sábado, 10 de setembro de 2016

Morreu a investigadora Ana Margarida Falcão

 Homenagem do blog Pravda à directora da revista ISLENHA doutora Ana Margarida Falcão
A notícia chega implacável: Ana Margarida Simões Falcão Seixas morreu, esta manhã, vítima de doença prolongada.
Os amigos lamentam a perda da amiga, da escritora e da professora eternamente apaixonada pela literatura portuguesa, do ensino secundário até à universidade. Um namoro eterno com os grandes da literatura mundial que folheava para poder sentir-se viva neste mundo de heróis efémeros.
Por entre a perplexidade, vem-me claramente à memória as lições de Ana Margarida Falcão, no primeiro ano de arranque da Universidade da Madeira, como minha professora de Introdução aos Estudos Literários, no Curso de Línguas e Literaturas Modernas, Variante de Estudos Portugueses. Esguia e discreta, as aulas só poderiam ser apreciadas por quem também amava as singularidades e os caprichos da fição e da poética literárias. Rigorosa e precisa nos conceitos, Ana Margarida Falcão irrompia nas aulas sempre rendida à genialidade dos grandes autores de todos os tempos, pois respirava literatura.
A Universidade foi crescendo e Ana Margarida foi ensinando gerações de alunos, deixando ainda para trás um legado no ensino secundário, nomeadamente nas Escolas Secundárias Jaime Moniz e Ângelo Augusto da Silva.
O tempo correu bem depressa para Ana Margarida Falcão. A memória também se enche com a sua amizade, entre tantas, com a sempre saudosa Maria Aurora, na organização de muitas Feiras do Livro e em programas televisivos na RTP/M onde a literatura estava sempre em destaque. Ainda este ano, comentava: “Falta qualquer coisa a esta Feira do Livro…” Tentei convencê-la a escrever, a sugerir, a abrir caminhos. Mas, com a cortesia e graciosidade habituais, adiava para a próxima oportunidade. Talvez com outra força e inspiração.
Esta mulher, mãe de dois filhos, sempre foi avessa a palcos ou mediatismos. A vida ter-lhe-á ensinado, e comprovado na literatura, que tudo isso é efémero como a brisa do vento que passa e não deixa rasto.  Publicou alguns livros, como O Largo ou o Percurso de um Habitante, Contos, Z de Zacarias,  e Os Novos Shâmanes – texto policopiado – um contributo para o estudo da narratividade da poesia portuguesa.
Este verão e a onda de calor de má memória foram penosos para Ana Margarida Falcão. A respiração tornou-se mais difusa e a sensação de bem-estar ficava sempre para além do horizonte. Após a vaga de calor, sentia-se melhor mas, perspicaz como era, tinha consciência de que a vida nunca nos pertenceu.
Partiu em silêncio, deixando um travo amargo nos amigos. Acabou-se o empréstimo da vida na terra e a partida fez-se já para a eternidade. O funeral é este domingo, em São Martinho. (Funchal Notícias)



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