Sexta às 9 põe a nú a brutalidade do curso de comandos em Portugal
Ângela Abreu, mãe de Hugo Abreu, escreve texto direcionado ao Presidente da República, dando a entender que esperava mais consideração por parte do Estado que diz ser da “treta” e ainda a obriga a ter de pagar a “boa vida” destes. Mais adianta que há mais de 5 anos aguarda conversa com Marcelo.
“Bom dia. Eu, mãe do Hugo Abreu, venho por este meio fazer um grande pedido ao nosso Sr. Excelentíssimo Presidente da República Portuguesa e Senhor Comandante Supremo das Forças Armadas de Portugal, que com sua delicadeza, condecore estes exemplares comandos e seus advogados por o excelente trabalho ao serviço de nossa Pátria que se chama Portugal, por tudo o que fizeram”, começa por escrever a mãe de Hugo Abreu numa publicação na sua página de Facebook há cerca de uma hora.
Revelando ironia acentuada no seu discurso, continua: “Por exemplo, mataram [o] meu filho e outro camarada”.
Na sua publicação realça que “o profissionalismo destes grandes homens”, merece a mais “alta condecoração com a Ordem da Cruz. São tão excelentes em muito trabalho ao serviço de Portugal e da União Europeia”, registou a progenitora de Hugo Abreu.
Na sua explicação, Ângela Abreu sublinha não ter tido outra alternativa a não ser publicar um texto no Facebook a expor o seu ponto de vista.
Este último recurso surgiu devido à falta de diálogo. Ângela Abreu diz mesmo estar a aguardar, há mais de 5 anos, uma conversa que Marcelo Rebelo de Sousa lhe terá prometido, mas que, entretanto, ficou esquecida. “Cheguei a contactar o Sr. Excelentíssimo Sr. Presidente da República para falar sobre este assunto e outros. Falou comigo 1 Vez e disse que me ligava no dia seguinte. Já lá vão 5 anos e nada”, sustenta.
A esperança da mãe de Hugo Abreu é que, por via das redes sociais, a sua mensagem chegue ao Presidente.
“Faça o favor de condecorar estes homens e outros que tanto deram por Portugal, como por exemplo: mataram, roubaram armas nos Paióis, traficaram diamantes, droga, ouro etc etc etc”, enumera.
Ângela Abreu vai mais longe e diz que à presidência não “custa nada” estas condecorações, até porque, no fim, quem paga são os contribuintes portugueses.
Isto ao contrário “de nós, Pais dos militares assassinados, pelos seus próprios formadores, que temos de pagar por um crime cometido por esses homens”, averba a mulher.
Despesas essas, elabora, com pagamento de advogados, psicólogos, médicos, medicamentos e, acrescenta, “noites sem dormir e muito mais”.
Ângela Abreu classifica Portugal como “um País de Treta”.
Mais nota que “noutros Países quem perde a causa é que paga. Mas volto a lembrar: não é o Sr. Presidente que paga essas despesas. Somos nós todos, os contribuintes que pagamos a vossa boa vida”, rematou. (JM)
Ex-comando conta sua históriaQuase todos os portugueses ouviram falar do massacre de MYLAI, em que se tornou tristemente célebre um tenente americano de nome Calley. Também quase todos sabem que Mylai era uma povoação do Vietname onde foram massacradas algumas dezenas de homens, mulheres e crianças às ordens do tal tenente, e da tinta que se gastou sobre o assunto em vários jornais por todo o Mundo. O referido tenente foi mesmo julgado e condenado por um tribunal do seu país e expulso das Forças Armadas.
Mas não é sobre Mylai que eu pretendo escrever. Quero falar de um outro massacre de muito maior dimensão e talvez ainda mais terrível do que aquele que um dia se passou nessa aldeia distante do Vietname. O massacre de que vos quero falar aconteceu connosco. Os intervenientes eram portugueses. Aconteceu em Moçambique. E é estranho que já ninguém pareça recordar-se dele: é incómodo e por isso tenta-se esquecê-lo. Tudo o que é incómodo esquece-se neste nosso belo pais à "beira mar plantado". (...)
Neste país onde alguns de nós tivemos a desgraça de nascer e, onde outros prosperam enganando toda a gente, sabe-se que houve uma guerra no Vietname, mas pasme-se!... da guerra colonial que fez milhares de mortos portugueses e africanos, já ninguém parece querer recordar-se, "emboramente!! (como diria o Odorico) ela tenha durado mais do dobro da Segunda Guerra Mundial, nos tenha dito directamente respeito e tenha marcado toda uma geração.
Pois, mau grado a opinião de muitos, que irão comentar: “- Lá está aquele gajo a lembrar-se de pecados esquecidos": Eu hoje vou falar da guerra colonial. Vou falar de uma das maiores chacinas cometidas durante o conflito: o massacre de WIRYAMU, CHAWOLA e JUWAU, no distrito de Tete, em Moçambique. Levado a cabo por tropas coloniais portuguesas e pela PIDE-DGS. Mas vamos aos factos:
No dia 14 de Dezembro de 1972, um avião português, de pequeno porte, foi “atingido por um tiro quando viajava da cidade da Beira para Tete, uma cidade do interior de Moçambique situada junto ao rio Zambeze, cerca de noventa a cem quilómetros abaixo da barragem de Cabora Bassa. Acontece que, esse pequeno avião civil apesar de atingido (por um único tiro) aterrou sem novidade no aeroporto de Tete, tendo os seus ocupantes apresentado queixa às autoridades militares e à PIDE/DGS da mesma cidade.
Feito o estudo do local onde o avião tinha sido atingido, chegou-se à “conclusão que o ataque teria partido de uma área aproximada que abrangia as aldeias de WIRIAMU, CHAWOLA e JUMAU.
Logo no dia seguinte, a DGS nomeou um dos seus agentes de nome Chico Kachavi, torturador profissional da prisão de Tete e já responsável pelo espancamento de outras populações. Era um indivíduo sem qualquer espécie de escrúpulos, munido de uma força descomunal que se dizia que conseguia matar qualquer pessoa com um único murro na cabeça. Este célebre jagunço negro, em Abril de 1971, na companhia de um inspector branco da mesma famigerada polícia, tinha espancado quase até à morte um catequista católico que só escapou graças à intervenção de vários missionários que terão chegado a tempo de lhe salvar a vida. Assim, não admira que tenha sido este bandido o escolhido para proceder a averiguações nas referidas localidades. Claro que não conseguiu a mais leve informação, e nem outra coisa seria de esperar. Em Tete e qualquer outro ponto de
Moçambique, as populações negras estavam solidárias com a Frelimo, além de que semelhante personagem não devia saber convencer sem ser através da tortura. Como Chico Kachavi nada conseguiu, as autoridades militares resolveram enviar uma patrulha do Exército para proceder a averiguações, que acabou por cair na emboscada da Frelimo, montada junto à aldeia de Corneta, situada perto da estrada Beira-Tete. Como represália, a força militar incendiou a aldeia, mas toda a população conseguiu fugir para o mato, não sofrendo qualquer dano, para além da perda de todos os seus haveres.
Foi então resolvido pelas autoridades militares do "sector" dar uma forte lição às populações da zona. Uma lição terrível que ninguém mais esqueceria. E aqueles que viveram para poderem recordar não esquecerão jamais aquele dia fatídico de 16 de Dezembro de 1972.
A acção teve lugar na tarde do dia 16 com o lançamento de algumas bombas, por dois aviões, sobre a maior povoação que era Wiriamu. Acabado o bombardeamento, a aldeia foi tomada de assalto por ''Comandos"' helitransportados e parece que também por um grupo dos tais "GEPS" (Grupos Especiais de Paraquedistas) de Jorge Jardim, não esquecendo um grande número de agentes da Pide onde pontificava, como não podia deixar de ser, o tal Chico Kachavi. Cercada a aldeia a população: homens, mulheres e crianças foram alinhadas no largo da aldeia e prontamente fuziladas, tendo muitas pessoas sido empurradas para dentro das cubatas e queimadas conjuntamente com elas. Isto, enquanto alguns soldados (e talvez não só soldados) iniciavam um desafio de futebol, em que as bolas eram, simplesmente, crianças.
Segundo o Padre católico Adrian Hastings, no seu relatório à ONU, sobre os referidos massacres, mais tarde transposto para o livro editado em Portugal pelo "Afrontamento!" cujo título é precisamente "WIRIAMU", diz a determinada altura.
“Um grupo de soldados juntou uma parte do povo num pátio para o fuzilamento. O povo assim reunido foi obrigado sentar-se em dois grupos: o grupo dos homens de um lado e o das mulheres noutro, a fim de poderem todos ver melhor como iam caindo os fuzilados.
Um soldado chamava por sinal a quem quisesse (quer homem, quer mulher, quer criança). O designado punha-se de pé, destacava-se do conjunto,o soldado disparava sobre ele e a vitima caía fulminada”.E ainda segundo o relatório de Hastings:
“Uma mulher chamada Vaina foi convidada a pôr-se de pé. Ela levantou-se com o seu filhinho Xanu ao colo, uma criança de nove meses, A mulher caiu varada por uma bala. A criança desenvencilhou-se e sentou-se ao lado da mãe morta. Chorava desesperadamente sem que ninguém lhe pudesse valer. Um soldado avançou para a fazer calar. - Que desilusão!- Sob o olhar atónito do povo reunido, o soldado agrediu a criança com um forte pontapé esfacelando-lhe a cabeça. “Cala-te cão!” - Concluiu ele. A criança prostrada já não chorou mais. Estava morta. Voltou o soldado com a bota ensanguentada. Os companheiros acolheram o feito com uma salva de palmas. “Muito bem!” - Gritaram-lhe eles.- "És um valentão". Foi o início de um futebol macabro. Os companheiros seguiram-lhe o exemplo. E assim como esta, morreram várias outras crianças cruelmente agredidas a pontapé pela soldadesca!!
Mas as selvajarias não tiveram limites, entre outros crimes repugnantes, sempre segundo o padre Hastings, conta-se o seguinte:
"Os soldados, na sua divagação pelo povoado, encontraram uma mulher, de nome Zostina que se achava grávida. Perguntaram-lhe pelo sexo do que levava dentro de si. ''Não sei” - responde ela. Já o saberás!! - disseram-lhes eles. Imediatamente, a facadas abriram-lhe o ventre, extraindo-lhe violentamente as vísceras e mostrando-lhe o feto, que se debatia convulsivamente, diziam: "Vês? Já sabes agora?''. Depois, mãe e filho foram consumidos pelas chamas.
Outros soldados divertiam-se a matar crianças, agarrando-as pelas pernas, arremessando-as contra o solo ou contra as árvores”.
Mas também as violações das mulheres foram o ''prato do dia”. Violações seguidas da morte das violadas:
“Um grupo bastante numeroso de soldados arrastou quatro donzelas para um local escuso, onde foram cruelmente massacradas, depois de terem sido brutalmente violadas. "Ninguém mais gozará de vós” - diziam os soldados em tom de triunfo prenhe de ódio. Tiraram-lhe as ‘missangas’ (adorno interior das mulheres em volta da cintura). Aqueles soldados levavam-nas como troféus, em volta do pescoço à guisa de colares”.
Dezenas de outras maneiras de matar terão sido aplicadas aos assassinados destas três povoações-mártires, mesmo para além daquelas que o padre Hastings conta no seu relatório. A imaginação dos carrascos não terá tido limites e apesar deste artigo já estar extenso não posso deixar passar o que se segue:
"Chintheya, uma rapariga de quatro anos, assustada, chora.
Um soldado, simulando compaixão, aproxima-se e, acariciando a criança, pergunta-lhe se está com fome. Sem porém, esperar resposta, continua: "'Toma o biberão”. E metendo à força o cano da arma de fogo na boca da criança, diz: "Chupa!'', E dispara. A criança cai com um rombo na nuca.
Não foi Chitheya a única vítima tratada assim; várias outras tiveram a mesma sorte”.
E as cenas de morte continuaram até ao anoitecer, até que a soldadesca cansada de sevícias, ou talvez porque já não encontrando ninguém em quem exercê-las, resolveu regressar aos quartéis.
Eu, não estava lá. Não me é contudo difícil imaginar o solo das povoações de Wiriamu, Chawola e Juwau. Devia assemelhar-se a um circo romano cheio de cristãos dilacerados pelos leões.
Quantos homens, mulheres e crianças terão sido massacrados pelas tropas portuguesas com a ajuda da Pide nestas três localidades? Ninguém saberá ao certo mas, entre os que foram identificados, isto é, aqueles que não ficaram de todo irreconhecíveis, contaram-se cerca de duas centenas, mas o povo daquela zona disse, segundo o padre Hastings narra no seu livro, que os mortos teriam ultrapassado os quinhentos. (fonte)
«Limpar a zona»:Matar tudo sem deixar nada.
A Sra. Ângela Abreu, escreveu e disse! Limpinho e sem espinhas!
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