domingo, 23 de maio de 2021

Nem a fundação Calouste Gulbenkian escapou os esquemas da grande corrupção em Portugal

 


Últimos anos de vida em Lisboa

Em abril de 1942, em plena II Guerra Mundial, Calouste Gulbenkian encontra-se em França, mas decide procurar abrigo num país neutro. A escolha recaía entre a Suíça e Portugal.

Gulbenkian estabelece-se em Portugal graças à sua situação geográfica: caso fosse necessário, poderia escapar pelo mar para os Estados Unidos. Acabaria por ficar até à sua morte. A pacatez social de Lisboa, o sistema fiscal que encontrou, e a não interferência dos media terão provavelmente pesado na sua decisão. Em Lisboa, Gulbenkian sente-se bem acolhido. Mais tarde, escreverá que “nunca havia sentido em mais lado nenhum” uma hospitalidade como a que o rodeou em Lisboa, uma cidade tranquila numa Europa devastada pela guerra.

O Hotel Aviz, em Lisboa, foi a sua casa durante 13 anos. Calouste Gulbenkian morreria em Lisboa, a 20 de julho de 1955, aos 86 anos. Em testamento (1953) deixou importantes legados aos seus filhos, definiu pensões vitalícias para outros familiares e colaboradores, e estabeleceu a constituição de uma fundação internacional, com o seu nome, herdeira do remanescente da sua fortuna, com sede em Lisboa, presidida pelo seu advogado de confiança, Lord Radcliffe. A ele confiou a missão de agir em benefício de toda a “humanidade”. Esta fundação deveria refletir o que considerava as suas maiores proezas: a sua coleção de obras de arte e o seu papel como “arquiteto de empreendimentos”, concebendo estruturas para englobar e reunir diferentes nações, grupos e interesses.

Depois da sua morte, seguiram-se árduas negociações com os Governos Português e Francês para viabilizar a saída de França da coleção de arte de Gulbenkian e definir a base legal da fundação. A coleção completa veio para Portugal em 1960, tendo estado exposta no Palácio do Marquês de Pombal (Oeiras) entre 1965 e 1969. Só 14 anos após a morte do ilustre colecionador, seria concretizado o seu último desejo com a abertura de portas do Museu Calouste Gulbenkian, em Lisboa.

Mas divergências quanto ao peso da atividade internacional da Fundação e à composição do seu Conselho de Administração, designadamente a maioria de membros de nacionalidade portuguesa, e o receio da interferência do Governo, conduziram Lord Radcliffe a renunciar, sendo a presidência da Fundação assumida por José de Azeredo Perdigão.

Presentemente, a Fundação Calouste Gulbenkian – uma das maiores fundações a nível europeu – esforça-se para que a sua atividade seja mais orientada para ações de índole internacional, em parte para fazer face a problemas mais prementes da sociedade, mas, igualmente, para honrar os desejos do Fundador, colaborando ativamente com outras fundações em questões internacionais.

A biografia definitiva de Calouste Gulbenkian, um trabalho de fundo cheio de desafios, foi preparada pelo historiador britânico Jonathan Conlin, e publicada em 2019, no 150º aniversário do nascimento de Calouste Gulbenkian. (FONTE)









 

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