Estamos no século XIX, no tempo em que o adultério era um crime e as prisões eram depósitos de suspeitos, que por ali ficavam a aguardar julgamento. A espera podia ser de anos, alguns acabavam esquecidos mas, para a justiça daquele tempo, a perda da liberdade não era castigo. As portas fechavam-se sobre vidas amontoadas em celas, com poucas ou nenhumas condições.
Na cadeia da Relação do Porto tudo era ainda mais miserável: enxovias frias, húmidas e sujas, com as latrinas a largarem um fedor que se respirava nas ruas. Uma dura realidade que o maior escritor do romantismo português, detido durante mais de um ano nesta prisão, há de narrar na primeira pessoa, nas “Memórias do Cárcere”.
Quando a paixão juntou Camilo e Ana Plácido, os dois sabiam que podiam cair em desgraça, por ser ela senhora casada, em violação dos deveres conjugais. Em 1860 foram detidos e pronunciados por adultério, ficando ela no pavilhão das mulheres, e ele no piso privilegiado destinado a ilustres e bastados, conhecido como os “quartos da Malta”. Um ano depois eram declarados inocentes e libertados.
Nesse período, o escritor – que também era jornalista -, ouviu da boca dos outros reclusos histórias terríveis relacionadas com os crimes que teriam cometido. Depois de deixar a cadeia, onde escreveu
“Amor de Perdição”, romance que mais o celebrizou, decidiu que estes testemunhos e a sua experiência prisional mereciam ser contados em livro, ” um retrato humano de sofrimento” e “o melhor testemunho do que eram as cadeias oitocentistas em Portugal”, como é referido no vídeo que aqui trazemos.
Entre os episódios relatados em dois volumes, Camilo refere a visita do rei D. Pedro à cadeia que, escandalizado com as condições deprimentes, terá no fim exclamado: “Isto precisa de ser completamente arrasado!”. Faltou dinheiro para dar seguimento à vontade régia, fizeram-se apenas algumas obras e a cadeia resistiu até à revolução de abril de 74., altura em que foi desativada.
O edifício, construído em finais do século XVIII, é agora a sede do Centro Português de Fotografia. Mas a cela onde Camilo Castelo Branco ficou preso permanece memória viva.
Para ver e acompanhar https://mamadeiralaranja.blogspot.pt
ResponderEliminarOlhem o "mamadeira laranja" calado desde 2016, acordou hoje para dizer coisas do "betinhos" atual secretário regional da agricultura!
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