domingo, 8 de janeiro de 2017

Os elogios fúnebres a Mário Soares, não podem reescrever a história

 Numa vida política tão prolongada e com um trajecto tão contraditório como a de Mário Soares nem todos os aspectos serão negativos. Mas, se se pretender nesta altura fixar o seu lugar na história, há um facto que para o nosso povo e o nosso país é mais relevante do que qualquer outro. 


 Se o 25 de Abril de 1974 constitui o mais importante acontecimento da nossa história até hoje, Mário Soares deve ser recordado como um dos seus mais destacados e encarniçados adversários. Vasco Gonçalves e Álvaro Cunhal identificam nele o principal responsável pela contra-revolução portuguesa. 

 Deve ser recordado como alguém que, desde o primeiro dia, apostou em que a revolução de Abril não superasse os limites de uma revolução burguesa. Em que a conquista da liberdade política não trouxesse consigo as transformações económicas, sociais e culturais que garantissem que, com o derrube do regime fascista, os trabalhadores e o povo português viessem a abrir o caminho de uma sociedade não apenas liberta da opressão mas igualmente liberta da exploração, da desigualdade, da dependência e do atraso, os povos das colónias portuguesas conquistassem a efectiva independência nacional.Essa perspectiva alarmou o grande capital nacional e transnacional. Mário Soares assumiu-se como um dos intérpretes políticos centrais desse alarme. Conspirou, aliou-se e foi apoiado pelos mais reaccionários sectores da direita e do imperialismo. 

 Trabalhou incansavelmente para dividir as forças progressistas civis e militares. Fez suas as palavras de ordem mais reaccionárias, foi o porta-voz do mais rasteiro e fanático anticomunismo. Não houve golpe contra-revolucionário em que não estivesse directa ou indirectamente implicado, não apenas em Portugal mas também em África. Deu cobertura e justificação política à ofensiva terrorista da extrema-direita. Contido o fluxo revolucionário com o golpe de 25 de Novembro de 1975 (em que esteve à beira de desencadear uma guerra civil) Mário Soares assumiu, como primeiro-ministro, a tarefa de destruir e inverter, a partir do governo, as grandes transformações entretanto desencadeadas pela espantosa criatividade revolucionária das massas em movimento: a Reforma Agrária, as nacionalizações, os direitos dos trabalhadores e das populações. Acordou com a direita sucessivas revisões constitucionais procurando retirar da Constituição as garantias de defesa das conquistas revolucionárias. Culminou a sua nefasta acção destruidora com o processo de adesão à CEE, instrumento decisivo de submissão de Portugal ao grande capital transnacional.É nestes termos que Mário Soares marca as décadas de 70 e 80 do século passado no nosso país. Décadas de desencadeamento da política de direita, décadas de retrocesso social e democrático, décadas de subalternização e dependência nacional. (diario-info)






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