No dia 24 de Fevereiro morreu padre Mário Oliveira autor do famoso livro "Fátima nunca mais"! Ninguém mais do que ele lutou contra o obscurantismo religioso
Denunciou também que o enclausuramento forçado da irmã Lucia foi um crime da Igreja dos negócios que nunca foi punido. A "irmã Lúcia" foi enclausurada contra a sua vontade durante décadas.
Morreu Mário de Oliveira, o padre que combateu Fátima e a PIDE
O Padre Mário de Oliveira, autor de livros polémicos como "Fátima, nunca mais", faleceu nesta quinta-feira, aos 84 anos, no Hospital de Penafiel, onde estava internado desde o final do mês de janeiro devido a um acidente de viação.
Conhecido popularmente por Padre Mário da Lixa, devido à sua forte ligação com a comunidade de Macieira da Lixa, no concelho de Felgueiras, o presbítero não resistiu aos ferimentos sofridos a 27 de janeiro, quando o veículo em que seguia se despistou devido à falta de travões, embatendo com violência numa residência.
Internado no Hospital de Penafiel com fraturas múltiplas, permaneceu nos cuidados intensivos até ao início da semana. Apesar da aparente estabilização do quadro clínico, que resultou na sua transferência para a ortopedia, o presbítero sofreu uma recaída súbita nas últimas horas, vindo a falecer naquela unidade perto das 9 horas da manhã.
A ligação de Mário de Oliveira, natural da freguesia de Lourosa, em Santa Maria da Feira, aos estudos religiosos iniciou-se em 1950, quando deu entrada no Seminário da Diocese do Porto. A ordenação como padre aconteceu em 1962, tendo pouco depois sido enviado como capelão das tropas portuguesas na Guiné-Bissau.
As suas posições públicas contra a manutenção do conflito foram mal recebidas pelas estruturas eclesiásticas de então, mas também pela PIDE, que o prendeu por duas vezes e o levou a julgamento, tendo sido absolvido.
Expulso da Igreja Católica na década de 1970, o Padre Mário entregou-se desde então à atividade jornalística, dirigindo o jornal "Fraternizar", e à escrita de livros, dos quais o mais polémico foi "Fátima, nunca mais", que chegou à oitava edição em poucos meses.
A sua obra estava a ser editada há vários anos pela Seda Publicações, de Jorge Castelo Branco, incluindo o seu derradeiro livro, "Do mítico Cristo-da-Fé ao Jesus Pré-Histórico", publicado no ano passado.
Da sua vasta obra, composta por 52 títulos, predominam os estudos bíblicos, grande parte dos quais centrados na denúncia do que considerava ser o desvirtuamento total da mensagem de Jesus Cristo.
Paralelamente, dedicou-se ainda à dinamização do Barracão de Cultura, projeto de dinamização cultural, social e cívica que desenvolveu em Macieira da Lixa e ao qual se manteve ligado até aos últimos dias.
Numa das suas últimas entrevistas, concedida em 2019 à "Notícias Magazine", manteve o discurso crítico para com as estruturas eclesiásticas e, apesar de ter considerado que ainda vivemos numa sociedade clericalizada, defendeu que essa influência tem os dias contados: "O século XXI é pós-cristão, pós-católico e pós-religioso". (fonte JN)
II. Depois foi enviado para a Guiné-Bissau como capelão das tropas portuguesas. Foi, dizia, “pregar o Evangelho da Paz aos que lá faziam a Guerra Colonial”. Ao fim de quatro meses foi expulso.
O padre Mário cedo se fez notar como antifascista e por se ter oposto à guerra colonial. Foi preso duas vezes pela PIDE em Caxias e julgado pelos tribunais do regime salazarista por subversão.
Em Março de 1973, por decisão do Bispo António Ferreira Gomes foi colocado na situação de “sem ofício pastoral oficial”, ou seja proibido na prática de exercer o sacerdócio. Mas não desistirá da sua fé religiosa nem da sua vertente crítica e solidária. Torna-se jornalista tendo trabalhado jornal República. Seguiram-se os jornais Página Um, Aqui e Correio do Minho. Mas é como diretor do jornal "Fraternizar" que se destacará nos últimos anos.
À atividade jornalística somará a escrita de livros. 52 ao longo toda a sua vida. Um dos mais famosos será “Fátima, nunca mais” de 1999, sucessivamente reeditado. Nele, apresenta as aparições de Fátima como um mito e critica a hierarquia da Igreja por ter abusado psicologicamente das três crianças que as relataram.
Homem de causas, Mário de Oliveira não fugia das polémicas. É conhecido ainda, por exemplo, por ter sido uma das vozes sonoras pela descriminalização do aborto em Portugal.
Para além disso, desenvolverá uma intensa ação de solidariedade internacionalista para com os povos da América Latina nos piores momentos das ditaduras que sofreram no século passado. Participa na comunidade “Grão de Trigo” que tem como objetivo viver junto do “povo marginalizado de São Pedro da Cova” e onde fundou a Associação Padre Maximino.
Será ainda um conhecido dinamizador cultural, nomeadamente na Associação Cultural e Recreativa “As Formigas da Macieira”, de Macieira da Lixa, no âmbito da qual criará o Barracão de Cultura em que esteve envolvido até ao fim da vida. (fonte : Esquerda Net)
Mário de Oliveira, antigo pároco em Macieira da Lixa,
no concelho de Felgueiras,
distrito do Porto, uma figura popular que se destacou pela resistência
antifascista e pela oposição à guerra colonial, tendo mais tarde publicado livros polémicos, contestando
a doutrina da Igreja, sendo nomeadamente um dos autores mais firmes na desmistificação do fenómeno de Fátima, com livros como
como Fátima, Nunca Mais, morreu na quinta-feira, aos 84 anos, no
Hospital de Penafiel, onde estava internado desde o final do mês de janeiro devido a um acidente de viação. Popularmente conhecido como
Padre Mário da Lixa, devido à sua
forte ligação àquela comunidade, o
presbítero acabou por sucumbir
aos ferimentos sofridos a 27 de janeiro, quando o veículo em que seguia se despistou devido à falta de
travões, embatendo com violência
numa residência. «Nem fiéis defuntos, nem defuntos. O que há
são cadáveres ou coisas biodegradáveis cremados ou sepultados. Nos túmulos e nos vasos com
as cinzas não está ninguém. Somos corpos animados, não um
corpo e uma alma. E é como corpos animados invisíveis que
prosseguimos, quando morremos», escrevia o antigo pároco na
sua página do Facebook em novembro passado. As suas intervenções
eram sempre desempoeiradas, o
tom desenvolto, sem peias que o tornou uma voz incómoda para a Igreja, o que levaria ao seu afastamento das funções de capelão. Ele mesmo recordava numa outra entrada
como bastou uma pergunta para selar o seu destino: «Na homília do
Dia Mundial da Paz, 1 de janeiro de 1968, em Mansoa-Guiné,
pergunto ao Batalhão se estamos
ali para defender o direito dos povos colonizados à autonomia e
independência ou para o impedir? A Pergunta valeu-me a expulsão de capelão militar e o rótulo de ‘padre irrecuperável’.»
Capelão das tropas portuguesas
na Guiné-Bissau, Mário de Oliveira foi acusado de subversão, e chegou mesmo a ser detido por duas vezes no período anterior ao 25 de
Abril, por assumir o combate ao regime. Ele mesmo o contou nas suas
palavras: «Depois de ser expulso
de capelão militar na Guiné-Bissau (março 1968) e já então dado
como ‘padre irrecuperável’ pelo
respetivo bispo castrense, D. António dos Reis Rodrigues, ao fim
de 4 meses a Evangelizar África
e a defender o direito dos seus povos colonizados à sua autonomia
e independência política; depois
de ser exonerado de pároco de
Paredes de Viadores, ao fim de
14 meses (1969) pelo Administrador Apostólico da Diocese, D. Florentino de Andrade e Silva; depois de ter sido duas vezes preso
político em Caxias sem direito a
caução como pároco de Macieira da Lixa e outras tantas vezes
julgado e absolvido no Tribunal
Plenário do Porto – da segunda
vez, em fevereiro de 1974 – soube,
nessa altura, pela boca do bispo
do Porto D. António Ferreira Gomes, que desde 21 março 1973, o
dia em que havia sido preso pela
segunda vez, que não era mais o
pároco de Macieira, nem seria
mais pároco de nenhuma outra
paróquia. Passei, desde então, à
condição original de Presbítero
longe dos templos e dos altares,
mas muito mais próximo das
pessoas nos seus ambientes de
vida quotidiana e, pouco depois,
Presbítero-Jornalista profissional, até para poder sobreviver da
minha profissão secular. E disso
dei conhecimento presencial ao
referido Bispo, que ficou manifestamente aos papéis, ‘Então –
diz-me – eu tiro-lhe uma tribuna
e o Pe. Mário está agora numa
outra de muito maior alcance?’
Mas é o que sou desde então,
Presbítero-Jornalista.»
Natural de Lourosa, em Santa
Maria da Feira, distrito de Aveiro,
Mário de Oliveira nasceu a 8 de
março de 1937 e viria a iniciar os
estudos religiosos em 1950, quando deu entrada no Seminário da
Diocese do Porto. A ordenação
como padre aconteceu em 1962,
tendo sido depois coadjutor na Paróquia das Antas, no Porto, professor de Religião e Moral nos Liceus
Alexandre Herculano e D. Manuel
II. Depois foi enviado para a Guiné-Bissau como capelão das tropas
portuguesas. Foi, dizia, «pregar o
Evangelho da Paz aos que lá faziam a Guerra Colonial». Ao fim
de quatro meses foi expulso. Não
foram apenas as estruturas eclesiásticas que lhe censuraram as posições contra o conflito, a própria
PIDE intercedeu, e o pároco foi preso por duas vezes, sendo levado a
julgamento e absolvido.
Depois de se ver proibido de
exercer o sacerdócio, não abdica
nem da postura crítica nem do
exemplo crístico, e é como jornalista que prossegue a sua atividade solidária e crítica, trabalhando
em jornais como o República, Página Um, Aqui e Correio do Minho.
Mas é como diretor do jornal Fraternizar que se destacará nos últimos anos. A par desta intervenção
diária, escreveu ao longo dos anos
52 livros, a maioria deles estudos
bíblicos em que expunha o desvirtuamento da mensagem de Jesus
Cristo. O livro que teve maior repercussão terá sido Fátima, Nunca Mais, de 1999, tendo sido sucessivamente reeditado. Nele, apresenta as aparições de Fátima como
um mito e critica a hierarquia da
Igreja por ter abusado psicologicamente das três crianças que as relataram. Destacou-se ainda por ter
sido uma das vozes sonoras pela
descriminalização do aborto em
Portugal. Nos últimos anos, teve
também um papel muito ativo
como dinamizador cultural, nomeadamente na Associação Cultural e Recreativa ‘As Formigas da
Macieira’, de Macieira da Lixa, no
âmbito da qual criará o Barracão
de Cultura em que esteve envolvido até ao fim da vida. (fonte O Sol)
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