Susana Peralta é professora de Economia da Universidade Nova
«... O embuste da ZFM não se explica
por uma ingenuidade enternecedora dos
responsáveis políticos da região, mas por
uma promiscuidade de interesses
apoteótica. A ZFM foi gerida pelo Grupo
Pestana desde a sua criação até 2021. A
primeira concessão, que durou 30 anos, foi
atribuída, sabe-se lá como, antes das regras
de transparência na contratação pública
impostas pela UE. A de 2017, já sob tais regras
apertadas, foi adjudicada através de ajuste
direto, ao invés do concurso público que se
impunha. O negócio foi considerado ilegal,
graças a uma denúncia de Ana Gomes.
O governo regional foi obrigado a retomar
o controlo da ZFM, o que fez pagando mais
de 7 milhões de euros ao Grupo Pestana.
A renovação de 2017 foi decidida pelo
Governo de Miguel Albuquerque dois meses
depois de o Grupo Pestana ter comprado
uma exploração hoteleira que pertencia ao
presidente do governo regional e à sua
esposa e enfrentava dificuldades financeiras,
resolvidas com a venda. Passadas duas
semanas, o hotel recebia, das mãos do
Governo de Albuquerque, a menção de
“Utilidade Turística Prévia”, que lhe dá
acesso a benefícios fiscais. Esta negociata
está no cerne do processo por corrupção no
qual Albuquerque é arguido.
Em reação à decisão do Tribunal de Justiça
da UE de janeiro, Miguel Albuquerque
apelidou de situação absurda “considerar
que empresas que trabalham no mercado
internacional tinham de ter os postos de
trabalho sediados na Madeira”. Portanto,
o agora reeleito presidente do governo
regional reconhece que a ZFM não serve
para criar postos de trabalho na Madeira.
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