terça-feira, 28 de outubro de 2014

Sabe o que é um pleonasmo na língua portuguesa?- Então preste atenção:

John Hiram Leadman



Já "pleonasmou" hoje?
Todos os portugueses (ou quase todos) sofrem de pleonasmite, uma doença congénita para a qual não se conhecem nem vacinas nem antibióticos. Não tem cura, mas também não mata. Mas, quando não é controlada, chateia (e bastante) quem convive com o paciente.
O sintoma desta doença é a verbalização de pleonasmos (ou redundâncias) que, com o objectivo de reforçar uma ideia, acabam por lhe conferir um sentido quase sempre patético.
Definição confusa? Aqui vão quatro exemplos óbvios: ?Subir para cima?,?descer para baixo?, ?entrar para dentro? e ?sair para fora?.
Já se reconhece como paciente de pleonasmite? Ou ainda está em fase de negação? Olhe que há muita gente que leva uma vida a pleonasmar sem se aperceber que pleonasma a toda a hora.
Vai dizer-me que nunca ?recordou o passado?? Ou que nunca está atento aos ?pequenos detalhes?? E que nunca partiu uma laranja em ?metades iguais?? Ou que nunca deu os ?sentidos pêsames? à ?viúva do falecido??
Atenção que o que estou a dizer não é apenas a minha ?opinião pessoal?. Baseio-me em ?factos reais? para lhe dar este ?aviso prévio? de que esta ?doença má? atinge ?todos sem excepção?.
O contágio da pleonasmite ocorre em qualquer lado. Na rua, há lojas que o aliciam com ?ofertas gratuitas?. E agências de viagens que anunciam férias em ?cidades do mundo?. No local de trabalho, o seu chefe pede-lhe um ?acabamento final? naquele projecto. Tudo para evitar ?surpresas inesperadas? por parte do cliente. E quando tem uma discussão mais acesa com a sua cara metade, diga lá que às vezes não tem vontade de ?gritar alto?: ?Cala a boca!??
O que vale é que depois fazem as pazes e vão ao cinema ver aquele filme que ?estreia pela primeira vez? em Portugal.
E se pensa que por estar fechado em casa ficará a salvo da pleonasmite, tenho más notícias para si. Porque a televisão é, de ?certeza absoluta?, a ?principal protagonista? da propagação deste vírus.
Logo à noite, experimente ligar o telejornal e ?verá com os seus próprios olhos? a pleonasmite em directo no pequeno ecrã. Um jornalista vai dizer que a floresta ?arde em chamas?. Um treinador de futebol queixar-se-á dos ?elos de ligação? entre a defesa e o ataque. Um ?governante? dirá que gere bem o ?erário público?. Um ministro anunciará o reforço das ?relações bilaterais entre dois países?. E um qualquer ?político da nação? vai pedir um ?consenso geral? para sairmos juntos desta crise.
E por falar em crise! Quer apostar que a próxima manifestação vai juntar uma ?multidão de pessoas??
Ao contrário de outras doenças, a pleonasmite não causa ?dores desconfortáveis?nem ?hemorragias de sangue?. E por isso podemos ?viver a vida? com um ?sorriso nos lábios?. Porque um Angolano a pleonasmar, está nas suas sete quintas. Ou, em termos mais técnicos, no seu ?habitat natural?.
Mas como lhe disse no início, o descontrolo da pleonasmite pode ser chato para os que o rodeiam e nocivo para a sua reputação. Os outros podem vê-lo como um redundante que só diz banalidades. Por isso, tente cortar aqui e ali um e outro pleonasmo. Vai ver que não custa nada. E ?já agora? siga o meu conselho: não ?adie para depois? e comece ainda hoje a?encarar de frente? a pleonasmite!
Ou então esqueça este texto. Porque afinal de contas eu posso estar só ?maluco da cabeça?.



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