Inscrito no PCP, é deputado regional pelo PND e candidato à presidência por convicção. Continua a declarar-se comunista, apesar de representar um partido de direita. Ardina do Garajau, o jornal satírico de que é director, se for eleito Presidente continuará a ter um terço do vencimento penhorado para pagar indemnizações a que foi condenado.
Por Tolentino de Nóbrega (texto) e Daniel Rocha e Fábio Teixeira(fotografia)
José Manuel Coelho é, depois de Alberto João Jardim, o político madeirense mais conhecido dentro e fora da ilha nos últimos tempos. Têm por denominador comum a frontalidade e o populismo. Figuras do circo mediático da política regional, são as duas faces da mesma medalha, o jardinismo. De um lado Jardim, do outro, o anti-Jardim.
Não é por acaso que Coelho faz parte, com Jardim, dos cinco nomeados para a eleição de "Os Mais de 2010", por votação dos leitores do Diário de Notícias do Funchal, nas categorias de "Político" e de "Cromo do ano". Neste caso, a distinção recai sobre "aquele que nos fez rir ou chorar, que não nos sai da cabeça ou nos faz perder a cabeça".
Numa recente sondagem feita pelo semanário Tribuna da Madeira, publicada a 18 de Dezembro, Coelho, 58 anos, destacou-se como a figura pública que "teria mais hipóteses de derrotar Alberto João Jardim nas eleições regionais de 2011", com 28 por cento dos votos. À frente de um dos principais candidatos do Partido Social Democrata (PSD) à sucessão, o presidente da Câmara do Funchal, Miguel Albuquerque (17 por cento), dos líderes do maior partido da oposição, o Partido Socialista (PS), Jacinto Serrão (nove por cento), e do Partido Popular (CDS/PP) regional, José Manuel Rodrigues (oito por cento).
Coelho desvaloriza os resultados destes inquéritos online. "Não têm base científica, não são para levar a sério", diz ao P2. "Resultam do apoio da malta jovem que lida bem com os computadores e está descontente com a classe política." Para esses descontentes, como observa o empresário Miguel Freitas, "votar Coelho é mostrar um cartão vermelho" aos outros candidatos e partidos apoiantes.
Isso pode explicar, em parte, a surpreendente adesão não só de jovens, mas de desempregados e idosos que subscreveram a propositura de Coelho a candidato à presidência. E também o facto de a sua entrevista à RTP ter ultrapassado, no número médio de telespectadores (889 mil), Cavaco Silva (869 mil), ficando em segundo depois de Fernando Nobre (908 mil).O madeirense foi aquele que, de entre todos os entrevistados, conseguiu a melhor fatia dos espectadores que nesse momento viam televisão (23,3 por cento).
Coelho está consciente de que o seu atrevimento, irreverência e humor não o vão levar a trocar a modesta casa em Gaula pelo Palácio de Belém. Aliás, não é esse o seu objectivo, nem dos impulsionadores da sua candidatura que, admitem, funciona como preparação para as eleições regionais previstas para Outubro próximo, o que provoca apreensão nos directórios dos outros partidos, a começar pelo que está no poder.
"[O PSD-Madeira] está assustado com o avolumar da adesão popular à minha candidatura e à nossa luta", diz Coelho. O candidato apoiado pelo Partido Nova Democracia (PND), de que é deputado único à Assembleia da Madeira, explica que este partido constitui "uma "barriga de aluguer" para receber democratas de vários partidos descontentes com o cenário político regional, com a própria inoperância dos partidos da oposição e que se juntaram num grupo heterogéneo com um único objectivo: combater o jardinismo e instaurar um regime democrático na Madeira, o 25 de Abril que nunca chegou".
Baltazar Aguiar, líder do PND e cunhado do seu fundador, Manuel Monteiro(que já não está no partido), explica a estratégia: "Os partidos são palcos institucionais montados, [cujas] estruturas possibilitam a entrada de pessoas." A ideia de aproveitar esta sigla partiu de Aguiar, do também advogado António Fontes, do ecologista Gil Canha e de Eduardo Welsh, membro de uma das mais abastadas famílias inglesas radicadas na ilha, constituindo-se como os "quatro cavaleiros do apocalipse" madeirense. "Somos todos de direita e centro-direita, por isso procurámos alguém de esquerda que viesse equilibrar as coisas", diz Aguiar. É aqui que, em 2007, entra um pintor da construção civil. "Estava na redacção do Garajau, quando entra um indivíduo desconhecido, com a camisa toda ensanguentada, a queixar-se da brutalidade de uma busca policial à sua casa. Procurou-nos, porque a imprensa regional não quis dar eco à sua queixa", conta Gil Canha, então director daquele mensário satírico de combate ao jardinismo. Era José Manuel Coelho, então alvo de investigação por suspeita de distribuir o panfleto periódico Democratas de Gaula, com denúncia de casos de alegadas corrupção e promiscuidade em Santa Cruz, município que teve um dos dois presidentes de câmara (Luís Gabriel), entre 11 existentes no arquipélago, condenados a pena de prisão efectiva por crimes de corrupção e peculato.
Desde então Coelho e os três principais mentores do Garajau (Aguiar, Canha e Welsh) uniram-se, sob a bandeira do PND, com o objectivo de "podar o jardim" - slogan usado nas regionais antecipadas de Maio de 2007 - e contribuir para a alternância política na Madeira. Concorreram pela primeira vez nessas eleições, quando Jardim, a pretexto da entrada em vigor da nova lei que regulava com maior rigor o relacionamento financeiro entre o continente e a região, se demitiu. Com dois mil votos (2,08 por cento), menos de um terço dos subscritores da candidatura, Coelho tornou-se depois deputado regional, substituindo Baltazar Aguiar, que abandonou o Parlamento quando Jardim, em vésperas da visita oficial do Presidente da República à Madeira, chamou "bando de loucos" à oposição, cujos representantes Cavaco Silva recebeu no hotel, em breves audiências não incluídas no programa, de que não constou a tradicional sessão de boas-vindas na Assembleia Regional.
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