domingo, 15 de novembro de 2015

Quase como em 1986: “Contra Passos, apoiar Costa”


Quase como em 1986: “Contra Passos, apoiar Costa”

Isto aconteceu nos anos da brasa pós-25 de Abril: se havia coisa que Álvaro Cunhal detestava absolutamente em Mário Soares era o facto de os dois estabelecerem entendimentos – e cinco minutos depois já Soares estar a dar publicamente o dito por não dito.
Anos depois, o líder histórico dos comunistas até estabelecia o contraste referindo Ramalho Eanes (que apareceu no primeiro plano da política portuguesa afirmando-se contra o PCP, ao liderar militarmente o 25 de Novembro de 1975). Este, dizia Cunhal, era um homem de palavra, apesar de os dois se terem começado a relacionar em lados opostos da barricada.
Soares foi para o PCP nos anos 40 pela mão de Cunhal mas depois rompeu. Só voltaram a estar do mesmo lado da barricada em 1986, quando na segunda volta das presidenciais Cunhal fez o PCP votar em Soares para presidente da República, elegendo-o e derrotando o candidato da direita Freitas do Amaral. “Contra Freitas, votar Soares” – foi o slogan então usado com grande eficácia pelos comunistas. Um pouco à semelhança do que hoje Jerónimo diz: “Contra Passos, apoiar Costa.”
Os comunistas tendem todos a pensar que todos os socialistas são como Mário Soares: é preciso estar sempre de pé atrás. Mas há coisas que valorizam e que escapam aos olhos do cidadão comum. Exemplo: para um dirigente comunista da velha guarda não é nada irrelevante que o pai de António Costa, o escritor Orlando Costa, tenha sido comunista até morrer. Olham-no como um filho dos seus – e isso conta. Com os socialistas a relação é de desconfiança – e com os bloquistas de pura e simples irritação. Jerónimo de Sousa não a escondeu ao ver Catarina Martins revelar na opinião pública o que já fora acordado com o PS – mesmo antes de as negociações estarem formalmente encerradas. Se não houve cerimónia a três de assinatura dos acordos foi porque o PCP não quis – e não quis devido à irritação com o Bloco. No fundo, o PCP – que ainda hoje se afirma como um “partido de classe” – vê o BE como antigamente via o MRPP: meninos burgueses com talento para a propaganda e mais dispostos a estar do lado do povo do que no meio do povo.
Além do mais, separa-os uma visão da história: o caldo genético onde o Bloco se formou é anti-URSS. Os últimos anos, porém, ajudaram as duas formações a convergir. Nas questões “fraturantes”, os comunistas, conservadores, foram ao encontro das posições bloquistas; e nas questão da Europa, a crise da moeda única e das dívidas soberanas, transportou o Bloco para as posições que sempre foram as dos comunistas. (DN/Lisboa de hoje)



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Maria Antónia Palla Mãe de António Costa foi chefe de redacção do Século Ilustrado

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