domingo, 9 de novembro de 2025

Porque motivo os poderosos apoiam sempre as religiões? (leia a história de Frances Perkins)

 



ELA VIU 146 MULHERES QUEIMAREM VIVAS.
DOZE ANOS DEPOIS, TORNOU-SE A MULHER MAIS PODEROSA DA AMÉRICA.

Frances Perkins jamais esqueceu o que presenciou naquele dia.

Em 1911, ela viu 146 mulheres — muitas ainda adolescentes — arderem dentro de uma fábrica cujas portas haviam sido trancadas pelos donos. Queimaram vivas porque “era preciso evitar roubos” e “pausas não autorizadas”.
Frances assistiu, impotente, aos corpos despencando do nono andar, caindo no chão como trovões repetidos.
E prometeu a si mesma: “Isso nunca mais acontecerá.”

Mas a história de Frances começa antes do fogo.

Quando criança, perguntava por que pessoas decentes viviam na miséria.
O pai respondia: “Porque são preguiçosas. Porque são fracas.”
Mesmo menina, Frances sabia que aquilo não podia ser verdade.

Na Universidade de Mount Holyoke, estudava física — um caminho respeitável, previsível, aceitável para uma jovem.
Até que uma visita a uma fábrica mudou seu destino.
Ela viu meninas exaustas, curvadas sobre máquinas, inalando poeira, trabalhando doze horas por dia, seis dias por semana.
Viu dedos arrancados, pulmões destruídos, vidas inteiras consumidas para sustentar o lucro de outros.
E compreendeu: conhecimento não serve para nada se não defender a dignidade humana.

Abandonou o futuro “seguro” de esposa e professora de piano dos filhos dos ricos.
Ingressou em Columbia, fez mestrado em Economia e Sociologia, escreveu sobre fome e miséria em Hell’s Kitchen.
A família se horrorizou — “moças de bem” não estudavam pobreza, muito menos viviam entre os pobres.
Frances não recuou. Continuou.

Em 1910, tornou-se secretária executiva da Liga dos Consumidores de Nova York.
Investigava fábricas, denunciava abusos, defendia leis para proteger trabalhadores.
Testemunhou em comissões legislativas — uma jovem mulher, serena e firme, dizendo a homens poderosos que suas indústrias estavam matando pessoas.
Eles a detestaram.
Ela persistiu.

Então veio o incêndio da Triangle Shirtwaist Factory.
Dez andares tomados por fogo, fumaça e gritos.
Frances viu jovens morrerem por causa da ganância — e, no dia seguinte, começou sua luta para mudar o país.

Nomeada para a comissão de investigação, não se limitou a relatórios.
Redigiu novas leis: saídas de emergência destrancadas, limites de horas de trabalho, inspeções obrigatórias, sprinklers, um dia de descanso semanal.
Os industriais protestaram: “excesso de governo”, “ameaça aos negócios”.
Frances respondeu com números, testemunhos e as fotos dos corpos carbonizados.
E venceu.

Nova York tornou-se modelo nacional.
Outros estados seguiram.
Os locais de trabalho mudaram — não perfeitamente, mas de forma irreversível.

Por isso passou a ser chamada de “a mulher mais odiada pela indústria americana.”
Riram de seu chapéu preto, de suas roupas simples, de sua seriedade.
Chamaram-na de comunista, de solteirona, de inconveniente.
Ela apenas dizia: “Não estou aqui para enfeitar. Estou aqui para trabalhar.”

Em 1933, em plena Grande Depressão, Franklin D. Roosevelt a convidou para ser Secretária do Trabalho — a primeira mulher na história dos EUA a ocupar um cargo ministerial.
Ela aceitou, mas entregou a Roosevelt uma lista de condições:

• Semana de 40 horas
• Salário mínimo
• Abolição do trabalho infantil
• Seguro-desemprego
• Aposentadoria para os idosos

Roosevelt hesitou: “Você sabe que isso é impossível.”
Frances respondeu: “Então procure outra pessoa.”
Ele não procurou.
E ela fez o impossível acontecer.

Durante doze anos — o mais longo mandato de um Secretário do Trabalho — Frances ergueu os pilares da justiça social americana:
o Social Security Act (1935), que garantiu aposentadorias e auxílio a desempregados;
e o Fair Labor Standards Act (1938), que instituiu a semana de 40 horas, o salário mínimo e a proibição do trabalho infantil.

Milhões de trabalhadores foram protegidos.
E o país mudou para sempre.

Frances viveu o suficiente para ver o mundo que ajudou a construir.
Recusou riqueza, recusou conforto. Ensinou, escreveu, inspirou.
Morreu em 1965, aos 85 anos — tão discretamente quanto viveu.

Poucos lembram seu nome.
Mas toda vez que alguém recebe horas extras, encontra uma saída de emergência ou se aposenta com dignidade — é a voz de Frances Perkins ecoando na história.

Ela viu 146 mulheres queimarem vivas porque o lucro valia mais do que a vida.
E passou os cinquenta anos seguintes garantindo que isso jamais fosse legal novamente.

Seu pai dizia que os pobres eram fracos.
Ela provou que a pobreza é uma escolha política — e que políticas podem mudar.

Frances Perkins foi mais do que a primeira mulher em um gabinete presidencial.
Foi a mulher que olhou o fogo nos olhos e disse:
“Nunca mais.

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