Uma opinião insuspeita
Entretanto, fui lendo, aqui e ali, os nossos ‘especialistas’ no assunto — que são sempre os mesmo dois ou três a quem a imprensa dá palco, formatados em cursilhos nos Estados Unidos e doutrinados nos cocktails do 4 de Julho na embaixada americana.
De tão preguiçosos e desequilibrados, os seus argumentos chegam a ser pungentes. O mais irritante é o da “invasão e anexação da Crimeia ucraniana” em 2014.
Quando a Ucrânia se tornou independente, o normal é que tivesse devolvido a Crimeia (habitada por 65% de russos e 15% de ucranianos) à Rússia, e não que tivesse ficado à espera que a Rússia se conformasse com a perda de um território que é para ela o que o Algarve é para nós.
O segundo argumento, que repetem até à náusea e sem corar, é que tudo isto deriva da insustentável incapacidade de Putin conviver com Estados democráticos às suas portas. Não se trata, como dizem os russos, de uma questão de segurança: de verem crescer uma aliança militar, do Báltico até ao Bósforo, que nasceu para fazer frente a outra que já desapareceu, mas que, apesar disso, não pára de crescer, de se expandir e de aumentar os seus gastos militares, que já são dez vezes os de Moscovo. Não, juram eles, o que incomoda Putin não é esta postura ‘defensiva’ da NATO, não é o cerco militar, que qualquer criança que olhe para um mapa percebe: é o ‘cerco democrático’.
Miguel Sousa Tavares no «Expresso»
O grave não é ter uma opinião profundamente errada.
ResponderEliminarGrave e patético é a arrogância do tom, a sobranceria de quem acha que sabe mas, afinal, foi profundamente ingénuo e baralhou tudo, num raciocínio em que ataca quem, afinal, tinha razão.
Lamentável Miguel Sousa Tavares...
A Crimeia era da Rússia mas não habitada por russos mas sim pelos tártaros que foram depois vítimas das deslocalizações de Estaline e deportados para a outra ponta da Rússia, junto com cerca de 10 milhões de ucranianos que tiveram de desocupar as suas terras prontamente colonizadas por russos.
ResponderEliminarA Crimeia não foi dada à Ucrânia numa “noite de bebedeira” de Krutchev mas sim através de um acordo que fez a Ucrânia ceder à Rússia uma área extensa e proporcional da sua planície de terras negras férteis situadas a norte do país alterando também aí as suas fronteiras internas. Toda esse território permanece na posse da Rússia. Gosto muito de história e de repor os factos.