A polícia política da ditadura do Estado Novo sustentava-se numa rede de informadores que andaria pelos 20 mil quando se deu o golpe militar de 25 de Abril de 1974. A denúncia premiada era um expediente que ajudava a arredondar o salário ou a subir na carreira e que minou muitas relações. A historiadora Irene Pimentel esteve em Santarém a falar sobre a PIDE e a sua rede de ‘bufos’ que ficou como paradigma da ditadura.
Professores e estudantes universitários,
médicos, advogados, padres, funcionários públicos, mas também assalariados rurais, operários fabris e até militantes
do PCP: a rede tentacular de informadores
da polícia política do Estado Novo abraçava
todos os sectores da sociedade e fazia inculcar a ideia de que era uma organização
omnipresente e omnisciente. A intenção era
dissuadir o activismo político contra o regime através do medo e da repressão.
Quando aconteceu a revolução de 25
de Abril de 1974, que derrubou a ditadura iniciada com Salazar e continuada por
Marcello Caetano, estima-se que a rede de
informadores da PIDE/DGS tivesse 20 mil
informadores, depreciativamente também
conhecidos por ‘bufos’ ou ‘chibos’, entre
outros apodos pouco simpáticos. Era muita
gente envolvida na sórdida missão de delação para um país tão pequeno, mas uma
realidade que, mesmo assim, estava longe
da ideia feita de que nesses tempos andaria
meio país a denunciar outro meio.Isso mesmo refere a historiadora Irene
Pimentel, que na sexta-feira, 21 de Abril,
esteve em Santarém para apresentar o seu
mais recente livro, “Os informadores da
PIDE – Uma tragédia portuguesa”, nas instalações a Sociedade Recreativa Operária
de Santarém. A investigação socorre-se dos
dados disponíveis em arquivo e os nomes
de informadores lá plasmados são aqueles
que já foram tornados públicos por via de
processos judiciais ou de notícias. Quanto
aos restantes, fica-se pelos pseudónimos
porque não há necessidade de fazer mais
‘vítimas’.
A professora universitária e investigadora, especialista em História contemporânea, reconhece que este é um tema que tem sido
tratado com pinças ao longo dos anos, até
pelos impactos que a revelação dos nomes
da vasta rede de informadores poderia ter
na sociedade portuguesa. Com o 25 de Abril,
“houve uma ruptura em Portugal mas também se quis varrer rapidamente para debaixo do tapete essa ideia de que havia muitas
pessoas a trair outras pessoas”, considera
Irene Pimentel.
Mesmo assim, do que se conhece, abundam casos de denúncias entre familiares,
amigos, colegas de trabalho ou namorados
desavindos. Feridas difíceis de sarar para
quem, mais tarde, soube que tinha sido
denunciado por pessoas da sua confiança e intimidade aos esbirros do antigo regime,
muitas vezes por situações comezinhas e
não propriamente por um activismo político relevante.
Não faltavam candidatos
Outro aspecto que Irene Pimentel considera marcante na sua investigação é a
quantidade de candidaturas a informador
que a PIDE/DGS recebia. Gente que queria mostrar serviço à ditadura, fosse para
ganhar mais algum dinheiro num país de
salários miseráveis, fosse para subir na
carreira profissional ou por simpatia ideológica com o regime. “Não tinha a noção
que houvesse tantos candidatos, pessoas
que escreviam muito mal, analfabetas,
que diziam que gostavam de ser informadoras nos locais em que trabalhavam”,
diz a autora.
Aos informadores recrutados eram atribuídos pseudónimos só conhecidos pelos
seus “controladores” dentro da PIDE. Na
revolução de 25 de Abril de 1974, a PIDE
conseguiu queimar muitos ficheiros antes
de ser ocupada e, com isso, terá apagado
as provas que associavam nomes aos pseudónimos, pelo que muitos informadores
continuaram (alguns ainda continuarão) a
viver a sua vida normalmente, sem terem
prestado contas pela sua colaboração com
a polícia política da ditadura. “Há uma
diabolização da PIDE que fica quase como
o paradigma do antigo regime”, diz Irene
Pimentel para ilustrar as marcas profundas
que essa polícia política deixou entre muitos
portugueses. (o Mirante)
Essa os pides fartarem-se lhe lhe irem ao "olho" e como ela era insaciável...queria mais e mais.
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