Chile admite que Neruda pode ter sido assassinado por regime de Pinochet
Prêmio Nobel de Literatura morreu duas semanas depois de golpe de Estado de 1973
RIO — O governo chileno reconheceu que Pablo Neruda pode ter sido assassinado depois do golpe de Estado que levou o general Augusto Pinochet ao poder, em 1973. Em comunicado divulgado na última quinta-feira, o ministério do Interior e da Segurança Pública do país admite que considera a atuação de terceiros na morte do vencedor do prêmio Nobel de Literatura “claramente possível e altamente provável”.
Em carta enviada ao juiz que investiga a morte do poeta, emitida pelo Programa de Direitos Humanos do ministério, é indicado ainda quem apesar de Neruda sofrer de câncer de próstata, não foram tomados os procedimentos médicos e forenses para estabelecer a causa da morte na época.
Apesar desta constatação, o ministério destacou que as investigações ainda estão em curso e não há uma conclusão para o caso. "Dadas as persistentes dúvidas sobre a causa da morte de Neruda, o governo chileno, através do seu Programa de Direitos Humanos, estabeleceu dois painéis internacionais e interdisciplinares de especialistas — o último recentemente em outubro de 2015 —, para continuar realizando perícias que permitirão chegar a uma conclusão científica", diz o documento.
Pablo Neruda era mais conhecido por seus poemas de amor, mas também era um político de esquerda, diplomata e amigo próximo do presidente Salvador Allende, que cometeu suicídio para não se render às tropas durante o golpe de Estado de 11 de setembro liderado por Pinochet.
Apesar de ter sido diagnosticado com câncer pouco antes de morrer, o poeta, de 69 anos, pretendia ir para o exílio. Impressionado com a perseguição e assassinato de seus amigos, ele planejava continuar como uma voz forte de oposição à ditadura, mas fora do Chile.
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Um dia antes da viagem, no entanto, o escritor foi levado de ambulância para a clínica Santa Maria, em Santiago, onde recebeu tratamento médico para o câncer e outras doenças. Neruda, então membro do Comitê Central do Partido Comunista e personalidade mais importante da intelectualidade chilena, oficialmente morreu em 23 de setembro de 1973, supostamente de causas naturais. Mas as suspeitas de que a ditadura tem algo a ver com a morte dele persistem até hoje.
Sua morte foi tão controversa que seu corpo foi exumado para análise em 2013. A tese dos que acreditam no assassinato é que uma injeção de substâncias não determinadas foi aplicada no abdômen do poeta. O motorista de Neruda, Manuel Araya, garantiu em várias ocasiões que o Nobel recebeu uma injeção fatal aplicada por agentes da ditadura que se infiltraram na clínica. Contudo, investigações anteriores não puderam comprovar o suposto envenenamento. Agora, o juiz que investiga o caso solicitou novos exames para detectar substâncias que não foram procuradas da primeira vez.
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