso andar pela sede da Santa Casa, arrisca cruzar-se com o (ex-) cunhado: é que já antes, mas durante o mandato do atual provedor, a Santa Casa tinha contratado o psicólogo João Mendes, irmão l da (ex-) mulher, a líder parlamentar socialista, Ana Catarina Mendes (segundo o Observador, Pedroso já estará separado de Ana Catarina Mendes). Em resposta à SÁBADO, a SCML esclareceu que o colaborador João Mendes integra de facto os seus quadros há três anos “no âmbito do lançamento do Programa Lisboa Cidade de Todas as Idades” e que a “admissão teve como critério a avaliação curricular e o perfil para um trabalho de contacto direto com os cidadãos e as estruturas do poder local da cidade”. A SÁBADO questionou a SCML sobre o salário do psicólogo, tendo esta respondido que tem “um vencimento correspondente às tabelas em vigor” na instituição para o cargo de coordenador de núcleo, mas solicitadas essas tabelas já não obtivemos resposta. Esta nomeação interfamiliar cruzada, no entanto, talvez não seja de estranhar numa instituição em que o provedor, Edmundo Martinho, contratou para coordenadora do Grupo de Trabalho de Políticas Públicas de Longevidade, Maria da Luz Cabral, com quem mantém há muito um relacionamento. A própria contratação gerou mal-estar entre funcionários da Santa Casa. Maria da Luz tem gabinete nas instalações onde está situada a provedoria e no espaço de um ano (entre 2017/18) terá apresentado despesas (em deslocações ao estrangeiro, por exemplo), que ascenderam a 22 mil euros – um dado que já foi noticiado pelo jornal Sol. O que passou mais discretamente foram outras nomeações. Já com Maria da Luz na SCML, foram contratadas mais duas pessoas consigo relacionadas: Ana Isabel Cardoso (na altura nora de Maria da Luz Cabral) começou a trabalhar na Sociedade de Apostas Online, na área da comunicação; e Bruno Cabral (irmão de Maria da Luz Cabral) entrou para o Departamento de Jogos da Santa Casa, como técnico superior de nível 2, no Porto. Sobre estes dois casos, a SCML clarificou que “a Santa Casa não contratou Ana Isabel Cardoso, pelo  que quaisquer questões” devem ser endereçadas à “entidade patronal.” De facto, foi a SAS (Sociedade de Apostas Online) – de que a SCML é dona – a fazer o contrato. Ana Isabel Cardoso respondeu por telefone à SÁBADO que já não tem “nada a ver” com Maria da Luz Cabral (e questionada em concreto sobre se se separou do marido, respondeu que sim) e que o facto de ter sido contratada numa altura em que a então sogra chegou à SCML “não tem nada a ver” com a sua própria contratação. Sobre o irmão da dirigente também contratado, a SCML apenas confirmou que “o colaborador Bruno Cabral foi admitido como gestor de zona (Norte) do Departamento de Jogos”, ressalvando que tal ocorreu “após processo de candidatura, e com avaliação, feita pelos serviços correspondentes, entre vários candidatos”. O percurso de Maria da Luz Cabral para o piso da provedoria passou primeiro pela ESSA (Escola Superior de Saúde de Alcoitão, que pertence à SCML), quando Edmundo Martinho era ainda vice-provedor. No seu currículo depositado na ESSA, Maria da Luz Cabral indica ter sido “técnica su perior” desde 2009 e em diversas funções, no Instituto de Segurança Social do Porto e depois na AMA (Agência para a Modernização Administrativa). No entanto, o despacho oficial de exoneração (a seu pedido) antes de vir para a ESSA, publicado em Diário da República a 12 de maio de 2016, indica que Maria da Luz era afinal “detentora da categoria e carreira de assistente operacional” (a mais baixa das três carreiras da administração pública, de acordo com a Lei Geral do Trabalho em Funções Públicas) – e não de técnica superior. Na ESSA, Maria da Luz passou a auferir 3.601,03 euros (passou a coordenadora cerca de um mês após iniciar funções). Sobre o atual salário, a SCML remeteu a SÁBADO para as tabelas da casa, que, solicitadas, também não facultou. Sobre o caso de Maria da Luz Cabral, a SCML esclareceu que “não se pronuncia sobre matérias que assentam em pressupostos e insinuações relacionadas com a esfera privada de cada cidadão”. A SÁBADO contrapôs que não houve nenhuma insinuação, mas sim um pressuposto assumido: o de que existe um relacionamento pessoal, que “é do conhecimento público e que, havendo coincidência com funções profissionais, pode passar a ter interesse jornalístico”. A SCML já não respondeu. As contratações da SCML são regra geral bastante mais opacas do que a generalidade das nomeações para a administração pública e suas dependências. Apesar de a sua administração ser de nomeação política, trata-se de uma instituição de direito privado e utilidade pública administrativa, pelo que não está obrigada a publicar as nomeações em Diário da República. As duas ilustres filhas Martinho é profissionalmente um compagnon de route de José Vieira da Silva e de Paulo Pedroso na área da Segurança Social. Foi presidente do Instituto para o Desenvolvimento Social (IDS) e, depois, do Instituto de Segurança Social (ISS). Entrou para a Santa Casa como vice-provedor, em modo de repartição de poder, ainda no tempo de Pedro Santana Lopes à frente da instituição. Já nessa altura, ainda vice-provedor, con tratou, por exemplo, Vera Sampaio (filha de Jorge Sampaio), que manteve como sua assessora quando passou a provedor, em 2017. Entretanto, também a filha de Diogo Lacerda Machado, o amigo do primeiro-ministro António Costa cujo percurso na orla do Governo tem sido escrutinado, foi promovida pelo atual provedor. Joana Lacerda Machado, que trabalha na SCML desde 2013, passou com Edmundo Martinho a desempenhar o cargo de assessora da administração. A SCML negou à SÁBADO que a filha de Lacerda Machado tivesse sido promovida. Mas não só a informação é confirmada por fontes internas da SCML, como a própria a assume até abertamente na sua página de LinkedIn, informação esta que foi remetida à SCML – e nessa altura já não obtivemos resposta. Mas há outro caso bastante recente: a 15 de janeiro, iniciou funções como administradora Ana Vitória Azevedo, nomeada por despacho de dezembro da ministra do Trabalho e Segurança Social, Ana Mendes Godinho. É mulher de André de Aragão Azevedo, secretário de Estado para a Transição Digital. Ana Vitória Azevedo, com formação em Direito, tem carreira na área da Justiça (era subdiretora-geral da Administração da Justiça desde 2014) e trabalhou duas vezes no Governo (no Turismo e na Estrutura de Missão Portugal IN). No seu currículo não há cruzamento com as áreas de atuação da SCML. Quem já esteve na instituição explica à SÁBADO que o apetite político pela Santa Casa se prende, além do potencial de cargos para colocar correligionários, também com o poder financeiro da instituição, que permite que seja “um instrumento que dá jeito para por vezes ir resolver problemas que surgem até fora da sua órbita”. A SCML adquiriu recentemente, por exemplo, o Hospital da Cruz Vermelha, insolvente, e especulou-se sobre a entrada com 200 milhões no Montepio – mas aqui a polémica fez encolher a participação para 75 mil euros.

Paulo Morais indigna-se


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