sábado, 31 de outubro de 2020

A propósito do centenário do nascimento do grande artista plástico madeirense António Aragão

 


 António Aragão, definiu com muita precisão, o tipo de democracia instalada após o 25 de Abril, em Portugal e na ilha da Madeira:

“este regime de depois do 25 de Abril é muito pior do que o do Salazar, porque antes era uma ditadura, mas assumida, e agora é uma ditadura, mas disfarçada de democracia”.


  Recordando  António Aragão e o jornal clandestino do PCP/Madeira em 1978, chamado «O LIXO»

O jornal era escrito pelo poeta, pintor e artista plástico António Aragão e o organigrama dos textos era fornecido pelo PCP do qual Aragão era militante ou de certa forma um simpatizante muito  ativo. O jornal clandestino tinha por nome «O LIXO».
 Era impresso nas máquinas do partido na sua sede da rua da Carreira. Tinha uma tiragem pequena e era distribuído clandestinamente e à noite por debaixo das portas dos estabelecimentos comerciais e nas caixas de correio das residências dos intelectuais da cidade do Funchal.

O teor das notícias eram as negociatas do PPD/PSD na altura e as ligações que este partido e o Alberto João tinham com os operacionais da Flama e os atentados que eles na altura faziam aos democratas da esquerda e do próprio Partido Socialista.

Era Aragão, o intelectual do partido  encarregado da sua redação e ilustração. Costumava fazer os desenhos e os textos no seu local de trabalho no Arquivo Regional.

Alberto João alarmado mandou o Polícia Judiciária fazer uma busca à casa onde residia Aragão e ao Arquivo onde Aragão trabalhava. Pois para o fascista Alberto o estilo da escrita era inconfundível era a forma de se expressar do nosso poeta e homem da Arte. 
 Aragão ficou naturalmente assustado e deixou de escrever o jornal, como é obvio. 
 Ficou apenas pelo 4º número. (felizmente para Aragão) a Polícia Judiciária nada apanhou na busca. Pois os papéis batidos à máquina, iam todos para a sede do PCP onde juntamente com os desenhos eram impressos num Stêncil e distribuídos.

Com o "cagaço" de António Aragão lá o PCP teve que deixar de imprimir o dito Jornal clandestino. Não havia condições!

Meses depois o partido abriu um jornal (desta vez legal) que era o FAROL DAS ILHAS. Tinha como diretor o dr. João Abel de Freitas o economista, que na altura pertencia à Junta de Planeamento da Madeira. O jornal era quinzenário e nele colaboravam: João Palla Lizardo, Rui Nepomuceno, Mário de Aguiar, na altura eleito na Assembleia Municipal do Funchal, Natália Paes e o próprio

João Abel de Freitas. 
O FAROL DAS ILHAS publicou-se durante dois anos. Era um jornal muito mais brando nas notícias do que O LIXO uma vez que tratando-se de um jornal legal, tinha de ter mais contenção nas notícias que mandava lá para fora. Pois com PPD e seu braço armado (a FLAMA) a coisa não era para brincadeiras. (Ver PRAVDA ILHÉU do ano 2016)
O economista João Abel de Freitas diretor do «FAROL DAS ILHAS» em fins dos anos 70- (1978/1979)


Swami Agnivesh a historia de um homem bom que combateu a escravatura na Índia

 


Trafico de influência entre as mais altas figuras da Justiça e do Estado com Luís Filipe Vieira e o SLB

 














Cristina Gatões do SEF afinal estava à frente de uma estrutura de criminosos e nazis. Deveria demitir-se.

 





sexta-feira, 30 de outubro de 2020

O salário mínimo em Portugal

 

565 euros líquidos por mês é quanto levam para casa mais de um milhão e duzentos mil trabalhadores do nosso País. Mais de um quarto dos trabalhadores (1) ganha hoje o SMN que, em termos líquidos, significa ter 565 euros por mês para fazer face às despesas diárias.

Sobram dias para tão pouco salário. É a dificuldade em pagar a renda, a luz, a água, o gás, os transportes. São as contas ao cêntimo para comprar comida. São os filhos destes trabalhadores que vivem, todos os dias, uma realidade marcada pelas dificuldades de quem tem que esticar um salário que é curto. Quantas vezes têm estes trabalhadores que escolher entre que contas pagar? Quantas vezes fica por comprar medicação prescrita? Quantas vezes fica colocada em causa a alimentação?

Os baixos salários, a precariedade, o desemprego são factores que contribuem decisivamente para o aprofundamento das desigualdades sociais e de situações de pobreza que persistem. O aumento do custo de vida (especialmente em serviços e bens essenciais), a especulação imobiliária desenfreada, a desresponsabilização do Estado no cumprimento das suas funções sociais, contribuem também para uma realidade social que conta com 2 milhões e 215 mil pessoas em risco de pobreza ou exclusão social (2).

Mais de 50% da riqueza do nosso país está nas mãos de 10% da população (3). Após a Revolução de Abril e a consequente valorização dos salários, 59% da riqueza nacional correspondia a salários e 24,3% eram distribuídos como rendimentos de capital. Em 2018, os salários representavam 34,9% da riqueza nacional e os rendimentos de capital acumulavam 41,6% da riqueza nacional.

Dados que retratam a profunda injustiça na distribuição da riqueza, num processo de concentração desta promovido por sucessivos governos.

Valorização urgente

É inegável a urgência da valorização geral dos salários e do aumento do SMN para 850 euros, como o PCP defende.

Para garantir uma mais justa distribuição da riqueza. Para valorizar o trabalho e os trabalhadores – que são quem produz a riqueza do nosso país – e melhorar as suas condições de vida. Para assegurar melhores reformas e pensões no futuro. Para assegurar o direito a tantos jovens (que ganham o SMN) a emanciparem-se e a construírem as suas vidas. Para dinamizar o mercado interno e combater a recessão. Para aumentar as contribuições para a Segurança Social e reforçar as condições de protecção social dos trabalhadores. Para criar emprego e desenvolver o país.

A criação e consagração do direito a um salário mínimo nacional foi uma das importantes conquistas da Revolução de Abril e do regime democrático. À data, representou uma melhoria muito expressiva nas condições vida dos trabalhadores. No entanto, ao longo de décadas, tem sido profundamente desvalorizado e não acompanhou o aumento do custo de vida.

Os aumentos recentes do SMN (que a luta dos trabalhadores obrigou a que tivessem lugar), ficaram aquém do necessário e possível. Mas mostraram também que o caminho a ser aprofundado é o da valorização dos salários.

Não se vive com 565 euros por mês. Sobrevive-se. Sentem-no, na sua vida quotidiana e nas dificuldades que enfrentam, os trabalhadores que, mês após mês, fazem contas ao pouco que recebem. As suas vidas demonstram bem a urgência do aumento do SMN e do aumento geral dos salários – combate que não abandonaremos. (fonte)

Obituário

 



 Expresso

Recordando o caso "filha rebelde" em 2011, que nos mostra como a liberdade expressão é criminalizada e pode ser sempre posta em causa em Portugal

 O país do 25 de Abril, cada vez mais regressa ao passado, com a sua democracia cada vez mais condicionada.

O crime de "ofensa a pessoa falecida" faz parte de uma lei fascista muito perigosa para os cidadãos e os democratas em particular. Este julgamento ocorrido em 2011, deu origem a um grupo de apoio no facebook muito lido em Portugal  e no estrangeiro.


»A administração do Grupo - Solidariedade com os réus do processo crime "A Filha Rebelde" decidiu passar o Grupo de Fechado para Secreto.

Lamentando esta decisão, pois na verdade os pressupostos que levaram a que uma ampla frente de democratas, patriotas e anti-fascistas se mobilizassem contra a perseguição fascista de que foram alvo o grupo de "arguidos" do processo "A Filha Rebelde", estendeu-se à sociedade em geral, sendo que os perseguidos por medidas terroristas e fascistas são agora TODO o povo português e todos aqueles que vivem à custa do seu trabalho.
Considerando que estes não foram "absolvidos" e aquele espaço deveria ser, hoje, um espaço de referência, de debate, de mobilização, para todos os que se revêm num processo que, tendo sido libertador para alguns - e ainda bem - havia fundadas esperanças e expectativas de que pudesse ser libertador para todo um povo que sofre o mesmo tipo de perseguição da que os "absolvidos" que agora decidem fechar este espaço, o foram.
Considerando, ainda, que O Grupo Solidariedade com os Réus d'A Filha Rebelde, há muito que devia ter deixado de ser um grupo fechado e nunca deveria ser um grupo secreto, decidimos criar este novo Grupo, o qual, todos assim o esperamos, deverá tornar-se um espaço ABERTO de debate e denúncia dos atropelos à democracia, e de afirmação de que "FASCISMO, NUNCA MAIS!" 
Ver menos»

"Filha Rebelde": Julgamento foi «um favor à democracia», dizem arguidos

Os três arguidos absolvidos no caso "Filha Rebelde" afirmaram, esta sexta-feira, que este julgamento «foi um favor à democracia».

(ver fonte)OTribunal Criminal de Lisboa absolveu esta sexta-feira Margarida Fonseca Santos, Carlos Fragateiro e José Manuel Castanheira dos crimes de difamação e ofensa à memória de pessoa falecida, num processo interposto pelos familiares do último director da PIDE, Fernando Silva Pais.

Em causa estava uma peça de teatro, "A Filha Rebelde", estreada no Teatro Nacional D. Maria II em 2007, sobre a filha do último director da PIDE, Fernando Silva Pais.

Os familiares do director da PIDE queixaram-se que a peça responsabilizava Silva Pais pelo homicídio do general Humberto Delgado.

À saída da sessão, Margarida Fonseca Santos, autora do texto da peça de teatro, reconheceu que o processo «foi muito doloroso», mas «é preciso lutar pela liberdade todos os dias».

Já José Manuel Castanheira considerou que este julgamento «acabou por ser pedagógico».

Com estas declarações, os três arguidos quiseram dizer que o julgamento suscitou todo um debate em torno da ditadura e da democracia, acabando por privilegiar a liberdade de expressão.Dos queixosos, a única que marcou presença em tribunal foi Berta Silva Pais Ribeiro, sobrinha de Silva Pais, que se recusou a prestar declarações.

A advogada dos assistentes recusou-se também a dizer aos jornalistas se vai ou não recorrer da sentença.

Os familiares de Silva Pais pediam uma indemnização de 30 mil euros.

Palmas e cravos vermelhos para réus absolvido no caso de "A Filha Rebelde"

Annie Silva Pais. A filha do último diretor da PIDE que se apaixonou pela 
Cuba de Fidel
Filha do último director da PIDE, casada com um diplomata suíço, passou-se para o lado dos comunistas na Cuba de Fidel. A desconcertante história de Annie Silva Pais, que faria 81 anos esta semana.No Bilhete de Identidade está Ana, mas toda a gente a conhece por Annie, diminutivo afetuoso que lhe deu o marido, o diplomata suíço Raymond Quendoz. Annie Silva Pais, filha única do último diretor da PIDE, Fernando Silva Pais, partiu para Cuba em 1962 com o marido, que tinha acabado de receber ordem de mudança de Lisboa para Havana.Foi logo evidente o entusiasmo com que recebeu a notícia. Cuba, país distante e tropical, era vista como a vanguarda política pelos intelectuais franceses que Annie tanto admirava. Começou aí o fascínio, que foi amadurecendo, já em Havana, à medida que começou a relacionar-se com gente próxima da revolução.

Annie era uma mulher “de grandes paixões”, para quem tudo “era um caso de amor”, relembra ao Observador José Paulo Fafe, especialista em marketing político e filho do primeiro embaixador português em Cuba depois do 25 de Abril, José Fernandes Fafe.

“Grandes paixões” por quem? “Por quem não sei, primeiro pelo marido, depois pelo médico do Fidel, depois por Pepe Abrantes [José Manuel Abrantes, Ministro do Interior de Fidel] e até talvez por Che ou pelo próprio Fidel Castro, era o que se dizia. Eu não posso confirmar, mas posso dizer que era uma mulher excessiva, no bom sentido, e que se entregou aos ideais da revolução com muita honestidade”.


É uma história fantástica de paixão, rebeldia e dor, reconstituída com minúcia por José Pedro Castanheira e Valdemar Cruz, ambos jornalistas do semanário Expresso, no livro A Filha Rebelde. Se fosse viva, Annie Silva Pais teria feito esta quinta-feira 81 anos.

Annie entregou-se à revolução como se tivesse encontrado aquilo por que tinha passado a vida à procura. E José Paulo Fafe entende-a bem, até porque foi em Cuba que ele passou parte da adolescência. “Em Cuba, no início, aquilo era mesmo sincero, era puro, os militares, o povo, aquilo foi feito por uma geração que realmente acreditava nas coisas pelas quais lutava”, relembra.

As histórias sobre Annie são todas escritas a “verde oliva”, a cor da farda que usavam os militares cubanos: e ela sentia-se uma entre eles. Se fosse viva, talvez lhe tivéssemos escutado, nesta semana em que o regime está de luto por Fidel, a mesma frase que nos chega pelas televisões das ruas de Havana, a mesma que José Fernandes Fafe, enquanto foi embaixador, ouviu repetidamente, muito antes da morte de Fidel. “Quantas vezes ouvi pessoas dizerem ‘Eu não sou comunista, eu sou castrista e por Fidel dava a minha vida'”, relembra ao Observador, que recebeu no Restelo, num apartamento onde, além de uma estante cheia de livros antigos de lombada grossa e amarelada, encontramos também, ao lado da chaleira, uma caixa de charutos cubanos.

Até chegar a Cuba, Annie tinha uma vida confortável, numa família próxima do poder no Estado Novo, e não passou nunca pelas privações sentidas por uma grande parte dos portugueses durante o salazarismo. O que a levou a apaixonar-se pelos ideais revolucionários cubanos? José Fernandes Fafe, que escreveu Annie: Uma Portuguesa na Revolução Cubana, baseado em factos reais sobre a vida da jovem rebelde, avança uma hipótese: “Annie cresceu numa família de classe média-alta, escudada do resto do mundo, era uma rapariga relativamente ingénua, que chegou a Cuba e se encantou pela festa, pelas pessoas, muito mais abertas do que em Lisboa, pela música e pelo carisma dos militares, foi maioritariamente esse o fascínio”.

O livro de José Pedro Castanheira e Valdemar Cruz

Che Guevara e o vestido

E havia, ainda, o Che. No testemunho que deu aos jornalistas do Expresso, Raymond Quendoz recordou o encanto que a sua ex-mulher desenvolveu por Che Guevara. “Recorda-se do primeiro domingo passado em Havana. Recorda-se de terem ido escutar o comandante Ernesto Che Guevara discursar numa das praças da cidade. Recorda-se do entusiasmo da esposa. Recorda-se da impressão provocada pelos batalhões femininos em volta do comandante. De todo o discurso, é isso que mais o fascina. Demora a perceber a dimensão da involuntária influência do Che sobre Annie. Desespera quando lhe parece estar a emergir o perfume do comandante em cada recanto da sua casa (…) Acha o comportamento da mulher ‘decrépito. Muito próximo da senilidade’ “, pode ler-se nas primeiras páginas de A Filha Rebelde.

Talvez confiando que Raymond não notaria, Annie deixou aos pés da cama, durante semanas, o vestido vermelho, justo e decotado, que tinha usado na noite em que conheceu Che. Ele tinha-lhe dirigido um elogio à roupa. “Jamais se conhecerá a dimensão do terramoto que naquele instante terá abalado os mais íntimos pensamentos de Annie”, escrevem José Pedro Castanheira e Valdemar Cruz sobre o comentário de Che, que pode bem ter consolidado a decisão de Annie em acabar com o casamento. Não há, porém, relatos de qualquer ligação íntima entre a portuguesa e Che Guevara.

Sabe-se sim, porque Annie não o escondia dos amigos, que a portuguesa tinha uma “fixação”, uma “paixão assolapada” pelo histórico guerrilheiro argentino. “O Guevara era um moralista, não era um político. Ele era um homem coerente, e os políticos não são coerentes. Levava aquilo a sério, estava concentrado, ele já tinha encarnado o papel de mito antes de morrer, por isso disse que só saia da Bolívia ´vitorioso ou morto´. Isto fascinava as pessoas, principalmente uma mulher como Annie, que sempre foi dada a paixões rápidas, talvez até de alguma forma superficiais”, diz José Fernandes Fafe.

É possível que Annie tenha passado os primeiros anos que esteve em Cuba nutrindo a ideia de um dia se juntar à revolução mas, até decidir fazê-lo, aproveitou todos os luxos que a vida de mulher de um diplomata lhe permitiu. Adorava as festas nas embaixadas, os jantares, a efervescente vida cultural de Havana, as noites no mítico hotel Tropicana.

“Era uma mulher lindíssima, até para mim, que a conheci quando era muito jovem e ela teria já perto de 40 anos”, diz João Paulo Fafe. Já o seu pai comenta que, tal como a mãe, “que aos 80 anos ainda era uma bela mulher”, Annie era “uma das mulheres mais bonitas de Lisboa”. Em Cuba continuou a cuidar-se, já que o pai e a mãe lhe enviavam, dentro de várias malas diplomáticas, cremes, maquilhagem e dinheiro.

Annie entra na revolução

Três anos depois de ter chegado a Havana, em 1965, Annie desapareceu durante mais de um mês, quando saiu do país para visitar uma amiga no México. Depois de regressar, passou-se para o outro lado da barricada. Aterrou em Cuba, o marido esperava-a, mas Annie permaneceu dentro do avião. Raymond foi-se embora, pensando que a mulher teria prolongado as férias.

Mas havia dois homens à espera da mesma mulher. Só um sabia o que se passava — e não era o marido de Annie. Raymond terá mesmo dito a Vallejo, segundo relata o livro, que “esta menina só faz o que lhe dá na gana”. Pouco depois, o carro do médico escapou-se do aeroporto, com Annie no lugar de passageiro, a toda a velocidade, revolução adentro. Com a ajuda do homem que na altura era médico de Fidel, René Vallejo, com quem se envolveu romanticamente, a portuguesa iniciou então uma nova vida ao serviço da revolução.

Na altura, temeu-se que tivesse sido raptada para ser utilizada como moeda de troca nas lutas anticoloniais. Ponderaram-se todos os cenários menos a deserção — até essa ser, finalmente, a única hipótese.

Os serviços secretos suíços passaram a tratar como um caso de segurança internacional o que ao início desprezaram como sendo um arrufo de casal. A CIA entrou em pânico. Raymond era responsável pela cifra, ou seja, pela descodificação das mensagens confidenciais que chegavam à embaixada. Annie poderia ter levado da embaixada suíça documentos confidenciais já que, para lá das portas da representação diplomática deste país neutro, se faziam as comunicações de outros países bem mais importantes, como, por exemplo, os Estados Unidos.

Nada disso. Até hoje não há prova de que Annie tenha transmitido aos cubanos qualquer informação sensível. A Suíça faz então regressar Raymond, que foi “interrogado por todas as polícias do mundo”, como diz José Fernandes Fafe, e, quando voltou à vida diplomática, foi enviado para o Senegal. “É dele a parte mais triste desta história. Nunca soube o que se estava a passar, só mais tarde. Foi envolvido num turbilhão, a carreira travada, o casamento destruído”, comenta Fafe.

Com a ajuda do homem que na altura era médico de Fidel, René Vallejo, com quem se envolveu romanticamente, a portuguesa iniciou então uma nova vida ao serviço da revolução. Aterrou em Cuba, o marido esperava-a, mas Annie permaneceu dentro do avião. Raymond foi-se embora, pensando que a mulher teria prolongado as férias.

Educada na Suíça antes de casar, Annie sabia alemão, francês, castelhano, inglês e português e rapidamente se tornou uma das mais requisitadas intérpretes do aparelho de Fidel. Sentia-se orgulhosa do seu papel. A vida modesta era para ela uma honra.

“Ninguém a obrigou. Ela vivia de uma forma muito austera sem ter razão nenhuma para isso. Queria viver como os cubanos, utilizava os livretes de senhas de racionamento como toda a gente, vivia num pequeno apartamento perto da Praça da Revolução”, relembra José Paulo Fafe, que esteve muitas vezes com Annie, “nos almoços de domingo que se faziam lá em casa”.

Tal era a devoção de Annie à revolução que até o que lhe era oferecido ela recusava. Ou aceitava a medo. “Lembro-me de ir com a minha mãe ao supermercado e ela dizer ‘Vou levar isto para a Annie, vou levar aquilo para a Annie’. Depois, chegávamos a casa da Annie e ela não queria aceitar. Dizia-nos que os vizinhos dela não tinham estes luxos, sendo que o “luxo” desta vez, lembro-me, era um ferro de engomar”, conta José Paulo Fafe.

Escândalo abafado em Lisboa

Em Lisboa, o escândalo da “fuga” da filha do major Silva Pais para se juntar aos ideais contra os quais a sua família se havia batido toda a vida terá provocado algum desconforto na família, mas nada terá passado das paredes da casa que habitavam, na Rua de Moçambique. As pessoas contactadas pelo Observador, que na altura estariam perto das orlas do poder, não se recordam de qualquer escândalo. Silva Pais decidiu, mesmo assim, ir falar com Salazar, mas este ter-se-á revelado frio e indiferente ao drama familiar e continuou a confiar a Silva Pais a gestão da polícia política.

O cartão de Silva Pais, último diretor da PIDE

Quem viveu estes tempos perto do poder assegura que a decisão de “angariar” Annie para a revolução cubana terá partido de alguém muito próximo de Fidel ou mesmo do próprio, como disse a mulher de um dos seus ministros aos jornalistas do Expresso. Rui Ferreira, que foi jornalista em Cuba e se tornou amigo de Annie, confirma as suspeitas, até porque nada tão sério seria feito sem conhecimento dos mais altos responsáveis do regime. Annie teria que conseguir um emprego e um apartamento, ambos atribuídos pelo Estado.

Se o pai, num primeiro momento pelo menos, permaneceu impávido à frente da PIDE, a mãe não se conformou e partiu para Cuba à procura da filha. A relação entre as duas nunca foi totalmente livre de atritos e quando Armanda Silva Pais chegou e viu a filha de farda, como as milícias, entendeu que não a conseguiria demover.

Annie integrou os Comités de Defesa da Revolução (CDR), grupos de vigilância criados para combater as várias organizações classificadas pelo regime como “contra-revolucionárias”. As CDR asseguravam um controlo apertado dos residentes de uma determinada área, eram os olhos e os ouvidos do regime e por isso eram acusados de promover a delação e a desconfiança entre as pessoas.

Annie viu a sua integração nestas brigadas justiceiras como algo natural, explica Rui Ferreira: “A Annie tinha uma formação autodidata, nunca frequentou cursos de ideologia ou escolas para quadros do partido. Annie simplesmente apaixonou-se pela revolução, numa idade em que a sua geração também se apaixonou pelo processo político, e mais nada”. Lopes da Costa, ex-embaixador em Cuba, concorda: “Para a minha geração era muito fácil converter-se à revolução cubana. Naqueles anos, era o socialismo sem os aspetos negativos do socialismo soviético. Era o socialismo com música, latino, sem o ar cinzento, chato e pesado da URSS”.

Annie integrou os Comités de Defesa da Revolução (CDR), grupos de vigilância criados para combater as várias organizações classificadas pelo regime como “contra-revolucionárias”. As CDR asseguravam um controlo apertado dos residentes de uma determinada área, eram os olhos e os ouvidos do regime e por isso eram acusados de promover a delação e a desconfiança entre as pessoas.

A relação entre Annie e Armanda não melhorou. A mãe entrou em desespero à medida que, em conversas com diplomatas portugueses e estrangeiros, percebeu que toda a Havana já sabia que a filha era comunista. Pediu-lhe que não se metesse na política, que o pai não lhe perdoaria, mas Annie não a ouviu. Havia discussões na embaixada, aos berros.

A mãe regressou, transtornada, mas continuou a escrever-lhe, na tentativa que reconsiderasse. Não está totalmente excluída a hipótese de que o próprio Silva Pais se tenha deslocado a Cuba no maior dos segredos, mas Annie não cedeu. José Fernandes Fafe relembra, na conversa com o Observador, “que entre polícias há sempre entendimentos, independentemente das fações que defendem”, recordando também que Annie “tinha uma grande admiração pelo pai” e “que existia uma grande identificação intelectual, apesar das divergências ideológicas”. Mais: “A família nunca quebrou com Annie, nunca deixou de ter notícias dela”.

O dia em que entregou o passaporte

Quando Annie foi entregar o seu passaporte diplomático à embaixada suiça, faz-se acompanhar por Roberto Meléndez, chefe de protocolo do Ministério das Relações Exteriores e de quem se dizia ter acesso direto a Fidel Castro. Ao entregar o passaporte, Annie passou de um mundo que lhe estava totalmente aberto diretamente para debaixo da alçada do Ministério do Interior de Cuba. Se alguma coisa corresse mal, não havia volta a dar-lhe.

A vida de Annie estava completamente modificada. Trabalhava no Departamento de Guias e Congressos do Instituto Cubano de Amizade com os Povos (ICAP), um emprego apenas acessível a pessoas de confiança do regime. Passou depois pela OSPAAAL — Organização de Solidariedade com os Povos de África, Ásia e América Latina — e, ao mesmo tempo, dava aulas na Escola Abraham Lincoln. Foi preciso coragem para tal transformação. Isso mesmo reconhecem os seus amigos cubanos, bem como os principais representantes do regime.

Ao entregar o passaporte, Annie passa de um mundo que lhe estava totalmente aberto diretamente para debaixo da alçada do Ministério do Interior de Cuba. Se alguma coisa corresse mal não havia volta a dar-lhe.

Gonzaga Ferreira testemunhou essa rutura e também ele reconhece, em declarações a José Pedro Castanheira e Valdemar Cruz, que não deve ter sido fácil escolher este caminho: “Foi precisa muita determinação para romper com toda a vida de bem-estar, mundanidade, elevado nível social, facilidades e mordomias, para embarcar numa vida que, à partida, seria de renúncia a tudo o que marcara a sua existência até então, de dificuldades e sacrifícios”. O mesmo diz ao Observador José Fernandes Fafe: “Visitei a mãe da Annie depois de Annie morrer e, não sendo um apartamento de luxo, era claramente uma casa de uma família que vivia bem, ao contrário do apartamento modesto de Annie em Cuba, com chão de pedra, onde vivia só com a sua cadelinha”.

Operada de urgência

Em Portugal, as vozes dissidentes têm cada vez menos meios de se fazerem ouvir. Annie, a partir de Cuba, envia longas cartas sobre a beleza dos ideais socialistas, numa tentativa de evangelização dos pais sem saber que, dali a pouco, dar-se-ia o 25 de Abril. O pai de Annie foi preso e a mãe, segundo revelam os seus diários, ficou revoltada com o novo regime — o 25 de Abril de 1974 é o “Holocausto” para Armanda Silva Pais. Perdeu tudo, estava sozinha e com medo. Raymond manteve-se um amigo entre pouquíssimos.

Annie voltou para visitar a família, mas a sua adesão à Lisboa revolucionária e a sua dificuldade em julgar os homens que prenderam o pai deixaram Armanda arrasada. Discutiam durante horas. Afinal, a sua própria filha sentia mais afinidades com os revolucionários do que com os seus próprios pais. E Annie regressou a Cuba por mais algum tempo.

Annie voltou para visitar a família, mas a sua adesão à Lisboa revolucionária e a sua dificuldade em julgar os homens que prenderam o pai deixaram Armanda arrasada. Discutiam horas a fio.

A 31 de maio de 1975, Annie voltou a Portugal. Está quase a abater-se sobre o país o verão mais quente de que há memória. Annie estava cá e colocou-se ao serviço da revolução, como intérprete e tradutora da 5ª Divisão, um organismo de dinamização cívica que tinha sido criado para promover os ideais da revolução através da produção cultural. O coronel Varela Gomes tornou-se um amigo próximo. Conheceu Otelo e Vasco Gonçalves e foi intérprete de ambos em Cuba e de Senén Casas, responsável máximo pelas Forças Armadas Revolucionárias de Cuba, em Portugal.

Voltou a Cuba depois de as diligências feitas junto dos dirigentes da revolução não terem surtido o efeito desejado por Annie: ao mesmo tempo que estabelecia ligações entre Portugal e Cuba, tentava mover influências para que o pai fosse libertado. Silva Pais começou a ser interrogado pelo alegado envolvimento no assassínio do general Humberto Delgado. Negará sempre qualquer culpa e morreu, em Janeiro de 1981, sem que tivesse havido sentença.

Quando regressou a Cuba, Annie começou a viajar ao serviço do ESTI — Equipo de Servicios de Traductores e Intérpretes. Até da Coreia do Norte enviou postais à mãe. Em Agosto de 1988, foi operada de urgência a um nódulo na mama. Annie ficou desanimada, alimentava-se mal, perdeu o cabelo.

Voltou ao trabalho depois de uma segunda operação e viajou por Chipre, Rússia, África. A mãe quis ir vê-la a Cuba, mas houve demoras na embaixada em Lisboa. Neste momento de aperto, Armanda esqueceu o seu ódio ao país que lhe levou a filha e revoltou-se contra os portugueses: “Gente indecente, só os cubanos estão a fazer o que podem, por ela e por mim”, lê-se numa entrada do seu diário, transcrita no livro A Filha Rebelde.

Quando chegou a Cuba, Annie estava claramente para lá de qualquer salvação. Adorada por todos, recebia visitas e flores dos colegas do ESTI, que lhe vigiavam o sono e aliviavam os momentos de dor. Annie quis passar os últimos dias em casa. Continuou a receber visitas. Arranjava-se para elas e punha tangos de Gardel. Morreu a 13 de julho, com 54 anos.

“Era uma rapariga que se ria”

José Fernandes Fafe explica Annie citando o filósofo alemão Friedrich Hegel. “A contradição é fecunda”, diz com ar solene. “A contradição entre o amor ao pai e o amor à revolução criou uma mulher convicta mesmo nas suas contradições. Hegel dizia que só se progride por contradições e a contradição não é negativa. As contradições dentro de Annie fizeram dela a mulher ‘amorosa’ que foi. Tinha uma coisa muito bonita: um riso de rapariga. Já entradota e quando se ria, era uma rapariga que se ria”.

“Estou convencido que estará a descansar, indiferenciada dos seus colegas de revolução, numa espécie de vala comum”

Annie foi sepultada no belo cemitério Cristobal Cólon — Cristóvão Colombo para nós — mas, quando José Paulo Fafe lá foi à procura do seu nome, nada encontrou. “Estou convencido que estará a descansar, indiferenciada dos seus colegas de revolução, numa espécie de vala comum”, diz ao Observador.

Não estará longe da verdade. José Pedro Castanheira e Valdemar Cruz também não encontraram a campa de Annie. Depois de dois anos, caso não exista um jazigo de família, os restos mortais de quem ali é sepultado passam para “o edifício da administração”. Annie é hoje um número numa caixa de cimento. (Observador)

quarta-feira, 28 de outubro de 2020

"Padre" Oliveirinha e Roberto Ferreira, não falam nem uma palavra sequer no seu patrão Sousa

 Albuquerque, remodela o teu governo, está em cacos.


Escrevem um post no seu jornal clandestino CORREIO da MADEIRA mas não citam nem uma palavra sequer acerca do «Dono Disto Tudo» Luís Miguel de Sousa, que tem a concessão gratuita do Porto do Caniçal para carregar e descarregar navios. São uns macacos espertalhões!
 O "padre" Oliveira está mais que estragado. Almejava ir para director da RTP/Madeira... mas não conseguiu falhou a Cunha (e silva) certa e ficou todo desiludido como é evidente.

 Eles negam estarem por detrás do Correio da Madeira. Mas são identificados pelo seu estilo de escrita. É o mesmo que utilizam quando escrevem editoriais no DN do Blandy Sousa onde trabalham em director e subdirector respectivamente.





Deixemos estes parvinhos carreiristas e deliciemos a nossa vista nesta obra prima da mãe Natureza !



Quim Barreiros faz paródia com o banqueiro ladrão protegido pela Justiça




"De tanto ver triunfar as nulidades; de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça. De tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar-se da virtude, a rir-se da honra e a ter vergonha de ser honesto".

Ruy Barbosa de Oliveira foi um polímata brasileiro, tendo se destacado principalmente como jurista, advogado, político, diplomata, escritor, filólogo, jornalista, tradutor e orador.
Polímata:(os polímatas são peritos em muitas áreas do conhecimento)



Os "Brâmanes" da alta finança nunca vão presos, mesmo que tenham sentenças transitadas em julgado. Eis a Justiça nazista de Portugal !

 


A justiça em Portugal é uma justiça de castas como na Índia. Embora esses senhores da justiça não confessem, mas todos nós já sabemos que as penas de prisão são para os chamados dalit, ou intocáveis. São as chamadas pessoas do povo que não pertencem às elites da alta burguesia e dos brâmanes do mundo da alta finança.



Rui Pinto responde: "José Miguel Júdice lidou durante décadas com ladrões e nunca se queixou"

Rui Pinto respondeu às acusações de que foi alvo por parte de José Miguel Júdice em tribunal.

Rui Pinto reagiu esta terça-feira às declarações de José Miguel Júdice em tribunal, dizendo que o antigo advogado "lidou durante décadas com ladrões, que lhe encheram a conta bancária através de honorários milionários, e nunca se queixou".

"José Miguel Júdice lidou durante décadas com ladrões, que lhe encheram a conta bancária através de honorários milionários, e nunca se queixou. Defende com unhas e dentes Ricardo Salgado dizendo que não é nenhum gangster. Acho um piadão a este ex-MDLP", escreveu o criador do Football Leaks em resposta ao depoimento de José Miguel Júdice, que apelidou Rui Pinto de "ladrão".

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Jerónimo Sousa deu raspanete ao provocador fascista (ver)

terça-feira, 27 de outubro de 2020

«E, se, ainda assim, o valor apurado não liquidar a dívida, sujeita-se à penhora de outros bens ou rendimentos, como salários e reformas.»

Nos últimos anos, a banca tem sido fortemente pressionada por reguladores e entidades públicas – Banco Central Europeu, Banco de Portugal e Governo – para se desfazer do crédito malparado. 
 Isto é, dos empréstimos que deixam de ser pagos por empresas e consumidores. Estas dívidas são amiúde vendidas a fundos de investimento, muitos conhecidos como “fundos-abutre”. 
 O negócio tem vantagens para bancos e fundos. Para os primeiros, é uma forma de “limpar” os balanços e de cumprir metas exigentes de solidez. Já os segundos adquirem grandes lotes de dívida a preço de saldo, para a seguir os cobrarem na íntegra aos devedores, se preciso for, recorrendo a “cobradores do fraque”, conhecidos por métodos de recuperação agressivos e pouco éticos.
  O negócio só não favorece o consumidor, elo mais fraco desta relação a três. A venda de malparado deveria garantir aos particulares os direitos que têm na banca – por exemplo, no crédito à habitação, a possibilidade de renegociarem os contratos, mantendo o empréstimo e a casa. Mas isso não acontece. Quem é apanhado nas garras destes fundos tem, em regra, duas opções: vender a casa ou sujeitar-se à execução, situação em que a perde na mesma. E, se, ainda assim, o valor apurado não liquidar a dívida, sujeita-se à penhora de outros bens ou rendimentos, como salários e reformas. Mais: a atividade de recuperação não está regulada, não tem supervisão e está no ângulo morto dos decisores políticos, deixando os consumidores à mercê deste negócio. Impõem-se medidas urgentes. A pressão do malparado vai aumentar. E muito em breve. (fonte: Dinheiro&Direitos)