sexta-feira, 28 de maio de 2021

O presidente de Angola pede perdão em nome do estado Angolano aos familiares das vítimas da purga do 27 de Maio de 1977, onde foram assassinadas 30 mil pessoas

 

Presidente de Angola pede desculpa pelas execuções do 27 de Maio de 1977

Nos próximos dias começa o processo de localização dos restos mortais das figuras envolvidas na alegada tentativa de golpe

 Ao pedir desculpas em nome do Estado angolano pelas execuções sumárias levadas a cabo após o alegado golpe de 27 de Maio de 1977, o Presidente angolano, João Lourenço, deu um passo importante para a reconciliação nacional sobre um dos episódios mais marcantes do período a seguir à independência. “Não é hora de apontarmos o dedo procurando os culpados. Importa que cada um assuma as suas responsabilidades na parte que lhe cabe. É assim que, imbuídos deste espírito, viemos junto das vítimas dos conflitos e dos angolanos em geral pedir humildemente, em nome do Estado angolano, as nossas desculpas públicas pelo grande mal que foram as execuções sumárias naquela altura e naquelas circunstâncias”, disse o chefe do executivo angolano na quarta-feira, véspera da cerimónia oficial de homenagem às vítimas, onde foram entregues as primeiras certidões de óbito aos familiares. Antes, realizou-se uma homilia no Cemitério da Santa Ana, em Luanda. “O pedido público de desculpas e de perdão não se resume a simples palavras e reflecte um sincero arrependimento e vontade de pôr fim à angústia que estas famílias carregam por falta de informação quanto aos seus entes queridos”, disse o Presidente angolano numa comunicação transmitida pela Televisão Pública de Angola. João Lourenço anunciou também que nos próximos dias terá início o processo de localização dos restos mortais e ossadas de figuras destacadas envolvidas na alegada tentativa de golpe, como Nito Alves, Sita Vales, José Van-Dunem, ex-militares e outras vítimas do 27 de Maio, para exumação e entrega aos familiares. Um dos órfãos do 27 de Maio, João Van Dunem, aguarda “serenamente” os restos mortais dos seus pais, salientando que a promessa do Presidente angolano vai ao encontro das preocupações dos filhos das vítimas da alegada tentativa de golpe. “O mais importante a reter desta comunicação do Presidente, perante os angolanos e o mundo, é a promessa de entrega dos restos mortais dos nossos pais. Vamos aguardar serenamente pelo cumprimento dessa promessa, que vai ao encontro  das nossas preocupações enquanto filhos ao longo dos últimos 44 anos”, disse à Lusa o filho de José Van Dunem, um dos “braços direitos” de Nito Alves, o alegado comandante da tentativa de golpe, e de Sita Valles, todos mortos pelo regime de então. Com a morte dos pais, quando tinha três meses, João Van Dunem foi criado pela actual ministra da Justiça portuguesa, Francisca Van Dunem, irmã de José Van Dunem. Para João Van Dunem, membro da Associação 27M, recuperar os restos mortais vai permitir às famílias “prestar uma derradeira homenagem, honrando a sua luta e a sua memória”. “Hoje é o dia da vitória dos mortos do 27 de Maio”, disse, por sua vez, Silva Mateus, presidente da Fundação 28 de Maio para quem “só falta agora a abertura dos arquivos da Direcção de Informação e Segurança de Angola (DISA). No seu discurso à nação, João Lourenço recordou os trágicos acontecimentos que enlutaram o país em 1977, num momento em que se passavam dois anos da proclamação da independência e em que “ninguém imaginava que as divisões internas dos movimentos de libertação seriam transportadas para o interior do país no período pós-independência e com consequências tão trágicas que deixaram feridas profundas nos corações dos angolanos”. O Presidente angolano, que sucedeu em 2017 a José Eduardo dos Santos, lembrou que nessa altura “um grupo de cidadãos levou a cabo uma tentativa frustrada de golpe de Estado, matando altas figuras do poder instituído”, com destaque para o então ministro das Finanças, Saidy Vieira Dias Mingas, e reconheceu que a reacção das autoridades foi “desproporcional e levada ao extremo, tendo sido executadas execuções sumárias de um número indeterminado de angolanos, muitos deles inocentes”. Para João Lourenço, a postura de um Estado “deve ser ponderada e comedida pelas responsabilidades que tem na defesa da Constituição, da lei e da vida humana”. Em 27 de Maio de 1977, uma alegada tentativa de golpe de Estado, numa operação que terá sido liderada por Nito Alves — então ex-ministro do Interior desde a independência (11 de Novembro de 1975) até Outubro de 1976 —, foi violentamente reprimida pelo regime de Agostinho Neto. Seis dias antes, a 21 de Maio, o Movimento Popular de Libertação de Angola (MLPA, no poder) expulsara Nito Alves do partido, o que levou o antigo ministro e vários apoiantes a invadirem a prisão de Luanda para libertar outros simpatizantes, assumindo, paralelamente, o controlo da estação da rádio nacional, um movimento que ficou conhecido como “fraccionismo”. As tropas leais a Agostinho Neto, com apoio de militares cubanos, acabaram por estabelecer a ordem e prenderam os revoltosos, seguindo- -se o que ficou conhecido como “purga”, com a eliminação das facções, tendo sido mortas cerca de 30 mil pessoas, na maior parte sem qualquer ligação a Nito Alves, tal como afirma a Amnistia Internacional em vários relatórios. Em Abril de 2019, o Presidente angolano ordenou a criação da Comissão de Reconciliação em Memória às Vítimas dos Conflitos Políticos (Civicop) para elaborar um plano de homenagem às vítimas dos confliitos políticos que ocorreram em Angola entre 11 de Novembro de 1975 e 4 de Abril de 2002, fim da guerra civil. PÚBLICO

2 comentários:

  1. Peço desculpa, qual foi o regime que apoiou?

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  2. Não sei bem se este blog é feito para quem não sabe nada de nada ou se o próprio não sabe nada de nada. Dúvida metódica...

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