O longo braço de Israel
O anúncio quase simultâneo de várias vacinas contra a covid-19, as sequelas das eleições norte-americanas com as birras pouco presidenciais de Donald Trump e a morte de um ídolo universal como Diego Armando Maradona remeteram a morte de Mohsen Fakhrizadeh, um dos cientistas responsáveis pelo programa nuclear do Irão, para as catacumbas do noticiário internacional. No dia 27 de novembro, Fakhrizadeh, apesar das medidas de segurança que o rodeavam, incluindo um número de guarda-costas suficiente para proteger um governo inteiro, foi assassinado a tiros de metralhadora numa rua deAbsard, cidade a 70 km de Teerão, num atentado que os especialistas dizem ter a impressão digital dos serviços secretos israelitas. Mesmo com o silêncio habitual de Israel nestas situações, depressa se percebeu que o atentado envolvera um planeamento rigoroso e o uso de tecnologia de ponta, com metralhadoras operadas por controlo remoto via satélite, acessível a poucos. O mais que provável envolvimento de Israel não surpreende ninguém: desde 2010, além de Fakhrizadeh, foram assassinados outros quatro cientistas iranianos ligados ao programa nuclear daquele país; em 2018, numa declaração transmitida pela televisão, o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, depois de recolha de informação em Teerão, pediu que o nome de Fakhrizadeh não fosse esquecido pelos israelitas; como a vitória de Joe Biden pode significar o retomar do acordo nuclear com o Irão negociado por Obama e rasgado por Trump, Israel quis lançar um aviso à futura Administração norte-americana, lembrando que não irá tolerar que o seu principal inimigo disponha de armas nucleares; por último, a folha de serviços da Mossad, os serviços de segurança israelitas, no que respeita à eliminação seletiva de alvos é exemplar da capacidade de Israel para neutralizar o que considera serem ameaças sérias à sua existência. Numa das suas ações mais célebres e polémicas, a Mossad assassinou em 1995 Fathi Shaqaqi, um dos fundadores da Jihad Islâmica, grupo armado palestiniano responsável por vários ataques em solo israelita nos anos 80 e 90. Após uma visita ao ditador líbio Muammar Kadhafi, Shaqaqi, que viajava com um passaporte falso, passou por Malta a caminho de Damasco, na Síria, onde vivia na altura. A Mossad acompanhava todos os passos de Shaqaqi havia algum tempo e, como tinha ordens superiores para não o executar na Síria, destacou dois agentes para cumprirem a missão na pequena ilha mediterrânica.
A 26 de outubro, enquanto o líder da Jihad passeava perto do hotel, os dois homens aproximaram-se numa motorizada e um deles disparou cinco tiros que atingiram a vítima na cabeça, provocando-lhe a morte imediata. Oficialmente, a autoria do homicídio nunca foi confirmada. As autoridades maltesas não detiveram qualquer suspeito e o governo israelita nunca assume publicamente a responsabilidade pelos homicídios seletivos levados a cabo pelos serviços secretos. E não precisa. Os métodos falam por si. E o silêncio também. -Bruno Vieira Amaral/Expresso Revista
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