Na “jurisprudência”
e “doutrina da liberdade de
expressão”, há “um antes
e um depois” do advogado,
refere associação
A Associação ProPública — Direito e
Cidadania decidiu atribuir a Francisco Teixeira da Mota (advogado do
PÚBLICO) o Prémio Nelson Mandela,
pela “carreira na defesa dos jornalistas, da liberdade de expressão e dos
direitos humanos”, homenageando
assim “todos os advogados” que “têm
defendido jornalistas, escritores,
comentadores e outros cidadãos que,
em Portugal e no estrangeiro, são vítimas de intimidação, retaliação e perseguição, apenas por revelarem a
verdade”.
O presidente da associação, Agostinho Pereira de Miranda, conta que,
este ano, centraram a atenção nas
fake news, na “mentira no mundo da
informação” como “privação” do
“direito à verdade”, questões que
consideram “talvez a maior ameaça
à democracia”. Para a associação,
um dos advogados que “mais anos
dedicou à defesa dos jornalistas é
Francisco Teixeira da Mota”: “Na
jurisprudência e na doutrina da liberdade de expressão no nosso
país, há um antes e um depois de
Francisco Teixeira da Mota.
Como
poucos da sua geração, o advogado
tem servido exemplarmente a justiça, a democracia e os direitos humanos”, lê-se num comunicado.
Agostinho Pereira de Miranda salienta
que Teixeira da Mota é “alguém que,
ao longo de mais de 30 anos, tem
defendido não só a liberdade de
expressão, de imprensa”, mas os
“jornalistas que são fiéis à sua função
de revelar a verdade”.
Para Francisco Teixeira da Mota, o
prémio é um motivo de “orgulho”,
mas sobretudo o “reconhecimento
do papel que a informação e a liberdade de expressão têm numa sociedade democrática”: “Tem sido o meu
combate ao longo dos anos ver reconhecido, sobretudo pelos tribunais,
essa dimensão da liberdade de
expressão”, diz. Embora “não tenha
trabalhado só com o PÚBLICO na
liberdade de expressão e de informação”, tendo “defendido jornalistas de
outros meios de comunicação”, nota
que o PÚBLICO lhe “permitiu aprofundar estas questões, levar as questões da liberdade de expressão até ao
tribunal europeu”: “Tive aí à entrada
um mestre que era o Vicente Jorge
Silva [o primeiro director do PÚBLICO], que foi uma pessoa que sempre
me acompanhou e sempre se interessou”, conta, recordando que conseguiram, em 2000, a primeira condenação do Estado português num caso
de violação do direito à liberdade de
expressão pelo Tribunal Europeu dos
Direitos Humanos.
António Henriques Gaspar, ex-presidente do Supremo Tribunal de
Justiça, que conhece o advogado há
“muitos anos”, reconhece que “a
consolidação da defesa de princípios
do Estado de direito e, sobretudo em
matéria de liberdade de expressão,
muito se deve a Francisco Teixeira
da Mota, pelas intervenções processuais que tem tido no Tribunal Europeu dos Direitos do Homem”: “Nessa matéria, foi realmente muito
relevante, pela divulgação, pela
pedagogia”, diz.
Nasceu em Lisboa, em 1954, é licenciado em Direito pela Universidade
de Lisboa e pós-graduado pelo Instituto da Comunicação Social, na Faculdade de Direito de Coimbra. É autor
das obras Escrever Direito I e II e Faça-se Justiça!, bem como O Tribunal
Europeu dos Direitos do Homem e a
Prémio Nelson Mandela da ProPública a Francisco Teixeira da Mota Liberdade de Expressão — Os casos Portugueses e a Liberdade de Expressão
em Tribunal. Escreveu ainda Alves
Reis, Uma História Portuguesa e Henrique Galvão, Um Herói Português.
Entre outros aspectos do seu percurso, fez parte do grupo de peritos do
Conselho da Europa para os Direitos
dos Utilizadores da Internet.
O presidente da ProPública — Direito e Cidadania explica que o prémio,
de 10 mil euros, será atribuído anualmente a alguém na área do direito do
interesse público. O prémio deve o
nome a Nelson Mandela, que, nota,
criou o “primeiro escritório de advogados negros”, na África do Sul, que
defendia o “interesse público, do bem
comum”. A ProPública — Direito e
Cidadania é uma associação privada,
constituída em Junho de 2020, com
o propósito da “defesa jurídica do
interesse público”. Defende, lê-se no
site, que “todos têm direito a uma
justiça célere, equitativa e tendencialmente gratuita, apoiando indivíduos
e organizações independentes comprometidos com a defesa do Estado
de direito, da liberdade e dos direitos
humanos” e centrando-se “na representação dos ofendidos em causas
estratégicas de interesse público e
social, nomeadamente em defesa dos
mais vulneráveis, das vítimas de discriminação e dos direitos das gerações futuras”.
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