O Estado Novo fez uso da Escola Primária como um dos principais instrumentos para, a partir das crianças, integrar os portugueses na ideologia do regime, sintetizada na máxima: Deus, Pátria e Família
Na parede, frente aos alunos, havia em todas as salas de aula um crucifixo e dois retratos, um do Doutor Salazar e o outro, do Presidente da República. O de Salazar manteve-se até 1968, quando foi substituído pelo do Doutor Marcelo Caetano, enquanto o do Presidente da República foi mudando com o tempo, ao do Marechal Carmona, sucedeu-se o do General Craveiro Lopes e o do Almirante Américo Tomás.
Visando banir os projectos educacionais da Primeira República, o Estado Novo alterou a formação de professores, substituiu os programas, adaptando-os à nova ideologia, separou os sexos, além de que reduziu a escolaridade obrigatória de 4 para 3 anos. Reforçou o papel da escola no controlo ideológico e orientação política dos alunos, no culto das virtudes nacionalistas, no elogio da vida modesta e rural e na secundarização da mulher face ao homem. O fervor patriótico e o cunho religioso enquadrados na ideologia oficial do Estado Novo estavam diluídos nas matérias curriculares, nomeadamente, na Leitura, na História e na Geografia, no propósito de, a partir dos bancos da escola, então com início aos sete anos de idade, estimular estas virtudes nos homens e mulheres do futuro.
Na segunda metade dos anos de 1930, quando eu a frequentei, o ensino obrigatório terminava com o exame da 3ª classe (3º ano, como agora se diz), certificado pelo então “Diploma do Primeiro Grau”, exigível, por exemplo, para ingresso nos lugares mais humildes da função pública, no comércio, como caixeiro, nos correios, como carteiro ou boletineiro e, até, para ser eleitor. No discurso proferido em 12 de maio de 1935, na sede da Liga 28 de Maio, Salazar disse: “Oiço muitas vezes dizer aos homens da minha aldeia «Gostava que os pequenos soubessem ler para os tirar da enxada». E eu gostaria bem mais que eles dissessem: «Gostaria que os pequenos soubessem ler, para poderem tirar melhor rendimento da enxada»”.
A partir de 1956, a escolaridade aumentou para 4 anos, apenas para os rapazes. Só quatro anos depois, esta obrigatoriedade foi decretada para as raparigas. Ler, escrever e contar era tudo o que o cidadão comum necessitava para fugir à vida do campo, ao aprendizado artesanal ou oficinal e a outros trabalhos que apenas fizessem uso da força braçal.
A pedagogia estava na ponta da régua, versão escolar da tradicional palmatória ou menina de cinco olhos. Com alguns professores, as reguadas estalavam nas mãos das crianças “por dá cá aquela palha”, quer por motivos de disciplina, quer por erros nos ditados, nas contas e em quaisquer outras matérias.
Mau grado os muitos defeitos apontados, ao contrário de hoje, em que, estupidamente, os programas escolares menorizaram o grau de aprendizagem das crianças, a escolaridade primária desses anos tinha um nível de exigência incomparavelmente superior, com notável estimulação da memória e exercitação do raciocínio matemático. como se demonstra pelo tipo de problemas que éramos levados a fazer, na 4ª classe e no exame de admissão ao Liceu: «Um tanque com oito metros de comprimento, por cinco de largura e dois e meio de fundo, recebe água de uma torneira que debita sessenta e dois litros por minuto. Quanto tempo...?
À margem da Escola Primária havia as chamadas “Escolas Incompletas”, mais tarde designadas “Postos Escolares”, com o propósito de combater o analfabetismo no seio de populações sem escola nem condições mínimas de fixar professores. Aqui o ensino era ministrado por “regentes escolares”. Na imensa maioria mulheres, de preferência, oriundas dos próprios locais, ganhavam metade do ordenado de um professor, bastava que possuíssem a 4ª, que demonstrarem ter bom comportamento moral e adesão ao regime. A escolaridade obrigatória, como se disse, baixara para a 3.ª classe e as crianças estavam preparadas para trabalhar e ouvir o sermão do senhor padre aos Domingos. (Por António Galopim de Carvalho)
O CUELHO conseguiu o diploma da terceira classe
ResponderEliminarE ainda diz mal do Salazar..
EliminarEstudasses
EliminarConheço muito gente na Madeira que é comunista e socialista que foi para a universidade com o curso pago pela Mocidade Portuguesa
ResponderEliminarA educação do Coelho deve-se ao Salazar. Hoje em dia com o avanço do ensino nem chegava ao sétimo ano. Acéfalo de nascença.
ResponderEliminar