O padre anticomunista morreu ontem em Fátima
Óbito. Era o padre mais influente e mediático de Braga, mas tinha notoriedade fora da cidade dos arcebispos. Encontrado morto no quarto, alegadamente por causas naturais, o sócio 310 do Sporting de Braga ficou conhecido pela luta contra o PCP, a quem chamava "inimigo da Pátria", no pós-25 de Abril
Figura controversa da sociedade portuguesa, admirador de Salazar e feroz opositor do regime comunista no período pós-25 de Abril de 1974, apontado como um dos envolvidos na morte do padre Max, o cónego Eduardo Melo morreu ontem, aos 80 anos, alegadamente por causas naturais. Monsenhor Eduardo Melo Peixoto foi encontrado morto no seu quarto da Casa Nossa Senhora do Carmo, em Fátima, onde iria participar num encontro de cursilhos da Cristandade. O corpo foi enviado para o Instituto de Medicina Legal de Tomar, sendo posteriormente transladado para a Sé de Braga, onde será velado em câmara ardente.
Poucos dias antes da divulgação do seu livro de memórias, morre o padre mais influente e mediático da diocese de Braga, apesar da notoriedade se reflectir fora da cidade dos Arcebispos - onde é um dos poucos condecorados com a medalha de ouro. Durante o verão quente de 1975 foi uma das faces da luta contra "os inimigos da Pátria", o PCP, que à data tentava implantar o comunismo em Portugal. Chegando a ser referenciado como "padre-bombista", o que sempre negou, são dessa altura as supostas ligações ao MDLP - Movimento Democrático de Libertação de Portugal, então ligado ao general António de Spínola, cujos elementos terá escondido num seminário de Braga mas que acabaram por ser interceptados pelo Copcon, do Movimento das Forças Armadas.
Padre Max foi morto há 44 anos: “O sacerdócio é para servir o povo e não servir-se do povo”
Neste dia 2 de Abril, completam-se 44 anos que o padre Maximino Barbosa de Sousa, conhecido como Padre Max (1943-1976), foi assassinado próximo de Vila Real, juntamente com Maria de Lurdes Pereira, por meio de uma bomba colocada no carro.
Residente em Vila Real, dirigia-se, com essa jovem, para a Cumeeira ou para Santa Marta de Penaguião, perto de Vila Real, para dar aulas de alfabetização. No início da viagem de regresso, a bomba deflagrou.
O Padre Max era filho de emigrantes e regressara a Portugal anos antes. Já antes do 25 de conhecido como um padre empenhado a defender as causas populares e sensível às injustiças. As suas missas em Vila Real eram muito frequentadas pelos estudantes. Partiu para Lisboa e tirou o curso superior de Românicas, na Faculdade de Letras. Foi professor em Lisboa, Setúbal e depois no liceu de Vila Real. Foi candidato pela UDP (União Democrática Popular) à Assembleia Constituinte, pelo círculo de Vila Real.
O advogado, Mário Brochado Coelho, teve de esperar mais de 20 anos para este caso ser julgado. Houve grande resistência por parte de Justiça portuguesa. Foram apresentados cinco arguidos, mas não houve provas suficientes para condenar nenhum. No entanto, o advogado dedicou muito tempo para inquirir acerca do processo e declarou: “Mataram premeditadamente o Padre Max, mesmo sabendo que levava uma jovem, o que é típico da extrema-direita.” Lamentou que “os autores morais se tenham mantido escondidos por trás da cobardia que lhes é habitual”.
Em Vila Real, os estudantes fizeram uma marcha silenciosa em honra das vítimas e o funeral levou muita gente. Até o comércio e os serviços públicos fecharam.
No livro O Puto, Autópsia dos Ventos da Liberdade, do jornalista Ricardo Saavedra (Quetzal, 2014), Manuel Couto Viana fala acerca desse facto. Era chamado “o puto”, sendo o seu nome de guerra “comandante Paulo”. O livro conta as aventuras de guerra deste homem, em África, em Angola. Chegou a Portugal após o 25 de Abril e foi apresentado, como ele diz, a “indivíduos ligados ao MDLP [Movimento Democrático de Libertação de Portugal] e ao ELP” [Exército de Libertação de Portugal, grupos de extrema-direita então existentes no país]. Seguindo o relato do livro citado, este homem, acompanhado de outro, chegou a Vila Real e juntaram-se-lhes mais dois homens. Qual era a razão do encontro?
“(…) o objectivo era o carro de um padre comunistóide de Trás-os-Montes que usava boina à Che e, embora fosse professor, precisava de lição à antiga, um susto à maneira; (…) dois deles …encaminharam-se para o Simca 1000 (…) A porta de trás do lado do pendura, contra o previsto, nem sequer estava trancada. O embrulho com o engenho, previamente regulado para explodir três horas e meia depois do presumível arranque, foi pousado no chão (…) e a porta fechada sem barulho.”. Tal como os quatro homens tinham previsto, o padre saiu do liceu, onde estava a dar aulas à noite, esperou uns momentos pela acompanhante e seguiram viagem.
Num artigo escrito pela jornalista Carolina Reis, no semanário Expresso de 14 de Dezembro de 2019, com declarações de Diogo Pacheco de Amorim, vice-presidente do partido Chega, é referido o assassinato do Padre Max e Maria de Lurdes Pereira. A jornalista escreve que se atribui ao MDLP “a responsabilidade do ataque à bomba que matou o padre Max e Maria de Lurdes Pereira”. Diogo Pacheco de Amorim rejeita esse tipo de acções: “(…) Era uma altura conturbada e o país estava à beira de uma guerra civil. É natural que tenha havido excessos dos dois lados, também da extrema-esquerda; mas julgo que foram atos isolados e feitos à revelia do gabinete político do MDLP, em Madrid, onde eu colaborava na altura. (…) O comandante Alpoim Galvão é que era o chefe operacional da secção militar.”
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