quarta-feira, 19 de abril de 2023

Carmo Afonso critica aquela esquerda que faz o jogo da direita acerca da vinda de Lula da Silva ao Parlamento nas comomorações do 25 de Abril

 


Lula da Silva e os porteiros do 25 de Abril
« Primeiro era por causa da corrupção, apesar de Lula da Silva ser considerado inocente pelo sistema judicial brasileiro: as suas condenações foram anuladas pelo Supremo Tribunal Federal, tendo este tribunal declarado que o juiz Sérgio Moro foi parcial quando julgou Lula. Mas decisões judiciais são insuficientes para a direita portuguesa. Para sempre Lula será corrupto e, por isso, indigno de pisar o chão da Assembleia da República sobretudo no dia em que se comemora a revolução. Por mais voltas democráticas que queiramos dar às coisas, e por mais democráticos que todos queiram ser ou parecer, há uma coisa que não pode ser esquecida: o 25 de Abril foi uma revolução de esquerda. Porque é importante dizer isto? Porque, se existe alguma direita que hostiliza a revolução e que não a comemora, outra há que dela se apropria e que faz de conta que é a sua guardiã. Preferem o 25 de novembro, e não perdem uma oportunidade de dizer que é uma data mais importante, mas gostam de fazer de porteiros das comemorações do 25 de Abril. É precisamente o caso dos que se manifestam contra esta ida de Lula da Silva à Assembleia da República. Afirmam que é uma ofensa ao grande dia da democracia. Pensarão que é deles o fardo de defender a honra do 25 de Abril? É curioso porque não teria existido revolução nenhuma se, em 1974, as ruas estivessem tomadas pela direita. A democracia é de todos e isso é muito bonito. Mas também é bonito cada um saber qual é o seu lugar e a sua seara. Ver a direita portuguesa arrogar-se o papel de defender as comemorações do 25 de Abril da presença de um político de esquerda, como Lula da Silva, é como ver alguém opor-se à presença de um aniversariante na sua festa de anos. Existe também parte da esquerda liberal (peço perdão pela antonímia) descontente com a presença de Lula da Silva na Assembleia da República.  Exatamente aquela parte da esquerda que não consegue aceitar análises da guerra da Ucrânia que ultrapassem frases simples e categóricas. A verdade é que aquele conflito serviu para aproximar essa parte da esquerda portuguesa à direita. Tem sido obrigatório observar, ou escutar, o uníssono que se criou e a caça que, em conjunto, fazem a quem se atreva a falar em paz ou em negociações diplomáticas. Que ideia tão inaceitável: há uma guerra e há quem pense em desenvolver esforços internacionais para acabar com ela. Uma loucura, uma afronta. O próprio papa Francisco tem dado opiniões muito próximas das de Lula. Esta parte da esquerda e a direita portuguesa estão prontas para hostilizar grande parte da comunidade internacional. É uma parte da esquerda que dá razão, e algum jeito, à direita. E diga-se que também a direita se tem prestado ao papel de beneficiar infinitamente o centro esquerda ao mesmo tempo que lhe dirige críticas ferozes, mas estéreis: não se dirigem às políticas e nem sequer às posições de fundo, são ataques instrumentais para chegar ao poder. Há um vazio ideológico na luta que separa a direita do centro esquerda porque, tantas vezes, parece ser tanto o que os une como o que os separa. Ouvir Lula da Silva discursar no Parlamento no grande dia será uma alegria para uma esquerda que a merece. Os tempos não têm sido fáceis. Entre o emagrecimento nas últimas eleições e a asfixia de um país cada vez mais virado à direita, não tem existido muito espaço para a existência de quem se revela granítico na luta contra as desigualdades sociais e ao lado dos trabalhadores. Minto. Há uma exceção: a esquerda voltou às ruas e o poder sempre esteve e sempre estará nas ruas. Atenção a esta parte. Nunca agradaremos a todos e nunca seremos agradados por todos. Mas a verdade é que não houve tanta indignação quando Marcelo esteve ao lado de Bolsonaro nas comemorações dos 200 anos da independência do Brasil ou num interminável rol de situações em que para muitos não foi agradável assistir à representação portuguesa. Lula da Silva representa a luta contra a ditadura, a luta dos trabalhadores e, agora, a derrota da direita populista e a correspondente vitória da esquerda. É dessa matéria que é feito o 25 de Abril — um golpe militar, que foi uma revolução, que foi uma festa. Seria bom que, pelo menos os que amam a revolução, acolhessem esta visita. Lula da Silva é uma boa desculpa para a esquerda e a direita se desentenderem. Essa parte está certa. Mas não deveria ser razão para divisões à esquerda. Algo está mal.»


5 comentários:

  1. Lula é corrupto, criminoso e ladrão. Onde está a dúvida?

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    1. E tu deves ser um santo ó Papadas desmiolado.

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    2. Tanto é corrupto que foi convidado para a fantochada comuna do 25 de Abril

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  2. O mal de um ladrão não exclui o mal do outro...

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  3. Notícias interessantes para a comunagem

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