O genocídio de Iguala: terrorismo de Estado, corresponsabilidade da socialdemocracia
Pável Blanco Cabrera*
29.Out.14 ::
Os assassínios políticos em Coyuca de Benítez e em Iguala mostram-nos que não se trata de excepções, mas de um esquema operativo onde forças legais e ilegais actuam conjuntamente para salvaguardar os interesses dos monopólios e golpear as forças de classe, e são um aviso da tendência que teremos de enfrentar.
Nos dias 26 e 27 de setembro, em Iguala, Guerrero, ocorreu uma brutal repressão contra estudantes da Escuela Normal de Ayotzinapa, em que atuaram conjuntamente policiais e pistoleiros, em estreita coordenação, e na qual se encontram envolvidos os governos do município de Iguala, do Estado de Guerrero e o governo federal. No ataque inicial foram assassinadas seis pessoas: algumas, normalistas, e outras, passageiros de um ônibus de uma equipe esportista, por parecerem estudantes. O saldo final foi de quase uma dezena de feridos, 25 detidos e 47 desaparecidos. É muito provável que seus corpos sejam os encontrados em fossas, com sinais de execução extrajudicial e terríveis marcas de tortura. Trata-se de um genocídio de responsabilidade do Estado mexicano e, por isso, é necessário apontar as responsabilidades para que esta afirmação não vire uma abstração.
Devemos assinalar que este modus operandi foi aplicado contra cinco militantes do Partido Comunista do México, entre agosto e novembro de 2013, entre eles o professor Raymundo Velázquez Flores, secretário-geral do PCM no estado de Guerrero e dirigente da Liga Agraria Revolucionaria del Sur Emiliano Zapata (LARSEZ), uma organização popular camponesa fundada pelo professor Genaro Vázquez Rojas em finais dos anos 60, que, encontrando fechados os caminhos legais, passou à luta armada com a Asociación Cívica Nacional Revolucionaria. Também foi assassinado o camarada Luis Olivares, dirigente da Organización Popular de Productores de la Costa Grande. Nossos camaradas foram assassinados porque seu trabalho político entre as massas afetava os interesses dos monopólios. O Estado, porém, lavou as mãos de julgar os crimes das organizações criminosas. No entanto, existem elementos que nos permitem assegurar que há um entrelaçamento entre o Estado e os grupos delinquentes, e que sua utilização para o assassinato seletivo e a repressão massiva fazem parte de uma estratégia antioperária e antipopular, que emerge da parte do general colombiano Oscar Naranjo como assessor de segurança de Enrique Peña Nieto, em que se ensaia e se adota como medida a contenção da mobilização popular, frente ao período de instabilidade que se avizinha como resultado da crise econômica do capitalismo e das agressivas medidas para desvalorizar o trabalho.
Hoje, a repressão estatal se multiplica e sai do seletivo para o massivo, insistindo na imobilização/ desmobilização. Já não se utiliza apenas a decapitação, mas se busca semear o terror, a confusão e a paralisação dentro de organizações dinâmicas na luta de classes. O ataque às escolas normais, onde se formam os professores, dura mais de 20 anos, e combina a privatização da educação pública com a liquidação destes celeiros de quadros populares, que são as escolas normais, e que contribuem em milhares de mulheres e homens que participam na luta do povo trabalhador, que engrossam as fileiras do magistério independente, que se assumem como organizadores natos nas comunidades do país.
Em Iguala ocorreu um genocídio de responsabilidade do Estado, sem dúvida. No entanto, devemos nos atentar para a onda de argumentos nessa direção que, claramente responsabilizam a máquina que serve à classe dos capitalistas, com o intuito de manter sua dominação sobre o proletariado e os demais explorados. Isso ocorre por que hoje todos assumem as teses do marxismo-leninismo ou por que se procura uma vaga generalidade para evitar a responsabilização da chamada esquerda eleitoral?
O Estado mexicano integrou sua engrenagem ao sistema de partidos com registro eleitoral, posto que nenhum é antagônico. Todos são funcionais e sua expressão mais eficiente até hoje o Pacto pelo México, que permitiu em muito pouco tempo aprovar as reformas necessárias para que o poder dos monopólios assegure seus lucros e rentabilidade em um período como o atual, de crise internacional da economia. Nessa direção, qualquer gestão é admissível caso viabilize a exploração capitalista, com a qual estão comprometidos o próprio Peña Nieto, Carlos Navarrete e López Obrador, para citar aqueles que pareceriam adversários. O sistema de partidos eleitorais é correio de transmissão para manter os explorados sob a ilusão da democracia burguesa, da fachada democrática da ditadura de classe do capital. São, pois, uma parte importante do Estado.
Vejamos concretamente: em Guerrero governa Ángel Aguirre que, até o ano de 2010, se apresentava como um importante quadro político do PRI, que substituiu provisoriamente Rubén Figueroa depois que este ordenou a repressão em Aguas Blancas, onde foram assassinadas dezenas de camponeses da OCSS, acusados de pertencer à insurgência armada. Como governador provisório, Aguirre é o responsável pelo massacre de El Charco, onde também foram assassinadas dezenas de camponeses com o mesmo argumento. Ou seja, Aguirre está envolvido diretamente em dois dos mais importantes massacres das últimas décadas e, ainda assim, o PRD (importante partido dentro do Fórum de São Paulo, onde faz parte de seu Grupo de Trabalho, da Internacional Socialista e, mais recentemente, do Encontro Progressista, convocado no Equador), em coalizão com o PT e Convergencia (hoje Movimiento Ciudadano), o postulou como candidato a Governador em 2010. Em sua campanha participou com entusiasmo López Obrador. E em seu gabinete participam destacados quadros do PRD e do MORENA. Não estamos fazendo uma caracterização ideológica, mas apresentando feitos, dados que são irrefutáveis, sujeitos à comprovação.
Ángel Aguirre é o responsável direto pelo genocídio de Iguala e, também, pelo assassinato de cinco camaradas do PCM. Tenta eximir-se da responsabilidade atribuindo exclusividade a José Luis Abarca que, no entanto, chegou à prefeitura de Iguala com o apoio de Lázaro Mazón, que hoje é Secretário de Saúde o governo de Guerrero, foi duas vezes prefeito de Iguala e é pré-candidato do MORENA ao governo. Como se não bastasse, seu irmão, Luis Mazón, é quem substituirá legalmente Abarca na presidência municipal de Iguala. Ou seja, o PRD e o MORENA dão cobertura aos responsáveis deste genocídio e essa verdade é inquestionável, apesar de seus silêncios, de suas desculpas.
Não são dados menores, correspondem à política consistente do PRD (antes que o MORENA surgisse em seu seio) que vai da repressão à Frente de Pueblos de Defensa de la Tierra de San Salvador Atenco, em maio de 2006, em Texcoco, ao ataque permanente de Ebrard e, agora Mancera, à frente do governo da Ciudad de México, contra o movimento operário e popular. Ao mesmo tempo em que se vinculam aos monopólios, aplicam o despojo contra as comunidades, atacam os direitos sociais e colaboram estreitamente com as reformas estruturais.
Eles são corresponsáveis por aplicar essa política repressiva do Estado, colaborando com a orientação geral que segue Enrique Peña Nieto.
O terrorismo de Estado ativou os mecanismos repressivos que incluem suas forças formais (Exército, forças de segurança, polícias federais, estaduais e municipais) auxiliadas por forças paramilitares (pistoleiros), como ocorreu durante os regimes fascistas na Europa e como ocorre na Colômbia. Estes são dois exemplos, os assassinatos políticos em Coyuca de Benítez e em Iguala, nos mostram que não se trata de exceções, mas de um esquema operativo onde forças legais e ilegais atuam conjuntamente para salvaguardar os interesses dos monopólios e golpear as forças classistas, e são um aviso da tendência que teremos de enfrentar.
A isso devemos somar a execução extrajudicial em Tlatlaya, sobre a qual se guarda silêncio, de mais de 20 pessoas, por parte do Exército Federal. Um quadro de terrorismo de Estado.
Já entramos na etapa aberta da violência do Estado – e insistimos, não apenas no PRI e no PAN, mas no PRD e na corresponsabilidade do MORENA –, para conter as previsíveis ondas de contestação popular frente às reformas trabalhistas, educativa, fiscal e energética, de consequências tão prejudiciais para a classe operária e as camadas populares.
A resposta popular é de indignação massiva e de ações crescentes, onde destacam os estudantes, que nestes dias protagonizam mobilizações que só se comparam às de 1968 e 1999. Praticamente todas as escolas e universidades da Ciudad de México estão em greve e se prevê uma ascensão da luta.
Em Guerrero, professores e estudantes, acompanhados por organizações populares, focaram sua ira nos centros simbólicos do governo.
Entre as lições que ficam, destacamos as seguintes:
• A fachada democrática do poder dos monopólios se desdobra em terrorismo de Estado, em que o mesmo executa a violência por meios legais e ilegais.
• A gestão socialdemocrata, chamada esquerda democrática, esquerda responsável, esquerda moderna, progressista, não é a defensora consequente da formalidade democrática, mas um instrumento estatal que ativa, igualmente, os mecanismos repressivos. Assim, não devemos ter a menor confiança nela. Uma seção da socialdemocracia que tenta, como avestruz, ocultar sua cabeça sob a terra, evitar o tema, apesar de suas responsabilidades, e reforçar o Estado com recursos legais para impugnar a reforma energética, fala de qualquer outra coisa enquanto evade o tema de Ayotzinapa.
A atuação dos comunistas se redobra nestas condições, em que a única opção à barbárie capitalista e sua repressão genocida pode surgir do massivo protagonismo da classe trabalhadora e seu vigente programa de derrocada do poder dos monopólios.
O terrorismo de Estado não deve nos levar ao retrocesso, mas acelerar os preparativos da contraofensiva proletária e popular.
Vamos trabalhar neste contexto a insubordinação e a insubmissão frente ao estado de direito que assassina nosso povo. Não nos interessa a governabilidade, nem a estabilidade política da barbárie do terrorismo do Estado, mas a ingovernabilidade que faça surgir o protagonismo dos trabalhadores, que leve as massas populares à irrupção na política, para assumir as questões de seu interesse em suas próprias mãos.
Vamos trabalhar para promover a organização unitária dos estudantes, com caráter democrático e de alcance nacional, que expresse forças novas e não uma soma de membros. Vamos apoiar as decisões da CETEG e da APG. Vamos trabalhar para esboçar um horizonte que ponha fim a estas intoleráveis manifestações de violência antipopular, endêmicas ao capitalismo. Que soe a hora da ofensiva popular!
Hoje, a repressão estatal se multiplica e sai do seletivo para o massivo, insistindo na imobilização/ desmobilização. Já não se utiliza apenas a decapitação, mas se busca semear o terror, a confusão e a paralisação dentro de organizações dinâmicas na luta de classes. O ataque às escolas normais, onde se formam os professores, dura mais de 20 anos, e combina a privatização da educação pública com a liquidação destes celeiros de quadros populares, que são as escolas normais, e que contribuem em milhares de mulheres e homens que participam na luta do povo trabalhador, que engrossam as fileiras do magistério independente, que se assumem como organizadores natos nas comunidades do país.
Em Iguala ocorreu um genocídio de responsabilidade do Estado, sem dúvida. No entanto, devemos nos atentar para a onda de argumentos nessa direção que, claramente responsabilizam a máquina que serve à classe dos capitalistas, com o intuito de manter sua dominação sobre o proletariado e os demais explorados. Isso ocorre por que hoje todos assumem as teses do marxismo-leninismo ou por que se procura uma vaga generalidade para evitar a responsabilização da chamada esquerda eleitoral?
O Estado mexicano integrou sua engrenagem ao sistema de partidos com registro eleitoral, posto que nenhum é antagônico. Todos são funcionais e sua expressão mais eficiente até hoje o Pacto pelo México, que permitiu em muito pouco tempo aprovar as reformas necessárias para que o poder dos monopólios assegure seus lucros e rentabilidade em um período como o atual, de crise internacional da economia. Nessa direção, qualquer gestão é admissível caso viabilize a exploração capitalista, com a qual estão comprometidos o próprio Peña Nieto, Carlos Navarrete e López Obrador, para citar aqueles que pareceriam adversários. O sistema de partidos eleitorais é correio de transmissão para manter os explorados sob a ilusão da democracia burguesa, da fachada democrática da ditadura de classe do capital. São, pois, uma parte importante do Estado.
Vejamos concretamente: em Guerrero governa Ángel Aguirre que, até o ano de 2010, se apresentava como um importante quadro político do PRI, que substituiu provisoriamente Rubén Figueroa depois que este ordenou a repressão em Aguas Blancas, onde foram assassinadas dezenas de camponeses da OCSS, acusados de pertencer à insurgência armada. Como governador provisório, Aguirre é o responsável pelo massacre de El Charco, onde também foram assassinadas dezenas de camponeses com o mesmo argumento. Ou seja, Aguirre está envolvido diretamente em dois dos mais importantes massacres das últimas décadas e, ainda assim, o PRD (importante partido dentro do Fórum de São Paulo, onde faz parte de seu Grupo de Trabalho, da Internacional Socialista e, mais recentemente, do Encontro Progressista, convocado no Equador), em coalizão com o PT e Convergencia (hoje Movimiento Ciudadano), o postulou como candidato a Governador em 2010. Em sua campanha participou com entusiasmo López Obrador. E em seu gabinete participam destacados quadros do PRD e do MORENA. Não estamos fazendo uma caracterização ideológica, mas apresentando feitos, dados que são irrefutáveis, sujeitos à comprovação.
Ángel Aguirre é o responsável direto pelo genocídio de Iguala e, também, pelo assassinato de cinco camaradas do PCM. Tenta eximir-se da responsabilidade atribuindo exclusividade a José Luis Abarca que, no entanto, chegou à prefeitura de Iguala com o apoio de Lázaro Mazón, que hoje é Secretário de Saúde o governo de Guerrero, foi duas vezes prefeito de Iguala e é pré-candidato do MORENA ao governo. Como se não bastasse, seu irmão, Luis Mazón, é quem substituirá legalmente Abarca na presidência municipal de Iguala. Ou seja, o PRD e o MORENA dão cobertura aos responsáveis deste genocídio e essa verdade é inquestionável, apesar de seus silêncios, de suas desculpas.
Não são dados menores, correspondem à política consistente do PRD (antes que o MORENA surgisse em seu seio) que vai da repressão à Frente de Pueblos de Defensa de la Tierra de San Salvador Atenco, em maio de 2006, em Texcoco, ao ataque permanente de Ebrard e, agora Mancera, à frente do governo da Ciudad de México, contra o movimento operário e popular. Ao mesmo tempo em que se vinculam aos monopólios, aplicam o despojo contra as comunidades, atacam os direitos sociais e colaboram estreitamente com as reformas estruturais.
Eles são corresponsáveis por aplicar essa política repressiva do Estado, colaborando com a orientação geral que segue Enrique Peña Nieto.
O terrorismo de Estado ativou os mecanismos repressivos que incluem suas forças formais (Exército, forças de segurança, polícias federais, estaduais e municipais) auxiliadas por forças paramilitares (pistoleiros), como ocorreu durante os regimes fascistas na Europa e como ocorre na Colômbia. Estes são dois exemplos, os assassinatos políticos em Coyuca de Benítez e em Iguala, nos mostram que não se trata de exceções, mas de um esquema operativo onde forças legais e ilegais atuam conjuntamente para salvaguardar os interesses dos monopólios e golpear as forças classistas, e são um aviso da tendência que teremos de enfrentar.
A isso devemos somar a execução extrajudicial em Tlatlaya, sobre a qual se guarda silêncio, de mais de 20 pessoas, por parte do Exército Federal. Um quadro de terrorismo de Estado.
Já entramos na etapa aberta da violência do Estado – e insistimos, não apenas no PRI e no PAN, mas no PRD e na corresponsabilidade do MORENA –, para conter as previsíveis ondas de contestação popular frente às reformas trabalhistas, educativa, fiscal e energética, de consequências tão prejudiciais para a classe operária e as camadas populares.
A resposta popular é de indignação massiva e de ações crescentes, onde destacam os estudantes, que nestes dias protagonizam mobilizações que só se comparam às de 1968 e 1999. Praticamente todas as escolas e universidades da Ciudad de México estão em greve e se prevê uma ascensão da luta.
Em Guerrero, professores e estudantes, acompanhados por organizações populares, focaram sua ira nos centros simbólicos do governo.
Entre as lições que ficam, destacamos as seguintes:
• A fachada democrática do poder dos monopólios se desdobra em terrorismo de Estado, em que o mesmo executa a violência por meios legais e ilegais.
• A gestão socialdemocrata, chamada esquerda democrática, esquerda responsável, esquerda moderna, progressista, não é a defensora consequente da formalidade democrática, mas um instrumento estatal que ativa, igualmente, os mecanismos repressivos. Assim, não devemos ter a menor confiança nela. Uma seção da socialdemocracia que tenta, como avestruz, ocultar sua cabeça sob a terra, evitar o tema, apesar de suas responsabilidades, e reforçar o Estado com recursos legais para impugnar a reforma energética, fala de qualquer outra coisa enquanto evade o tema de Ayotzinapa.
A atuação dos comunistas se redobra nestas condições, em que a única opção à barbárie capitalista e sua repressão genocida pode surgir do massivo protagonismo da classe trabalhadora e seu vigente programa de derrocada do poder dos monopólios.
O terrorismo de Estado não deve nos levar ao retrocesso, mas acelerar os preparativos da contraofensiva proletária e popular.
Vamos trabalhar neste contexto a insubordinação e a insubmissão frente ao estado de direito que assassina nosso povo. Não nos interessa a governabilidade, nem a estabilidade política da barbárie do terrorismo do Estado, mas a ingovernabilidade que faça surgir o protagonismo dos trabalhadores, que leve as massas populares à irrupção na política, para assumir as questões de seu interesse em suas próprias mãos.
Vamos trabalhar para promover a organização unitária dos estudantes, com caráter democrático e de alcance nacional, que expresse forças novas e não uma soma de membros. Vamos apoiar as decisões da CETEG e da APG. Vamos trabalhar para esboçar um horizonte que ponha fim a estas intoleráveis manifestações de violência antipopular, endêmicas ao capitalismo. Que soe a hora da ofensiva popular!
MEXICO: O genocídio de Condiz Com: Terrorismo de Estado, co-responsabilidade da social-democracia. Por Pável Branco Cabrera.
O 26 e 27 de setembro em Proporciona Igualdade, Guerreiro, Ocorreu uma brutal repressão contra estudantes da escola normal De Ayotzinapa, Em que agiram em conjunto polícias e pistoleiros, em que se encontram envolvidos os governos do município de condiz com, O do estado de Guerrero e O governo federal. No ataque inicial foram assassinadas seis pessoas, houve quase uma dezena de feridos, 25 detidos e 47 desaparecidos. Trata-se de um genocídio responsabilidade do Estado mexicano, e no entanto, é necessário salientar as responsabilidades para que esta afirmação não fique em uma abstracção.
México - Vivos os levaram, vivos os queremos! Vivos os queremos!
por António Santos"Com a simples exigência popular «Vivos os levaram, vivos os queremos», milhares de pessoas têm inundado as ruas mexicanas do Iucatão à Sonora, enquanto que do Estado chega apenas a mentira e o silêncio, alternados pelo insulto e pela repressão.
À medida que se sucedem as descobertas de valas comuns, preenchidas com corpos mutilados e carbonizados, vai caindo a cortina que ocultava a profunda simbiose entre o Estado, o poder económico e o narcotráfico: primeiro com a fuga do presidente da Câmara Municipal de Iguala, depois com a demissão do governador do Estado de Guerrero no passado dia 24, vai-se tornando claro que os criminosos agiam comandados por poderosos interesses políticos e económicos. ""Na sequência da presente crise estrutural do capitalismo, o México tem atravessado um processo de reajustamento econômico destinado a compensar os prejuízos do capital e a redução das suas taxas de lucro sacrificando direitos básicos dos trabalhadores e reduzindo os seus salários. Porque esse processo não pode ser concluído por meios exclusivamente pacíficos, o grande capital mexicano tem-se servido de tácticas mafiosas, do para-militarismo e do narcotráfico para aplacar a resistência e silenciar os trabalhadores."
No passado dia 26 de Setembro, após uma manifestação contra o modelo de contratação de professores, 57 estudantes de ensino da Escola Rural de Ayotzinapa, em Iguala, no México, foram atacados pelas forças policiais em parceria com um grupo narcotraficante local, os Guerreros Unidos. O ataque ceifou a vida de seis estudantes. Outros catorze conseguiram escapar. Aos restantes 43 esperava um destino mais sombrio que está a indignar a pátria de Emiliano Zapata e a pôr em causa o sistema político vigente. Um mês volvido sobre o desaparecimento desses 43 estudantes no Estado de Guerrero, o drama não parece ter fim à vista.
Com a simples exigência popular «Vivos os levaram, vivos os queremos», milhares de pessoas têm inundado as ruas mexicanas do Iucatão à Sonora, enquanto que do Estado chega apenas a mentira e o silêncio, alternados pelo insulto e pela repressão.
À medida que se sucedem as descobertas de valas comuns, preenchidas com corpos mutilados e carbonizados, vai caindo a cortina que ocultava a profunda simbiose entre o Estado, o poder económico e o narcotráfico: primeiro com a fuga do presidente da Câmara Municipal de Iguala, depois com a demissão do governador do Estado de Guerrero no passado dia 24, vai-se tornando claro que os criminosos agiam comandados por poderosos interesses políticos e económicos.
E no entanto as manifestações de massas não esvaziaram as ruas, nem mesmo depois da captura do chefe dos Guerreros Unidos, da promessa de reformas políticas pelos partidos guardiões da ordem estabelecida nem de o presidente do México Enrique Peña Nieto ter jurado que não dormirá enquanto não se fizer justiça. Mais do que justamente desconfiados do governo, os manifestantes vêm demonstrando que a violência estrutural que já matou mais de 100 000 pessoas desde 2007 carece de uma solução não menos estrutural: exige mudanças profundas no poder político e na economia.
Liberdade económica
Vinte anos depois da assinatura do Tratado de Livre Comércio com os EUA e o Canadá, metade da população mexicana vive na miséria. Com a transferência da indústria automóvel de Detroit para os baixos salários de Hermosillo, veio também a dependência dos EUA, que quintuplicaram as exportações para o vizinho do Sul e ganharam livre acesso aos seus mercados e recursos naturais. Com o livre comércio, os EUA passaram a ditar o que o México produz, o que compra e a quanto o compra, causando premeditadamente um ciclo vertiginoso de produção de droga, inflação e desemprego que se arrasta até aos nossos dias.
Na sequência da presente crise estrutural do capitalismo, o México tem atravessado um processo de reajustamento econômico destinado a compensar os prejuízos do capital e a redução das suas taxas de lucro sacrificando direitos básicos dos trabalhadores e reduzindo os seus salários. Porque esse processo não pode ser concluído por meios exclusivamente pacíficos, o grande capital mexicano tem-se servido de tácticas mafiosas, do para-militarismo e do narcotráfico para aplacar a resistência e silenciar os trabalhadores.
Sobre o que se está a passar no México, a comunicação social da classe dominante só nos traz silêncio. Exactamente por ser pouco provável que venhamos a ver Michelle Obama ou qualquer dirigente do PS a segurar um cartaz com o slogan Bring back our students, a nossa solidariedade é indispensável. Dela dependerá também o futuro daquele país norte-americano, que um dia terá de escolher entre socialismo e barbárie. Vivos os levaram, vivos os queremos! (fonte)