segunda-feira, 5 de dezembro de 2016

Vivemos em ditadura no passado:Agora temos em Portugal, uma ditadura democrática policiada por tribunais e juízes corrutos

 
Quem definiu na perfeição a situação política em Portugal, antes e após 25 de  Abril, foi o grande artista plástico madeirense o  pintor, António Aragão, falecido em 2008.
“este regime de depois do 25 de Abril é muito pior do que o do Salazar, porque antes era uma ditadura, mas assumida, e agora é uma ditadura, mas disfarçada de democracia”.

Fonte da citação Diário de Notícias do Funchal

António Aragão entrevistado por Maria Luísa


Com a devida vénia do blog http://www.aragao.org/


Documentário produzido em 1994 pela RTP sobre António Aragão, da autoria da jornalista Maria Luísa

. António Aragão e o jornal clandestino do 

PCP/Madeira em 1978, chamado «O LIXO»


O economista João Abel de Freitas diretor do «FAROL DAS ILHAS»



O jornal era escrito pelo poeta Aragão e os textos eram fornecidos pelo PCP do qual António Aragão era militante. O jornal clandestino tinha por nome «O LIXO».Era impresso nas máquinas do partido na sua sede da rua da Carreira.Tinha uma tiragem pequena e era distribuido clandestinamente e à noite por debaixo das portas dos estabelecimentos comerciais e nas caixas de correio das residências dos intelectuais da cidade do Funchal.

 O teor das notícias eram as negociatas do PPD/PSD na altura e as ligações que este partido e o Alberto João tinham com os operacionais da Flama e os atentados que eles na altura faziam aos democratas da esquerda e do próprio Partido Socialista.

 Era Aragão, intelectual do partido o encarregado da sua redação e ilustração. Costumava fazer os desenhos e os têxtos no seu local de trabalho no Arquivo Regional.

 Alberto João alarmado mandou o Polícia Judiciária fazer uma busca à casa onde residia Aragão e ao Arquivo onde Aragão trabalhava. O nosso intelectual assustado deixou de escrever o jornal. Ficou apenas no 4º número. (felizmente para Aragão) a Polícia Judiciária nada apanhou na busca. Pois os papéis batidos à máquina, iam todos para a sede do PCP onde juntamente com os desenhos eram impressos num Stêncil e distribuídos.

 Com o cagaço de António Aragão lá o PCP teve que deixar de imprimir o dito Jornal clandestino. Não havia condições!

 Meses depois o partido abriu um jornal (desta vez legal) que era o FAROL DAS ILHAS. Tinha como diretor o dr. João Abel de Freitas o economista, que na altura pertencia à Junta de Planeamento da Madeira. O jornal era quinzenário e nele colaboravam: João Palla Lizardo, Rui Nepomuceno, Mário de Aguiar, na altura eleito na Assembleia Municipal do Funchal, Natália Paes e o próprio
João Abel de Freitas. 
 O FAROL DAS ILHAS publicou-se durante dois anos. Era um jornal muito mais brando nas notícias do que O LIXO uma vez que tratando-se de um jornal legal, tinha de ter mais contenção nas notícias que mandava lá para fora. Pois com PPD e seu braço armado (a FLAMA) a coisa não era para brincadeiras.

ARTUR FONTES — Quarta-feira, 24 Outubro 2012 — 0 Comentários

A REVOLTA do LEITE, Madeira 1936


ARTUR FONTES
«a minha prisão foi tida como um facto político (…) não podia ficar indiferente, tinha de me interessar pelo povo, se não me interessasse, não era um pároco digno»
Padre César Miguel Teixeira da Fonte
Procurado e encontrado num hotel do Funchal pelo chefe da PSP que, de pistola em punho, forçaria a porta do quarto onde o Padre Teixeira da Fonte se encontrava, na noite de 11 de Setembro de 1936. Ao mesmo tempo, a sua casa paroquial estaria a ser assaltada por elementos policiais. Ao pároco da freguesia do Faial, ser-lhe-ia informado da necessidade de se apresentar ao Governador militar. Seria falso este argumento, acabando por ser enclausurado num calabouço à meia-noite, sem ter estado presente ao governador militar. Retiram-lhe o breviário, para além de outros objectos pessoais, como, p.ex., um manual de história.
Interrogado por um agente da PVDE, a 14 desse mês, responderia à acusação de ter incitado o povo à revolta, da seguinte forma: “Perante o que V.Exa. me acaba de perguntar eu, mais do que nunca fico convencido de que quem manda no distrito do Funchal já não é o homem, mas sim a intriga personificada…só com o fim de prejudicar as pessoas de bem e satisfazer as mesquinhas paixões dos seus autores”, (João Abel de Freitas, in “A Revolta do Leite. Madeira 1936, 2011:120).
Transferido, de noite, para a prisão de Lazareto, conhecida como o “Forno” de Lazareto, pelas suas exíguas dimensões. Era tão pequeno este subterrâneo que «os presos tocavam-se uns nos outros como sardinha em lata e tão baixo que as cabeças podiam bater no tecto» (op.cit.128). Era-lhes servida uma refeição diária e seis litros de água. Com ele estavam mais 116 reclusos. O Pe. Teixeira da Fonte viria a embarcar para Lisboa a 22 de Junho de 1937, para o Forte de Caxias, apesar dos inúmeros apoios e abaixo assinados por membros da Igreja e da sociedade civil da Madeira. A 30 de Junho, sairia em liberdade condicionada da prisão de Caxias, tendo sido estabelecida residência fixa em Lisboa, com a «obrigação de comparecer todas as segundas-feiras, às 12 horas, na PVDE», (op.cit., pag.122). Alguns meses mais tarde, escreve um “Relatório Autógrafo sobre a Prisão dum Padre Católico, Um Brado de Justiça” e enviaria a Salazar e ao Ministro do Interior, de então. Em Lisboa, concluirá a licenciatura em Direito, tendo sido noticiada com certa ênfase, no “Notícias do Funchal,” em 1943. Viria participar em movimentos católicos de reflexão e voltará a ter problemas com a PIDE, o que não lhe retirará coragem de se apresentar como candidato às eleições de 1969, pela oposição, nas listas da CEUD, pelo círculo de Lisboa. Activo oposicionista nos movimentos católicos contra o Estado Novo, viria pertencer à comissão de apoio a Mário Soares quando este é deportado para São Tomé.
Mas, o que provocaria esta tomada de consciência política e consequente tomada de posições contrárias ao governo do Estado Novo, por parte deste Padre católico madeirense?
Diz ele: “O povo pediu-me e exigiu que eu o acompanhasse na sua reclamação. Eu como pároco da freguesia conhecia o problema e tinha obrigação de o conhecer” (pag.125). A origem destes protestos, estará na revolta dos produtores de leite, da Ilha da Madeira, contra o Dec.-Lei 26656, de 4 de Junho de 1936, emanado pelo governo central de Lisboa. Este Documento, criava a Junta Nacional de Lacticínios da Madeira. Através dele, eram fixados não só o número de postos de desnatação em 320, ao contrário dos 1108 existentes nessa data, cuja média de laboração era de 40 a 44 lt diários. Exigia-se uma laboração de 150 lt diários, a estes 1108 postos. Enquanto tal não acontecesse, não se poderiam criar novos postos de desnatação.
Os produtores, revoltaram-se contra estas medidas, pois «equivalia a criar um “monopólio do leite” em favor das duas / três maiores empresas fabricantes de manteiga do Distrito do Funchal» (op.cit. pag.10). Assaltaram repartições de finanças, os registos civis e algumas fábricas de manteiga. Impediram o transporte das natas para o Funchal, e atacaram forças policiais, entre outras ações de protesto. Para a Madeira, com o intuito de sufocar a revolta, o governo envia navios de guerra, forças militares e agentes da PVDE.
Foram feitos perto de 600 prisioneiros. Muitos deles, enviados para o Continente para serem julgados por um Tribunal Militar Especial, acabariam por permanecer nas diversas prisões, por um período de dois e três anos.
A título de curiosidade, em 1922 teriam havido já manifestações violentas naquela Ilha, por causa da descida do preço do leite. Em 1931, teria sido a luta contra o monopólio da farinha e, em 1934 seria o açúcar o motivo que provocaria fortes movimentações por parte dos produtores destes bens alimentares.
Termino este artigo, com uma citação de Madame Curie (1867-1934), apresentada na abertura do livro “A Revolta do Leite, Madeira 1936”, em que se pode ler:
Nada na vida tem de ser receado
Tem apenas que ser compreendido.(fonte)

Sem comentários:

Enviar um comentário