PSP confirma suspensão de Manuel Morais
por chamar “aberração” a André Ventura
Direcção da PSP considera
que o agente violou
“deveres funcionais”.
Manuel Morais vai
recorrer da decisão
Manuel Morais é um activista
anti-racismo
O director-nacional da PSP, Magina
da Silva, confirmou a suspensão de
dez dias do agente Manuel Morais —
conhecido pelo seu anti-racismo —
por ter escrito no Facebook pessoal
que o deputado da extrema-direita
André Ventura era uma “aberração”
e por afirmar: “Decapitem estes
racistas nauseabundos que não
merecem a água que bebem”. Ao
PÚBLICO, o advogado de Manuel
Morais disse que vai recorrer ao
ministro da Administração Interna,
Eduardo Cabrita, antes de recorrer
ao Tribunal Administrativo, para
revogar a decisão.
O recurso não tem efeito suspensivo. Manuel Morais será impedido, a
partir do dia seguinte à notificação
— hoje —, de exercer funções durante
dez dias e de aceder ao seu posto de
trabalho, tendo de entregar a arma.
Se a decisão for revogada, é-lhe reposto o salário e os dias voltam a contar
para efeitos de antiguidade.
Os comentários foram feitos num
post datado de 14 para 15 de Junho de
2020, que alguém denunciou anonimamente ao gabinete de imprensa da
PSP. No despacho de punição conduzido pelo núcleo de deontologia da
Unidade Especial de Polícia, e que foi
agora confirmado por Magina da Silva, a PSP considerou que Manuel
Morais violou “deveres funcionais”.
A pena podia ir de cinco a 120 dias.
Manuel Morais, um conhecido
agente da PSP anti-racismo, activista
pelos direitos humanos, alega ter proferido as afirmações como cidadão e
não como polícia. Não foi esta a primeira vez que os seus comentários
contra o racismo lhe trouxeram punições dos seus pares. Depois de 30
anos como dirigente na Associação
Sindical de Profissionais de Polícia
(ASPP), em 2019, Manuel Morais foi
afastado por causa das suas denúncias sobre racismo na PSP.
Ao princípio da noite, a PSP informou que de 2019 até agora foram
concluídos (com decisão de sanção
disciplinar), ou encontram-se em instrução, 11 processos disciplinares
“por condutas ou comentários públicos considerados discriminatórios e
impróprios”. Desses, apenas um
cumpriu uma pena de 30 dias de suspensão, outro tem a pena em execução pelo mesmo período e um terceiro, Manuel Morais, está em cumprimento de pena. A suspensão de
Manuel Morais motivou, aliás, a ida
da inspectora-geral da Administração
Interna (IGAI), Anabela Cabral Ferreira, ao Parlamento há cerca de uma
semana, a pedido do PCP.
No processo a que o PÚBLICO teve
acesso, Manuel Morais esclareceu que
“em momento algum quis ofender ou
decapitar alguém no verdadeiro sentido da palavra”, mas apenas “transmitir que é necessário decapitar as
ideias racistas que prejudicam a sociedade em geral”. Justificou que “não se
queria referir em concreto à pessoa
André Ventura, mas sim a muitas
ideias que o mesmo já expressou publicamente”. E refere que apagou
a publicação para “não gerar mal-entendidos”. Tentou contactar com
André Ventura “para esclarecer que
não lhe desejava mal e pedir desculpas caso a sua publicação o tivesse
ofendido”, mas não conseguiu.
Afirmou-se “arrependido da forma
como se expressou” e disse que “em
momento algum ofendeu o sr. deputado, não lhe desejou a morte, nem
lhe chamou racista”. Explicou ainda
que, quando referiu para “se decapitarem os racistas era no contexto em
que várias estátuas estavam a ser vandalizadas”, “tentando mostrar que
era errado destruir o nosso património histórico, cortando as cabeças às estátuas, e que seria melhor acabar
com o racismo, ou seja, decapitar o
racismo”.
Manuel Morais apresentou como
testemunhas abonatórias o ex-ministro da Administração Interna Rui
Pereira, Ana Gomes e o juiz António
Colaço, e pôs em causa a decisão, alegando que violava a liberdade de
expressão, a igualdade e a proporcionalidade. A PSP teve outro entendimento: “Publicando comentários
depreciativos sobre um deputado da
Assembleia da República, consubstancia a violação do dever de prossecução do interesse público”, violando
o “dever de aprumo” e o “dever de
correcção”.
Suspenso é pouco.
ResponderEliminar