domingo, 27 de dezembro de 2020

A história de George Blake o duplo espião britânico que traiu o M-16, para ajudar Moscovo na guerra fria

 Morreu o famoso agente duplo britânico George Blake

A escala da traição de Blake continua a ser monumental, mesmo pelos padrões daquele período John le Carré Escritor



 O último dos espiões que trabalhou para a União Soviética morreu aos 98 anos na Rússia, onde vivia desde a sua fuga da prisão 
António Rodrigues (escreve no jornal público)

 Com a morte de George Blake, aos 98 anos, na Rússia, tal como noticiado ontem pela agência RIA Novosti citando os serviços secretos externos russos (SVB), morre um pouco mais da Guerra Fria. 
 Era o último de um grupo de agentes duplos britânicos do MI6 que trabalharam para a União Soviética, embora não pertencesse ao grupo que ficou conhecido como “Os Cinco de Cambridge”. George Blake (Georgy Ivanovich para os russos) expôs a identidade de centenas de agentes ocidentais que trabalhavam para lá da Cortina de Ferro durante os anos 50. Alguns desses agentes acabariam por ser executados por traição. Descoberto em 1961, Blake foi condenado a 42 anos de prisão, mas conseguiu escapar de Wormwood Scrubs, em Londres, em 1966, ajudado por dois presos e dois activistas que o retiraram do Reino Unido escondido numa autocaravana. 
 Quando chegou à União Soviética, recebeu o tratamento de herói (Vladimir Putin condecorou-o em 2007) e 30 anos depois de ter sido apanhado, numa entrevista à Reuters, garantiu que fez tudo por idealismo, por
acreditar no comunismo, “um ideal que, se tivesse sido alcançado, teria valido bem a pena”.   Na altura em que era agente duplo, Blake pensava ser ainda possível: “E eu fiz tudo o que pude para ajudar a construir essa sociedade. Veio a provar-se impossível, mas penso que era uma ideia nobre e que a humanidade ainda regressará a isso.” Como escreve John le Carré, em O Túnel dos Pombos, “a escala da traição de Blake continua a ser monumental, mesmo pelos padrões daquele período: literalmente centenas de agentes britânicos — o próprio Blake já não conseguia calcular quantos — traídos; operações de áudio encobertas, consideradas vitais para a segurança nacional, tais como, mas não exclusivamente, o túnel de áudio de Berlim, desmascaradas antes de serem lançadas; e a revelação de todo o pessoal do MI6, de casas seguras, de ordens de serviço e de postos avançados por todo o globo”. 
 “Encontrava-me com um camarada soviético cerca de uma vez por mês”, disse numa entrevista ao Rossiyskaya Gazeta em 2012. “Entregava-lhe rolos e conversávamos. Algumas vezes, bebíamos uma taça de champanhe Tsimlyansk [espumante soviético]”. A carreira de agente duplo acabaria quando um desertor polaco desvendou a sua identidade. 
 Nascido em Roterdão, Países Baixos, em 1922, com o apelido de Béhar, filho de mãe holandesa e pai judeu egípcio naturalizado britânico, George Blake cresceu no Cairo, depois da morte do pai aos 13 anos. Aí tornou-se muito próximo do primo, Henri Curiel, que mais tarde seria líder do Haditu — Movimento Democrático de Libertação Nacional, que chegou a ser a maior organização comunista egípcia. Curiel, que tinha mais dez anos do que ele, foi uma grande influência, como o próprio Blake afirmou na referida entrevista à Reuters. Blake, dizia Le Carré, não era só “um agente operacional dos mais capazes”, também era “alguém que procurava Deus, e que, até ser desmascarado, já tinha aderido ao cristianismo, ao judaísmo e ao comunismo, por essa ordem”. 
 Na prisão de Wormwood Scrubs ensinava Corão aos outros presos.

o Espião duplo britânico morre com 98 anos 

O espião duplo George Blake, considerado um dos mais infames traidores do Reino Unido durante a Guerra Fria, morreu ontem na Rússia, aos 98 anos. Agente ao serviço do britânico MI-6, entregou aos soviéticos inúmeros segredos, tendo revelado a Moscovo, nos anos 1950, a identidade de centenas de agentes ocidentais na Europa de Leste. Detido em Londres em 1960, escapou em 1966 para a Rússia, onde passou o resto dos seus dias, deixando para trás a mulher e três filhos. 

BLAKE TERÁ ENTREGADO AOS SOVIÉTICOS CERCA DE 500 AGENTES OCIDENTAIS

Nos anos 1990, em entrevista à BBC, o próprio Blake admitiu ter traído mais de 500 agentes ocidentais, mas recusa a alegação de que 42 deles foram executados pelos soviéticos. Blake foi um dos mais notáveis espiões duplos da Guerra Fria e só foi detetado depois de o espião polaco Michael Goleniewski desertar para o Ocidente e ciar uma ‘toupeira’ soviética na espionagem britânica. Blake foi chamado a Londres e detido. Em tribunal, confessou a traição. Os danos causados por Blake são só comparáveis aos dos ‘Cambridge Five’, antigos universitários que passaram segredos aos soviéticos. John Cairn-cross, o último a ser identificado, morreu em 1995.

Filho de um judeu espanhol

George Blake nasceu em Roterdão, Holanda, de pai judeu espanhol naturalizado britânico. Na II Guerra Mundial combateu na Resistência holandesa contra os nazis, sendo recrutado para a espionagem britânica no final da guerra.

Condecorado por Putin 

Blake adotou o nome Georgy Ivanovich, foi tenente-coronel do KGB e tornou-se um herói soviético, recebendo uma reforma da espionagem russa. O presidente Vladimir Putin condecorou-o em 2007 pelos serviços prestados.


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