Despesas ocultas, e sem
sentido. Assim vai o OE
O
Orçamento do Estado tem sido,
ao longo de anos, o mecanismo
através do qual o Estado garante,
de forma encapotada, regalias e
tenças milionárias aos maiores
grupos económicos. O
Orçamento de 2021 (OE2021),
presentemente em discussão
parlamentar, não será
infelizmente excepção.
Os exemplos de maus gastos públicos e de
favorecimento de grupos económicos são
inúmeros. Em 2021, o Estado continuará a
gastar fortunas com as ruinosas parcerias
público-privadas (PPP) rodoviárias,
enriquecendo os concessionários privados
de forma obscena. No próximo ano, serão
mil e seiscentos milhões em rendas
garantidas, quantia ainda superior à de
2020. Estas verbas são incompreensíveis, já
que o valor actualizado do património
alocado ao negócio é de cerca de cinco mil
milhões (segundo o Eurostat), o que deveria
representar rendas de cerca de 300 milhões.
O pagamento das PPP rodoviárias irá, por
mais um ano, reflectir um custo mais de
cinco vezes superior ao valor dos activos.
Esta situação, um verdadeiro cancro
orçamental, irá prolongar-se pela próxima
década e representa um desequilíbrio
permanente nas contas públicas. Sob
proposta do Governo, beneficiando de um
silêncio cúmplice dos seus parceiros — Bloco
e Partido Comunista —, estas despesas
iníquas não serão sequer denunciadas pelo
PSD e CDS, partidos eles também
comprometidos com a origem dos 21
contratos de PPP rodoviárias ainda em vigor.
Mas isto é apenas uma pequena amostra…
A verdadeira insanidade orçamental do
OE2021 é a inscrição de uma verba de dez mil
milhões em “despesas excepcionais”, gastos
camuflados que representam cerca de 10%
da despesa pública anual prevista. Esta verba
cresceu, face a 2020, 50%, é quase
equivalente ao que se gasta em Educação e
representa muito mais do que é investido em
qualquer outra função primordial do Estado,
da Justiça à Segurança. Mas, para além de
extraordinárias, as despesas são iníquas. Em
participações de capital irão ser despendidos
mais dois mil e duzentos milhões de euros,
sem quaisquer benefícios para os cidadãos.
Surpreendentemente, ninguém questiona
Costa ou o ministro Leão sobre estas
“bagatelas” ou quais serão as empresas a
beneficiar destes aumentos de capital. Sobre
esta matéria, no Parlamento reina o silêncio:
apoiantes do Governo fingem que não
sabem, a oposição… moita-carrasco.
São também despesas excepcionais
ocultas as contribuições para o Fundo de Resolução da Banca, em montante superior
a 850 milhões de euros. Estas transferências
são cada vez mais um apoio ilógico à banca,
através de um Fundo de Resolução Europeu,
que não controlamos. Vamos já no sétimo
ano — desde a falência do BES, em 2014 — em
que milhares de milhões dos nossos
impostos são enterrados num sector
perdulário e fonte de inúmeros negócios
corruptos. Até porque, em apoios à banca,
os governos não se coíbem. O Estado chega
ao ponto de, em 2021, continuar a injectar 50
milhões no Banco Português de Negócios, 13
anos depois da nacionalização (que custou
aos portugueses cerca de sete mil milhões) e
dez anos depois da sua venda barata a Isabel
dos Santos. Justificam-no como “despesas de
reprivatização”.
É o delírio orçamental: o
Estado, que vendeu por 40 milhões,
continua a pagar, em montantes superiores
ao valor da venda!
Mas o que é ainda menos compreensível é a inclusão no OE2021
de uma verba de
cerca de cinco mil
milhões para
empréstimos
concedidos pelo
Estado. O destino
deste montante
(superior ao
orçamento de quase
todos os ministérios)
é verdadeiramente
secreto, porquanto
em nenhum dos
documentos é
explicitado, em
nenhuma
comunicação foi
referido. A verba é
colossal; e é oculta.
Ao OE2021 falta,
para além de
clareza, coerência.
Irão destinar-se
milhões para apoiar a Grécia, escondem-se
mais 500 milhões para a TAP, a acrescer aos
1200 milhões já despendidos em 2020… São
despesas sem sentido.
No próximo ano, tal como nos anteriores,
os recursos públicos serão canalizados para
um restrito grupo de privilegiados e para
muitas despesas sem qualquer
racionalidade. O OE2021 irá certamente ser
aprovado, beneficiando do apoio duma
esquerda entorpecida, com o Bloco de
Esquerda e o Partido Comunista como
cúmplices da entrega de milhões à banca e
aos concessionários das PPP.
Inexplicavelmente, PSD e CDS também não
denunciam estes desmandos, numa atitude
que revela uma cumplicidade envergonhada.
Paulo Morais, Presidente da Frente Cívica (publicado no jornal Público)
Paulo Morais futuro candidato do Ptp para as Presidenciais.
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