segunda-feira, 22 de janeiro de 2018

Arnaldo Matos recorda com saudade o seu amigo José "Couto" recentemente Falecido

Sobre a morte de um homem afectuoso, dedicado e inesquecível...

"Morreu o José CoutoOs últimos três dias foram para mim dias sinistros. Além do António Russo Dias, meu velho amigo e colega de curso em Lisboa, morreu-me também ontem, com setenta e sete anos de idade, o meu grande amigo Zé Couto, colega de instrução primária na escola de Santa Cruz, na Região Autónoma da Madeira.

Zé Couto foi para mim um autêntico irmão toda a vida, afectuoso, dedicado e inesquecível. O seu nome verdadeiro era José da Nóbrega Nunes, - Zé Couto, para toda a gente – filho do Ti Couto, camponês pobre com uma dúzia de filhos às costas, trabalhando terras no regime de exploração medieval da colónia.
Quando por Março e Abril a Primavera trazia a safra da cana do açúcar, Ti Couto virava temporariamente operário na fábrica de açúcar do Hinton, ao Torreão, no Funchal. Naquele ano meteu no trapiche um molho de canas e a mão direita, que o comandava, e ficou Ti Couto para toda a vida. Os filhos herdaram todos, homens e mulheres, o apelido para sempre: o Zé Couto, a Maria Couto…
Rapaz com uma inteligência fulgurante e a memória de um cachalote, Zé Couto não sabia estudar pelos livros, pois em sua casa nunca houvera livros, razão por que eu tinha de lê-los para ele, para então ele decorar o que eu lhe lia. E aprendeu assim história, tabuada, leitura e poesia, tudo de cor, porque, como já sublinhei, a sua memória era prodigiosa.
Zé Couto fez a quarta classe, trabalhou as terras de colónia com o Ti Couto, e passou, mais tarde, a comprar e a vender peixe na lota e no mercado de Santa Cruz. Era sempre o melhor peixe de todo o mercado. As jovens gerações da Madeira vão passar a vida a sonhar com as chernes e as espadas e o atum rabilho do Zé Couto.
Incorporou sempre as listas eleitorais do PCTP/MRPP no concelho de Santa Cruz e na Região Autónoma da Madeira.

Morreu há dois dias e foi a enterrar ontem no cemitério de São Martinho, na cidade do Funchal.

Nunca te esqueceremos, camarada!"
21JAN18

Arnaldo Matos  (ver Luta popular)


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