quinta-feira, 10 de dezembro de 2020

A aquacultura em mar aberto na ilha da Madeira são um claro atentado ao destino turístico da ilha

Escreve Gil Canha ex-deputado da ALRAM


AVISO À "NAVEGAÇÃO"


Li hoje no DN do Sousa que a Direção Regional do Ambiente e das Alterações Climáticas pediu ajuda à Câmara Municipal da Ribeira Brava e à respetiva junta de freguesia para ajudarem a promover durante 30 dias a consulta pública do procedimento de avaliação do impacte ambiental do projeto de ampliação das denominadas “gaiolas de peixe”, entre o Campanário e a Ribeira Brava, podendo os interessados apresentar as suas sugestões e opiniões até ao dia 20 de janeiro.

O objetivo desta minha pequena nota não é fazer publicidade do procedimento; o meu objetivo principal é alertar os meus concidadãos para não fazerem figuras de palhaços nem se travestirem de ursos, se por acaso têm intenções de participar nesta extraordinária farsa, montada com o único objetivo de branquear e legitimar este verdadeiro atentado paisagístico, há muito decidido e costurado pelos nossos excelsos matarruanos. 

Aliás, na própria notícia, fugiu-lhes a boca para a verdade: até defendem que “não existem alternativas a essa localização já que as áreas previstas correspondem às áreas concessionadas”, concluindo: os gabirus apelam à participação de uma coisa que eles próprios confessam ser já um facto quase consumado.

E faço este aviso porque durante anos e anos fiz figura de urso na participação cívica de certos planos de ordenamento, em que dei muitas sugestões, e depois vim a descobrir que utilizavam essa participação somente para a estatística e para legitimarem o triunfo da vontade deles: - Viram! o nosso plano é magistral e muito concorrido, até teve grande participação pública!  -  E com este engodo vomitado reduzem os cidadãos mais conscientes a figurantes dum filme de Série B.

Há dias, vi num programa de televisão um forasteiro meio “atontalhado” a dizer o seguinte: - Não estou a ver qual o impacte negativo das infraestruturas de aquacultura em mar aberto, se em terra temos a paisagem toda descaracterizada”, isto é, para o cavalheiro, se a terra já está rebentada, porque não rebentar também o mar. Vejam só onde já vai a cabeça de macarrão destes tipos! Para eles, a nossa última fronteira natural também terá de ser escavacada, para a destruição ser completa e total. 

Continuo a defender que a nossa linha de costa é extremamente pequena e que as áreas com maior potencial aquícola são precisamente as zonas onde existe maior aptidão para a hotelaria; que industrializar o mar com infraestruturas que causam grande impacte paisagístico é “mortal” para o turismo. Ninguém gosta de apreciar, por exemplo, um pôr-do-sol e ver o astro-rei desaparecer no meio de gaiolas de peixe, como ninguém estima ver a lua cheia no meio de ciprestes dum cemitério ou de viver num apartamento com vista para uma pedreira ou para um complexo industrial.

Muitos podem questionar: mas por que razão os humanos adultos gostam de olhar para o mar livre, prístino, azul, até perderem a vista na sua linha do horizonte? E por que razão as crianças adoram brincar na borda d'água, e não perdem o seu tempo a olhar languidamente e poeticamente para o oceano? Aliás, é normal ver-se um casal a beber um copo de vinho ou uma cerveja enquanto se delicia com a vista oceânica, e raramente se vê uma criança a comer um gelado e a olhar perdidamente para a linha do horizonte.

E a explicação é simples: com a idade, a espécie humana vai-se apercebendo da sua finitude, e conforme vai envelhecendo, essa finitude transforma-se num problema existencial, pois pressente que o seu fim se aproxima a passos largos, enquanto para uma criança a sua perceção é que a vida é infinita, que nunca mais acaba, que nunca tem um fim, por isso, pouco lhe importa olhar duma forma sonhadora até onde a vista alcança.

No nosso imaginário, olhar a imensidão do mar representa o nosso sonho e a nossa utopia de infinidade, de sermos seres infinitos como a vastidão do mar… e, por essa razão, adoramos olhar o nosso mar sem ver a nossa vista poluída por uns círculos redondos, carregados de penduricalhos e cheios de peixe alimentado a ração. (Fénix do Atlântico)

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